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Tarot: A Rota ou Roda das Experiências das civilizações antigas

O que é o Tarô

  Constantino K. Riemma em http://www.clubedotaro.com.br/

tarot ou arcanos maiores e menores ou baralho ou cartas de jogar ou naipes e trunfos, consistem numa única e mesma coisa. Trata-se de um jogo de 78 cartas, que se difunde a partir da segunda metade do século 14, na Europa cristã, com iconografia cristã.

Não dispomos de registros históricos que indiquem alguma escola ou corporação de ofício que tenha criado esse conjunto ou feito adaptações de jogos tradicionais anteriores. Tudo indica que ganhou a forma que hoje conhecemos pelas mãos de artistas e artesões que tinham conhecimentos e habilidades adquiridas entre os edificadores dos palácios e igrejas no período pré-renascentista, bem como suas pinturas, imagens e vitrais.

É importante lembrar, do ponto de vista histórico, que existe um exemplar de baralho com 52 cartas, anterior às versões que hoje conhecemos. Trata-se do baralho Mamlûk, utilizado pelos guerreiros mamelucos e que, evidentemente, tiveram suas cartas copiadas pelos impressores europeus. Continua uma incógnita, até hoje, quais foram os autores dos 22 trunfos (arcanos maiores) agregados ao modelo do baralho mameluco.

Dada sua origem anônima, isenta de instruções e regras dogmáticas, esse jogo de cartas deu margem a incontáveis fantasias e re-invenções mais ou menos arbitrárias. Desde seu aparecimento foi utilizado por nobres e plebeus, para jogos, passatempos e, ao que tudo indica, como instrumento de mancias.

O cenário imaginativo que cerca o Tarô, profuso e contraditório, confunde o iniciante interessado em compreender sua linguagem simbólica. Esse jogo maravilhoso, portanto, representa um real desafio para o estudo.

Se dependêssemos, por exemplo, apenas dos dicionários para saber o significado do Tarô, teríamos informações muito pobres e distorcidas. O Aurélio é lacônico: “Tarô. Coleção de 78 cartas, maiores que as do baralho, de desenho diverso, usadas sobretudo por cartomantes”. Essa definição revela o desconhecimento de que “tarô” e “baralho” vêm da mesma fonte e, também, de que as 78 cartas não ficam apenas em mãos de cartomantes e são objeto de estudos simbólicos e aplicações terapêuticas, de elaborações de pintores e artistas gráficos.

Os dicionaristas esqueceram, ainda, de informar que a parte do tarô, que constitui o baralho comum, é também utilizado por cartomantes e, igualmente, como fonte de lazer nos lares, nos clubes e cassinos. São produzidos no mundo todo e movimentam milhões de dólares.

O dicionário Houaiss oferece um pouco mais: “Tarô. Conjunto de 78 cartas de baralho (também ditas lâminas) ilustradas por figuras simbólicas e usado para supostamente predizer o futuro e conhecer o que, no passado ou no presente, se encontra velado. O baralho é constituído de 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores“. Neste caso, os dicionaristas desconheciam que, na prática vigente até hoje, grande número de cartomantes utilizam o baralho comum e não as versões mais caras e variadas conhecidas como “tarô”.

O Louco, 1. O Mágico, 4. O Imperador, 6. Os Enamorados e 19. O Sol.
Arcanos Maiores do Tarô de Marselha, Editora Camoin

Para continuar nessa linha genérica de definição, podemos esclarecer que:

• os 22 trunfos ou arcanos maiores são numerados de 1 a 21 e um deles, O Louco, não recebe número na maior parte dos baralhos;

• as 56 lâminas, atualmente denominadas arcanos menores, constituem cartas de jogar do baralho comum e se subdividem em:

 – quatro naipes ou séries: PausOurosEspadas e Copas – cada um deles com 10 cartas numeradas de 1 a 10, com desenhos que tornam os significados simbólicos mais abstratos que os dos “arcanos maiores”, num total de 40 cartas;

Ás, Dois, Três… Nove e Dez de Copas.
Arcanos Menores no Tarô de Marselha, Ed. Grimaud

 – quatro figuras: Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete – mais parecidas com as dos “arcanos maiores”, também repetidas em quatro naipes, num total de 16 cartas. São também conhecidas como cartas da corte.

Para acrescentar um simples comentário a essa descrição sumária do Tarô, podemos lembrar que os quatro naipes – PausOurosEspadas e Copas – correspondem aos quatro elementos tradicionais – FogoTerraAr e Água – representação simbólica das forças-qualidades constitutivas do universo, que aparecem na Astrologia, na Alquimia, na Cabala, nos textos sagrados, como é o caso do Gênesis, dos Evangelhos.

Os ases e suas correspondências simbólicas com os quatro elementos:
Copas (água), Espadas (ar), Ouros (terra) e Paus (fogo) no Tarot de Mitelli – 1665

Um sentido esotérico…

O Tarô pode, enfim, ser entendido como uma linguagem simbólica que traduz o cosmo em sua constituição e eterna mudança, em sua estrutura e dinâmica. Ele aparece na Europa, num momento em que várias escolas esotéricas e corporações de artistas, buscavam transmitir conhecimentos, não por palavras, mas por imagens que convidavam à reflexão, à investigação, para serem corretamente assimiladas. É o caso, por exemplo, dos mestres e praticantes da Alquimia, que produziram livros de gravuras, sem maiores comentários por escrito, conhecidos como Mutus Liber, ou seja, Livro Sem Palavras, livro mudo…

Os 22 arcanos maiores, entre outros significados possíveis, descreveriam as 21 etapas evolutivas que o homem – representado pelo Louco – pode percorrer em sua vida. O número 21 (= 3 x 7) também resulta da combinação de duas leis fundamentais do universo: a Lei de Três (“tudo, para existir, necessita de três forças”) e a Lei de Sete, ou Lei das Oitavas (“tudo se manifesta num processo de sete passos ou fases”).

Do mesmo modo que outros grandes sistemas simbólicos, o Tarô é apreciado como uma instigante fonte de inspiração e de aplicação em variadas situações e propósitos.

… e um sentido lúdico

Os registros históricos, a partir do século 14, mencionam a utilização das cartas apenas como fonte de lazer, em jogos e passatempos. Essa função lúdica permanece viva até hoje, pois o que chamamos de jogos de baralho ou baralho comum, é exatamente o mesmo conjunto que os escritores modernos denominam arcanos menores.

Para mantermos uma atitude aberta em relação ao Tarô é bom não esquecer que esse conjunto simbólico sobreviveu até hoje e se difundiu, não em razão do seu sentido mais profundo, mas pelo interesse que despertou como jogo de lazer ou de apostas a dinheiro e, também, como instrumento de cartomancia.

Tal como um verdadeiro Mutus Liber, o Tarô não veio acompanhado de normas ou dogmas, para ser utilizado obrigatoriamente deste ou daquele modo; todas as regras que hoje conhecemos foram inventadas posteriormente. Portanto, as normas e regras de utilização que lemos e ouvimos, as afirmações do que é certo ou errado, devem ser compreendidas de modo muito relativo e flexível. Os verdadeiros autores do Tarô, aqueles que sabiam do que se tratava, permaneceram anônimos e sem palavras. Ninguém, hoje em dia, pode se arvorar em autoridade para falar em nome dos mestres originais.

O Tarô permance um desafio em aberto. O que podemos fazer é nos associarmos para tentar decifrar os símbolos e ensinamentos que se ocultam sob o conjunto das 78 cartas. E para fugir aos erros da subjetividade, nada melhor que trabalhar em grupo, partilhar, colocar à prova nossas reflexões. É esse o propósito do Clube do Tarô.

Outros modos de ver e de aplicar as cartas

  • “Manual do Proprietário” do Tarô. Uma visão de conjunto, com informações simples e esenciais, que Constantino K. Riemma apresenta em seus cursos de iniciação : O jogo de cartas

  • O que é o Tarô. Um texto de Valéria Fernandes para explicar em termos bem compreensíveis os conjuntos das carta : Apresentação do Tarô

  • Plurilinguagem tarológica: bem-vindo ao caos simbólico! Comentários de Giancarlo Kind Schmidsobre as múltiplas e contraditórias formas de entender o tarô : Visões e Significados

  • Baralho – um coringa ao longo do tempo. Artigo de Marina Suassuna, muito bem pesquisado e publicado na revista Continente : Cartas na mesa! A apaixonante história do baralho

  • Modos & Estilos de utilização das cartas. Seção com dezenas de links para artigos que apresentam as múltiplas aplicações simbólicas e terapêuticas do baralho : Modos & Estilos

Origens do Tarô: referências históricas do séc. 14

É para a Europa, especificamente o norte da Itália, que devemos nos voltar para encontrar as primeiras manifestações do jogo do 78 cartas que hoje conhecemos pelo nome de Tarot. E, a julgar pelos mais antigos exemplares conservados, as mudanças sofridas ao longo do tempo foram muito menores do que se poderia esperar: os quatro naipes conhecidos hoje são os mesmos dos jogos italianos desde sempre: Copas, Espadas, Paus e Ouros. Além das dez cartas numéricas, as figuras são em número de quatro, para cada naipe: um rei, uma rainha (ou dama), um cavaleiro e um valete. Restam ainda 22 cartas especiais que, de certo modo, formariam um quinto naipe e que os documentos italianos denominam de trionfi (trunfos) e, os franceses, atouts, com o mesmo sentido de trunfo, ou seja, de cartas que se sobrepõem às demais.

Cada um dos vinte e dois arcanos maiores do Tarô permitem paralelos com Alquimia, Astrologia, Sufismo, Cabala, Mística Cristã

Restaram inúmeras cartas de tarô pintadas à mão, do século XV. São os mais antigos legados históricos, que estão sob guarda de museus ou em posse de colecionadores.

Registros concretos

Não se sabe ao certo a origem das cartas do baralho tradicional. Nem se pode afirmar, com certeza, se o conjunto dos 22 trunfos ou Arcanos Maiores – com seus desenhos emblemáticos – e as muito bem conhecidas 56 cartas dos chamados Arcanos Menores – com seus quatro naipes – foram criados separadamente e mais tarde combinados num único baralho, ou se, desde seu nascimento, tiveram a forma de um baralho de setenta e oito cartas.

Tudo indica que as 56 cartas do baralho comum foram copiadas do jogo difundido entre os guerreiros mamelucos. Os autores da adição das 22 cartas, hoje denominadas “arcanos maiores” entre os tarólogos, permanecem desconhecidos.

Existe, no entanto, um ponto de concordância entre a maior parte dos estudiosos: raros imaginam que se trataria de alguma manifestação ingênua de “cultura popular” ou de “folclore”. Ao contrário, a abstração das 40 cartas numeradas, bem como as evocações simbólicas dos trunfos, permitem associações surpreendentes com inúmeras outras linguagens simbólicas. Sugerem uma produção muito bem elaborada, um trabalho de Escola.

Entre os mais antigos exemplares, encontra-se o célebre jogo pintado para a família Visconti-Sforza, de Milão, que pode datar dos anos 1430-50.

De outro conjunto, conhecido por “Tarot de Charles VI”, restaram 17 cartas, conservadas na Biblioteca Nacional de França, que parecem datar da segunda metade do séc. XV.

A maior parte dos estudiosos considera os 22 trunfos – atualmente denominados “arcanos maiores” – uma criação do norte da Itália, como atestam as cartas do Tarot Visconti Sforza.

Já as dúvidas aparecem quando se trata do conjunto das cartas numeradas – atualmente conhecidas por “arcanos menores” ou “baralho comum” –, que teriam sido levadas pelos gurreiros mamelucos à Europa durante a Idade Média. Existem menções às “cartas sarracenas” em registros do séc. 14. Veja, por exemplo, o artigo: O Tarô Mamlûk.

A carta ao lado é do baralho sarraceno ou Mamlûk, contemporâneo ou pouco anterior ao Visconti Sforza.

Anteriores às lâminas apresentadas acima, encontramos apenas referências a um “jogo de cartas”. É bastante citado, nos estudos de Tarô, o relato de Johannes, monge alemão de Brefeld, Suíça: “um jogo chamado jogo de cartas

(ludus cartarum) chegou até nós neste ano de 1377, mas declara expressamente não saber “em que época, onde e por quem esse jogo havia sido inventado”. Sobre as cartas utilizadas, diz que os homens “pintam as cartas de maneiras diferentes, e jogam com elas de um modo ou de outro. Quanto à forma comum, e ao modo como chegaram até nós, quatro reis são pintados em quatro cartas, cada um deles sentado num trono real e segurando um símbolo em sua mão”.

Há outra menção, ainda no século XIV, embora não tenha restado exemplar algum das referidas cartas: nos livros de contabilidade de Charles Poupart, tesoureiro de Carlos IV, da França, existe uma passagem que declara que três baralhos em dourado e variegadamente ornamentados foram pintados por Jacquemin Gringonneur, em 1392, para divertimento do rei da França.

Variantes

Numa composição diferente, com 50 cartas divididas em 5 séries de 10 cartas cada, existem vários exemplares do jogo chamado Carte di Baldini (c. 1465), também conhecido como Tarocchi de Mantegna, nome de um um importante pintor do norte da Itália no séc. XV.

As 50 lâminas do Tarô de Mantegna (c.1465) têm um fino acabamento gráfico.
Suas 5 séries de 10 cartas, porém, não mantêm equivalência nem com seu contemporâneo Visconti-Sforza, nem com o que hoje se denomina Tarô Clássico.

Alem de estruturas diferentes, exemplificada com o Tarô de Mantegna, existem inúmeros exemplos posteriores de acréscimo de cartas – como é o caso do I Tarocchi Classici – e também de cortes e supressões que acabaram por originar jogos reduzidos que se tornaram populares: Baralho Petit Lenormand, também conhecido como Baralho Cigano.

Estudos históricos

  Estudos dos símbolos da Europa Medieval que se estendem até o Renascimento são muito elucidativos para quem deseja compreender a essência do Tarô, em particular dos arcanos maiores:

  • A escada mística do TarôAndrea Vitali oferece um belo e consistente texto que remonta às fontes medievais – cristãs e alquímicas – dos trunfos ou arcanos maiores. Uma referência segura para quem busca os fundamentos simbólicos das cartas, traduzida por Leonardo ChiodaHistória

  • A possível história das cartas de jogarBete Torii amplia o exame da origem do baralho e estabelece nexo com outros jogos tradicionais. Foi esse o conteúdo de sua palestra na abertura da Jornada com os Arcanos Menores, promovida de agosto a novembro de 2010: Origem e sentido

  • O herético no TarôRicardo Pereira faz um levantamento das versões que cercam o surgimento do Tarô na Europa, a partir do Grande Cisma Cristão (1054), sua possível relação com os templários, movimentos esotéricos e as restrições clericais às cartas: O herético no Tarô

  • A Roda da Fortuna: princípio e fim do homem. Boécio e Ramon Llull, por Ricardo da Costa Adriana Zierer. Um belo estudo acadêmico de História Medieval que revela significados ancestrais do símbolo da roda: Fortuna

  • Na seção sobre Baralhos podem ser obtidos outras informações históricas sobre os jogos antigos: MamlûkViconti SforzaCharles VIMantegnaJean Noblet

  • Veja mais indicações em Pesquisas históricas e estudos sobre o Tarô

História Moderna

  Estudos sobre readaptações das cartas e tendências modernas de abordagem do tarô

Hipoteses e paralelos sobre a origem das cartas

A origem do Tarô continua em questão e são muitas as teorias propostas. Na verdade, porém, nada existe de idêntico em outras culturas, pintado ou impresso em cartões, que pudesse ter estabelecido um modelo direto para o jogo de 78 cartas que vem à luz, na Europa, no final do séc. 14. E os desenhos mais antigos de cartas que chegaram até nós são coerentes com a iconografia cristã dessa época. Se essa afirmação vale em particular para os 22 arcanos maiores, não cabe inteiramente para o conjunto das 56 ou 52 cartas do baralho sarraceno, já mencionado no séc. 14.

Apesar desses desses dois indícios mais próximos cabe investigar a possível influência de outras culturas desse período histórico e, igualmente, o material resgatado de civilizações anteriores.

Alguns estudiosos mostram as analogias entre o Tarô e o antigo jogo indiano do Chaturanga, ou jogo dos Quatro Reis, que correspondem aos quatro naipes das cartas de jogar. A quadruplicidade, no entanto, é a representação de uma realidade universal que transcende os dois jogos em questão.

O Chaturanga, que data do séc. V ou VI, antecessor do moderno jogo de xadrez, originalmente tinha o Rei, o General (a Rainha moderna), seu Cavaleiro e os peões ou soldados comuns.

Não há, porém, indicações consistentes de como poderia ter ocorrido um caminho entre esse jogo e o Tarô.

Chaturanga

Cruzados ou árabes?

Há estudos que afirmam que as cartas de jogar foram levadas para a Europa pelos cruzados. Contudo, a última Cruzada terminou mais ou menos em 1291 e não existem referências que comprovem a presença de cartas de jogar na Europa até pelo menos cem anos mais tarde.

Uma justificativa para a origem sarracena das cartas é o nome espanhol e português naipe, que derivaria do árabe naibi. Também a palavra hebraica naibes se assemelha a naibi, o antigo nome italiano dado às cartas e, em ambas as línguas, a palavra indica bruxaria, leitura da sorte e predição. No entanto, não se encontram na história dos árabes e judeus referências ao jogo de cartas, anteriores aos século 15.

Esse tipo de restrição histórica, no entanto, não invalida a hipótese de uma criação ou re-criação “multi-tradicional” do Tarô. Sabemos que, em especial na Penísula Ibérica, sábios cristãos, árabes e judeus, mantiveram uma criativa convivência durante o período em que o Tarô dá sinal de vida.

Do ponto de vista das provas históricas, o que se pode afirmar com segurança é que osárabes utilizavam, já em meados do séc. 14, um baralho de 52 cartas, com estrutura idêntica aos que hoje conhecemos como “arcanos menores” ou “baralho”, cuja procedência, contudo, não está esclarecida.

Sobre o baralho sarraceno, veja:

  • O Tarô Mamlûk – o baralho árabe: apresentação de Bete Torii.

Origem cigana?

Hipótese muito difundida no Brasil, porém discutível do ponto de vista histórico, é a que associa a origem das cartas de ler a sorte aos ciganos provenientes do Hindustão.

Os registros disponíveis indicam que apenas no começo do séc. XV esse povo começou a entrar na Europa. Sabe-se que em 1417, um bando de ciganos chegou às proximidades de Hamburgo, na Alemanha; outros relatos situam os ciganos em Roma, no ano de 1422, e em Barcelona e Paris, em 1427. Há, porém, claras evidências de que os grupos ciganos só estenderam suas peregrinações para o interior da Europa depois que as cartas já eram conhecidas ali há algum tempo.

Povo nômade, recorria aos mais variados recursos e talentos para sobreviver. As mulheres particularmente utilizavam as artes mânticas para “ler a sorte” dos habitantes das comunidades que visitavam. Nessa área, a técnica tradicional mais importante parece ter sido a quiromancia (orientação e predição do futuro segundo as linhas e sinais das mãos) e, bem mais tarde, a cartomancia (utilização dos baralhos impressos na Europa). É esse um dos motivos pelos quais os ciganos ficam intimamente associados às cartas.

Embora afastados da tradição escrita e da arte de impressão das cartas os ciganos tiveram um grande papel na circulação e na difusão da cartomancia.

  • Os falsos ciganos e sua propaganda: É o tema que Abelard Gregorian discute em seu artigo “Fantasias cartomânticas e tarológicas”, aberto aos comentários.

Origem egípcia?

A hipótese da origem egípcia do Tarô foi aventada por Court de Gebelin em sua obra, Le Monde Primitif analysé et comparé avec le monde moderne, publicada a partir de 1775.

Gebelin foi um apaixonado estudioso da mitologia antiga e estabeleceu inúmeras correlações entre os ensinamentos tradicionais e as cartas do tarô que, segundo ele, seriam alegorias representadas em antigos hieróglifos egípcios.

Um ponto, no entanto, não pode ser esquecido: embora existam necessariamente similaridades entre as linguagens simbólicas mais consistentes, isso não quer dizer que tenha existido influência direta de uma sobre a outra.

O significado das correspondências entre linguagens simbólicas constitui um tema delicado. Nem sempre é possível chegar a uma conclusão, pois similaridades e correspondências não querem dizer, necessariamente, que tenha havido cópia ou simples adaptação de uma cultura nacional para outra.

Court de Gebelin (1725-1784)

A favor da correção intelectual de Court de Gebelin, é importante lembrar que as cartas utilizadas por ele continuaram a ser as do Tarô clássico. Ele não falsificou nem inventou um “baralho egípcio” para justificar suas hipóteses. Sómente após a publicação de seus estudos é que começaram a aparecer baralhos desenhados com os motivos egípcios, sem maiores compromissos com a história comprovável desse desafiador jogo de cartas.

Reprodução das cartas 17-Estrela, 18-Lua e 19-Sol, que acompanharam o famoso trabalho de Court de Gebelin, publicado em 1781.
Ele próprio não redesenhou o Tarô com motivos egipcios…

Seja como for, é com Gebelin que se inicia a divulgação de textos e de estudos que assinalam um sentido mais alto para o Tarô, como uma linguagem simbólica, como um meio de transmissão dos conhecimentos esotéricos, espirituais, que vai muito além de sua utilização como jogo de baralho.

  • Detalhes sobre os baralhos inspirados na iconografia egípcia estão em: Baralhos egípicios

  • Um bom artigo sobre Gebelin e seu papel na valorização esotérica e simbólica do tarô, foi elababorado por James W. Revak e traduzido por Alesander Lepletier em Antoine Court de Gébelin: pai do tarô esotérico modernoPastor, maçom e historiador

Múltiplas influências

Uma boa parte dos estudiosos da origem das cartas jogar e do Tarô reconhecem que não se trata de uma invenção casual. Indica claramente um fundamento simbólico que, para muitos, traduziria o significado e as propriedades do Cosmo, bem como o papel do homem na Criação. Seria produto de uma Escola (escola dos criadores de imagens da Idade Média, como sugere Oswaldo Wirth). Nessa direção de pensamento, o Tarô seria uma criação de Escolas francesas e/ou italianas, no final do séc. XII, sem qualquer relação com indianos ou chineses. A favor desse ponto de vista pesa o fato de não ter sido encontrados jogos iguais aos arcanos maiores em outras culturas.

Boa parte das imagens do dos arcanos maiores do tarô clássico guarda íntima relação
com a iconografia cristã presente nas catedrais góticas, construídas a partir do séc. XI

Há muitos estudos que apontam as relações entre o Tarô e Cabala. De fato, as 22 lâminas dos “trunfos”, ou “Arcanos Maiores”, são em igual número ao das letras do alfabeto hebraico e ao dos 22 “caminhos” ou conexões entre os sefirot do desenho simbólico denominado “Árvore da Vida”. As 40 cartas numeradas, dos Arcanos Menores, representam o mesmo número de sefiroth da “Escada de Jacó”, esquema resultante da superposição de quatro “Árvores da Vida”.

Tal constatação, porém, não exclui a hipótese de contribuições árabes, que tiveram um forte e prolongado impacto, através do sufismo, sobre a mística cristã, em particular na Península Ibérica.

Um período de ouro

Não é implausível, para alguns autores, imaginar o nascimento do Tarô por volta de 1180, período de grande força criativa na Europa, embora as primeiras menções registradas ocorram apenas duzentos anos após, em 1391. A razão para isso, segundo eles, seria simples: na origem, o Tarô não tinha a função lúdica de jogo de paciência ou de apostas em dinheiro, mas desempenhava o papel de estimular a reflexão pessoal sobre o caminho espiritual. Desse modo, ele não poderia ser mencionado como jogo de lazer nas crônicas da época.

“A essência do Tarô – escreve Kris Hadar – se funde de modo maravilho à mística que fez do séc. XII um século de luz, de liberdade e de profundidade da qual não temos mais lembrança. Nessa época, a mulher era mais liberada que hoje.”

É no correr desse período que são erigidas as catedrais góticas, em memória da elevação do espírito, e que aparece igualmente a busca de um ideal cavalheiresco que alcançará sua perfeição graças aos trovadores e o Fin’Amor, que colocará em evidência a arte de crescer no amor.

Para corroborar tal ponto de vista, pode ser lembrado que nesse mesmo período se desenvolvem os primeiros romances iniciáticos sobre os cavaleiros da Távola Redonda, a lenda do Rei Artur e a Demanda do Santo Graal.

Contemporâneo dos primeiros romances, o Tarô poderia ser considerado como um dos livros sem palavras (comuns na alquimia) para a reflexão e a meditação sobre a salvação eterna e a busca de Si, mesmo para quem não soubesse ler. Era uma porta aberta à verdade, tal como as catedrais, que permitiam aos pobres e aos ricos crescerem na comunhão com Deus.

“O Tarô” – afirma Kris Hadar – “é uma catedral na qual cada um pode orar para descobrir, no labirinto de sua existência, o caminho da Salvação”.

Paralelos do Tarô com outros jogos

Quando deixamos de lado as tentativas – algumas delas forçadas – de encontrar para o tarô uma origem necessariamente fora da Europa, em outras culturas e povos, abre-se um outro campo muito atraente para os estudos simbólicos.

Tal como foi mencionado mais acima, a propósito da similaridades entre o Tarô e o jogo indiano do Chaturanga, os estudos comparativos permitem reconhecer princípios básicos e universais que estão presentes em diferentes jogos criados em culturas diversas sem que houvesse um contato próximo entre elas, sem que uma expressão em dado contexto cultural tenha sido necessariamente copiado de outro. Podemos encontrar provas de que o conhecimento das leis primordias se revela por caminhos criativos e renovados.

Mais estudos: origens das cartas e paralelos com outros jogos

  • A escada mística do TarôAndrea Vitali oferece um belo e consistente texto que remonta às fontes medievais – cristãs e alquímicas – dos trunfos ou arcanos maiores. Uma referência segura para aqueles que buscam os fundamentos simbólicos das cartas, traduzida por Leonardo Chioda: História

  • Giancarlo Kind Schmid mostra o múltiplas utilizações dos jogos de tabuleiro e estabelece um paralelo com as aplicações das cartas de jogar, o Tarô: O lúdico e o divino – origem oracular

  • Bete Torii oferece um belo exemplo de analogias entre os jogos de dados e do dominó com o conjunto das cartas do Tarô: Alea jacta est

  • Jean-Claude FlornoyA simbólica dos arcanos: uma peregrinação da alma. Visão histórica do surgimento do Tarô e o modo como os arcanos traduzem as etapas de desenvolvimento do ser: Peregrinação

As lendas e o imaginário sobre o baralho

  No espaço pluralista e inventivo em que o tarô se manifesta, hipóteses, lendas e fantasias têm surgido nos últimos dois séculos. As diferentes e muitas vezes antagônicas versões traduzem claramente o intuito de valorizar e de dar peso e transcendência ao jogo de cartas.

  • Lendas egípcias. Quatro séculos após o aparecimento do baralho ao mundo europeu, Court de Gébelin difunde a hipótese de uma origem egípcia das cartas. Essa idéia ganhou grande aceitação popular, embora até hoje não se tenha encontrado qualquer exemplar de baralhos ou jogos similares nas tumbas de faraós e dignatários do antigo Egito. Veja acima: Origem egípcia?

  • Origem atlântica. Uma lenda de caráter sacedotal sobre a origem do baralho na Atlântida é apresentada por Alcides de Paula Chagas Neto (‘Cyddo de Ignis’) em: A antiga Escola do Tarô

  • Tarô, o caminho do guerreiro! Em seus comentários sobre o propósito de estudo do tarô Alcides de Paula Chagas Neto aventa uma origem atlante para as cartas: Caminho iniciático

O Papel especial dos impressores

    O estudo atento dos “trunfos”, atualmente denominados Arcanos Maiores, mostra – conforme ressalta Thierry Depaulis – que se trata de uma iconografia tipicamente européia, misturando alegorias:

cristãs: a Morte, o Diabo, a Casa-de-Deus, o Julgamento, as virtudes cardinais,

populares: o Amor, a Roda da Fortuna, o Pendurado, o Tempo – que o Tarô de Marselha denomina Eremita,

humanísticas ou os estados da sociedade: o Louco, o Mágico, o Imperador e a Imperatriz, o Papa e a Papisa – estes últimos substituídos, como é o caso do Tarot de Besançon, do séc. XVIII, por Júpiter e Juno,

cosmológicas: a Estrela, a Lua, o Sol, o Mundo; e o Carro, antigo símbolo do triunfo muito apreciado durante o Renascimento.

Em meados do séc. XVII existia uma grande quantidade de casas editoras, com
desenhos muitos próximos aos que, atualmente,são designados Tarô Clássico  ou Tarô de Marselha. As lâminas acima, são do Tarô de Jean Noblet, impressos em Paris, no ano de 1650, e restaurados por Jean-Claude Flornoy.

    Segundo boa parte dos historiadores, o jogo do tarô teria entrado na França durante as guerras contra a Itália, bem no início do séc. XVI. Sua mais antiga menção, nesse país, aparece em Gargantua, de Rabelais (1534), que cita o “tarau” em sua longa lista de jogos de seu herói. A partir de meados do séc. XVI, as referências se multiplicam. Estão conservadas, aliás, as 38 cartas de um jogo feito em Lyon, em 1557, por Catelin Geoffroy. Isso quer dizer que o tarô possui, na França, tal como na Itália, verdadeiro selo de nobreza. Os gravuristas franceses desempenharam um papel fundamental na difusão do jogo.
Os jogos eram estampados por meio de gravações em madeira, e pintados à mão. Além disso, por serem destinadas a jogadores, as cartas eram levemente ensaboadas, para garantir que deslizassem com facilidade.

O papel especial da França

    No séc. XVIII, o tarô é produzido por toda parte, na Europa e, principalmente, na França: Marseille, Avignon, Lyon, Paris, Rouen, Dijon, Chambéry, Besançon, Colmar, Strasbourg, Belfort, para citar os centros mais destacados.
Na Itália e na Suíça também aparecem importantes gravadores e impressores das cartas. É o caso do chamado Tarô Clássico, impresso na Suíça nessa mesma época, cujas gravuras são similares às produzidas em Marselha. Ainda existem os blocos de madeira originais utilizados para estampagem do baralho, entalhados em 1751 por Claude Burdel, cujas iniciais CB estão impressas no brasão do Carro (lâmina 7).

Cartas do tarô denominado “Clássico” que se difundiu pela Europa. Acima, três cartas restauradas dos “trunfos”originalmente gravados e impressos por Claude Burdel, na Suíça. O Dois de Ouros é uma foto do original, que traz a informação:
“Claude Burdel – Cartier et Graveur – 1751”.

    Um modelo específico dominou amplamente entre os impressores franceses: trata-se do célebre Tarô de Marselha, assim denominado porque essa cidade era sua principal produtora na segunda metade do séc. XVIII. Essas cartas foram tão difundidas que até mesmo os italianos se puseram a importar e a copiar os jogos impressos em Marselha. Uma referência básica dessa linha marselhesa encontra-se nas gravuras de Nicolas Conver. Esse modelo foi bastante copiado e as cores utilizadas sofreram inúmeras alterações em razão dos processos tipográficos adotados.

1760 Tarô Conver Desenho do fundador da Maison Camoin, impresso por máquina e colorido à mão em várias cores. 1880 Tarô Camoin Com novas máquinas são usadas apenas quatro cores no mesmo gravado de Conver (1760). 1898 Tarô Besançon
Não possui as mesmas cores do Tarô Clássico e substitui as cartas da Papisa e do Papa. Após 1930, o traçado do Tarô de Besançon é retomado com misturas de cores, sob critérios discutíveis.

    Persistem até hoje

1931 Grimaud 
Edição compilada por Paul Marteau, com quatro cores chapadas. 1997 Camoin Redesenhado como cópia fiel dos gravados de Nicolas Conver, de 1760. 2000 Kris Hadar Proposta do autor canadense a partir das ed. Grimaud e Camoin.

    A cada século que se seguiu, aumentou a difusão das cartas e a invenção de novos desenhos, mais ou menos afastados do modelo clássico.

As variações modernas

    As cartas do baralho moderno para jogos de entretenimento ou apostas mantiveram o padrão clássico, com os quatro naipes e as figuras. Mas não são mais chamadas de “Tarô”, pois descartaram os trunfos (os “arcanos maiores”), mantendo tão somente o Louco com a função de Coringa.
Apenas no início do século XX começou a se impor mundialmente, vindo da Alemanha, o desenho moderno do baralho comum, com seu grafismo simplificado para facilitar o manuseio das cartas, mas sem que as regras dos jogos se alterassem.

Jogos e lazer

Os registros históricos mais antigos sobre a existência do Tarô são encontrados na Europa, em particular na Itália e França. E o que neles se mencionam são o jogos e o lazer. Tal utilização das cartas se estende até hoje, passando pelas apostas retratadas nos filmes de “faroeste” americano, cassinos, clubes, bares.

Muitos clubes e comunidades organizam torneios de jogos de baralho: buraco, canastra, tranca e bridge, entre outros, como forma de lazer e de integração.

O baralho moderno, herdeiro dos Arcanos Menores do Tarô, também anima jogos na família, que vão dos mais simples, para crianças, até os elaborados e complexos, para os adultos, sem contar as “paciências” que podem ser jogadas solitariamente, não só com baralhos impressos, mas igualmente pelas telas dos computadores.

Cartomancia

A febre da aplicação do Tarô à cartomancia, na Europa, torna-se visível com Etteilla, na seqüência da divulgação do trabalho de Court de Gebelin (1775).

Etteilla, pseudônimo de Alliette, ora descrito como peruqueiro, ora como professor de álgebra, foi considerado por muitos como um oportunista. Tornou-se um dos mais ardorosos seguidores de Gebelin e se dedicou a promover suas idéias para acumular grande fama e fortuna.

Os desenhos do baralho do “Grande Etteilla” afastam-se das figuras simbólicas encontradas na maioria dos tarôs até então. Hoje em dia, é possível encontrar reproduções, das cartas originais de Etteilla, que parece ser sido um exemplo marcante de simplificação e popularização dos símbolos.

O baralho redesenhado sob a direção de Jean-Baptiste Alliette “Etteilla” (1738-1791) revela claramente sua finalidade adivinhatória. Os significados das cartas são reduzidos à umas poucas referências práticas, próprias à cartomancia:
“Doença”, “Fortuna”, “Nobre”, “Homem Loiro”…

A prática popular da cartomancia, entretanto, já corria há muito por toda Europa, graças aos ciganos e sensitivos espalhados por toda parte. E, hoje em dia, todas as pessoas conhecem a utilização mântica do baralho (seja chamado de “tarô” ou de “jogo de cartas”), quer nos grandes centros urbanos, quer nas pequenas cidades.

Lazer e Cartomancia no Brasil

Na primeira metade do século passado, com o grande afluxo de imigrantes europeus e árabes, muito antes da TV e dos eletrônicos, os baralhos dominavam a cena dos jogos de mesa. Sua versatilidade de regras permitia entreter crianças, adultos competitivos, idosos dispostos aos passamentos, tantos nos lares, nos encontros familiares, como nos clubes.

Os jogos de baralhos eram e continuam sendo relativamente baratos e acessíveis, o que facilitava e facilita sua difusão.

Ao lado da utilização lúdica, o baralho comum aparece nas mãos de uma certa parcela de mulheres interessadas em outra vertente: ler a sorte pelas cartas.

Exemplo de um baralho comum, dos anos 40 ou 50, bem marcado pelo uso, com anotação dos
significados das cartas segundo a cartomancia popular: “Sucesso garantido pela ajuda de um
amigo”, “Viagem de negócios”, “Inimiga maledicente e invejosa”, “União feliz, vantajosa”…

No Interior brasileiro, ainda é possível encontrar curandeiras, benzedeiras, paranormais, que utilizam o baralhos comuns, muitas vezes sobras dos jogos de carteado dos homens, para realizar seus trabalhos de ajuda e para fazer predições.

Sob a designação genérica de ‘tarólogos’ existem, entre nós, inúmeros praticantes que conciliam a cartomancia com uma visão simbólica mais ampla. Muitos deles são profissionais que dedicam exclusivamente ao atendimento de pessoas, combinando em diferentes graus e níveis, as previsões com o aconselhamento psicológico e existencial.

A história do baralho no Brasil ainda está por ser registrada como merece. E o Clube do Tarô oferece espaço para isso. Aguarda participações.

Mais estudos

  As regras dos jogos são apresentadas em seções próprias deste site:

  • Técnicas de tiragens: sugestões para o manuseio do baralho e para formulação de questões em consultas; apresentação de diferentes modelos para “deitar as cartas”.
Inclui combinações de linguagens simbólicas, como é o caso da Linha da vida.

  • Leituras em geral: exemplos de aplicações do baralho com propósitos variados; relatos de profissionais que demonstram a grande diversidade de significados dos símbolos.

  • Cartomancia: relatos práticos de consultas para elucidar aspectos e situações da vida comum. Inclui tiragens sobre acontecimentos coletivos: Previsões

  • Oráculo & Dons: trabalhos e reflexões sobre os fundamentos das múltiplas utilizações do Tarô, dons e habilidades envolvidas. O blefe e a ética.

Pesquisas históricas e estudos sobre o Tarô

Pesquisas históricas

  Os estudos dos símbolos antigos, que se estendem até o Renascimento, são indispensáveis para quem deseja compreender a essência do Tarô. Para entender a razão das mudanças e de muitas distorções que ocorreram desde então, a pesquisa dos historiadores são de valiosa ajuda.

Cristianismo, breve história espiritual e política. O astrólogo e mestre em História Rui Sá Silva Barros atendeu ao convite do responsável pelo Clube do Tarôpara oferecer um quadro histórico da tradição cristã e a da instituição católica. Constitui uma ajuda aos estudantes do tarô que desejam compreender melhor a relação das cartas de jogar e da astrologia com a religião e suas normas mutáveis no correr dos séculos : A Igreja e as práticas esotéricas

A escada mística do TarôAndrea Vitali oferece um belo e consistente texto que remonta às fontes medievais – cristãs e alquímicas – dos trunfos ou arcanos maiores. Referência segura para aqueles que buscam os fundamentos simbólicos das cartas, traduzida por Leonardo Chioda História

  • Concepções históricas, imaginárias, iconográficas e simbólicas do feminino no Tarô. Um amplo e bem ilustrado levantamento que Ricardo Pereira, tarólogo e historiador, faz dos personagens femininos nas cartas : Os mitos e representações simbólicas do feminino nos arcanos

A simbólica dos arcanos: uma peregrinação da alma por Jean-Claude Flornoy, estudioso francês e restaurador de cartas. Visão histórica do surgimento do Tarô e o modo como os arcanos traduzem as etapas de desenvolvimento do ser : Peregrinação

O herético no TarôRicardo Pereira faz um levantamento das versões que cercam o surgimento do Tarô na Europa, a partir do Grande Cisma Cristão (1054), sua possível relação com os templários, movimentos esotéricos e as restrições clericais às cartas : O herético no Tarô

A Roda da Fortuna: princípio e fim do homem. Boécio e Ramon Llull, por Ricardo da Costa Adriana Zierer. Um belo estudo acadêmico de História Medieval que revela significados ancestrais do símbolo da roda, claramente aplicáveis à cartado Tarô : Fortuna

  • Tomando o céu de assalto – esoterismo, ciência e sociedade. 1848-1914 – França, Inglaterra e EUA, por Rui Sá Silva Barros. Apresenta o quadro cultural e social, de 1848 a 1914, durante o qual ocorreu uma grande difusão dos ensinamentos herméticos. Desse movimento resultou, em meio a múltiplos impactos, teorias que afetaram profundamente a compreensão contemporânea do Tarô.
Texto completo de tese de mestrado em história, pela USP.
Ler ou baixar

  • Arcano 0 ou 22 – História e Símbolos, por Cid Marcus Vasques. O Louco e suas relações simbólicas. Estudo do astrólogo e professor de Mitologia :  0 ou 22

  • Manifesto para o futuro do Tarô, por Nei Naiff. Focaliza os principais autores envolvidos com o Tarô, no período em que as cartas ganham novas histórias e um novo status : História do Tarô

  • A crise do mundo moderno, por René Guénon. Um estudo clássico que mantém sua inquietante atualidade em razão do agravamento dos indicadores apontados pelo autor: prevalência da quantidade sobre a qualidade, do profano sobre o sagrado, do poder pessoal sobre o servir. Embora não mencione o tarô oferece um cenário para ajudar a refletir sobre o sentido do conhecimento tradicional. Trad. de Bete Torii.
 Baixar ou ler

Personalidades & famosos na história das cartas

  Os nomes famosos na história do tarô cobrem um vasto cenário com estudiosos sérios,
consistentes, e, também, com fantasiosos preocupados apenas com a auto-promoção.

  • Éliphas Lévi, sacerdote, radical, mago. Biografia do ocultista francês que ressalta seu papel no renascimento moderno da magia como caminho espiritual e no desenvolvimento do tarô esotérico. Elababorada por James W. Revak e traduzida por Alexsander Lepletier Eliphas Levi

Biografia de Éliphas Lévi. Reprodução de texto da Sociedade de Ciências Antigas com ilustrações recolhidas pelo Clube do Tarô : Eliphas Levi

Papus, médico e mago. Um apanhado da vida e obra de Gérard-Anaclet-Vincent Encausse (1868-1916) e sua influência nos estudos sobre a dimensão simbólica do tarô. Texto de James W. Revak traduzido por Alexsander Lepletier : Sua vida: estudante de medicina e de ocultismo

 

  • Plurilinguagem tarológica: bem-vindo ao caos simbólico! Comentários de Giancarlo Kind Schmidsobre as múltiplas e contraditórias formas de entender o tarô : Visões e Significados

  • Mlle Lenormand: profetisa ou feiticeira? Capítulo Seis da obra A Wicked Pack of Cards – The Origins of the Occult Tarot, de Ronald Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummet, traduzido por Alexsander Lepletier : A vida da famosa cartomante francesa

  • O papel de Court de Gebelin na história mais recente do tarô é discutido no tópico sobre as origens do jogo de cartas : Tarô egípicio? e Hipóteses

  • Antoine Court de Gébelin: pai do tarô esotérico moderno. Artigo sobre Gebelin e seu papel na valorização esotérica e simbólica do tarô, foi elababorado por James W. Revak e traduzido por Alexsander Lepletier em Antoine Court de Gébelin: pai do tarô esotérico moderno : Antoine Court de Gébelin

  • “Du Jeu des Tarots“, p.365-410, vol.8, Monde primitif… Original, em francês, no qual Court de Gebelin sugere uma origem egípcia para o tarô e discute o significado e aplicação das cartas: http://www.tarock.info/gebelin.htm

  • Etteilla, o primeiro tarólogo profissional. Biografia de Etteilla, elaborada por James W. Revak e publicada no site Villa Revak : www.villarevak.org/bio/etteilla_1.html. A tradução ao português foi feita por Alexsander de Abreu LepletierEtteilla, um tarólogo profissional

  • Etteilla e seu método divinatório. A primeira integração conhecida entre Tarô e AstrologiaElizabeth Hazel e James W. Revak apresentam a tiragem de cartas segundo a proposta de Etteilla em Manière de se récréer avec le jeu de cartes nommées tarots (Maneira de se divertir com o jogo de cartas denominadas tarôs) em 1785. Para os que têm familiaridade com os símbolos astrológicos, apresenta muitos estímulos para aprofundar a tiragem também conhecida por “Mandala astrológica” : 1. Histórico2. O Método de Etteilla e 3. Exemplo 

Apreciações de conjunto & Opiniões

  • Quem tem medo do tarô. Artigo de Leonardo Cassanho Forster com apreciações sobre as diferentes aproximações simbólicas das cartas: A imagem é a grande linguagem

  • Sobre nuvens e tarô. Comentários de Leonardo Cassanho Forster sobre os desafios da tradução simbólica do caráter “diáfano” das cartas : Questões nas leituras do tarô

  • Cartas de tarô e imagens na mídia: uma comparação. Estudo de Titi Vidal publicado em Comunicação em Cena, vol. 5 : Os arquétipos do tarô na música, no cinema, TVs e períodicos

  • Dez baralhos lúgubres. Giancarlo Kind Schmid seleciona dez jogos de cartas considerados góticos, que se não sinistros, são no mínimo sombrios : Demônios, zumbis, espíritos, monstros

  • Plurilinguagem tarológica: bem vindo ao caos simbólico! Comentários de Giancarlo Kind Schmidsobre as múltiplas e contraditórias formas de entender o tarô : Visões e Significados

  • Tarô, uma ciência que merece estudo, por Cláudio Carvalho. Expõe uma percepção do tarô na atualidade brasileira e emite critérios para estabelecer o que designa como uma “ciência tarótica”.   Ler ou baixar

  • A estética do Tarô, por Lívia Krassuski. Trata do movimento Aurora Dourada (Golden Dawn) e dos baralhos criados sob sua inspiração: Baralho Rider-Waite, de Arthur E. Waite, o Tarô Thoth, de Aleister Crowley e o Tarô da Aurora Dourada, criado por MacGregor Mathers. Ler ou baixar

  Conheça também a seção Hipoteses e paralelos sobre a origem das cartasVeja

  • Nela encontram-se links para diferentes versões sobre as origens remotas das cartas de jogar : As lendas e o imaginário sobre o baralho

As múltiplas faces do Esoterismo e o Tarô

O jogo de baralho já circulava por volta de quatro séculos na Europa, com finalidade de lazer, quando começaram a ser divulgados os primeiros estudos sobre seus aspectos simbólicos ou esotéricos e suas possíveis ou imaginárias origens ocultas.

Apresentamos, a seguir, uma súmula sobre cada figura marcante nessa nova e crescente linha de abordagem das cartas, incluindo links para estudos de aprofundamento.

Court de Gebelin

 

A publicação por Court de Gebelin (1719-1784) de Le Monde Primitif analysé et comparé avec le monde moderne (O mundo primitivo analisado e comparado com o mundo moderno), em 1775, constitui um marco importante na história moderna do Tarô. O baralho passa a ser considerado não apenas assunto de jogos de lazer ou de adivinhação e ingressa no rol de interesse dos esotéricos e intelectuais a partir do final do século 18.

É de Gebelin o primeiro texto de que se tem notícias que oferece outras informações simbólicas sobre as cartas que vão muito além do receituário para a cartomancia popular.

  • O papel de Court de Gebelin na história mais recente do tarô é discutido no tópico sobre as origens do jogo de cartas : Tarô egípicio? e Hipóteses

  • Um bom artigo sobre Gebelin e seu papel na valorização esotérica e simbólica do tarô, foi elababorado por James W. Revak e traduzido por Alexsander Lepletier em Antoine Court de Gébelin: pai do tarô esotérico moderno : Antoine Court de Gébelin

  • Original, em francês, “Du Jeu des Tarots“, p.365-410, vol.8, Monde primitif… no qual Court de Gebelin sugere uma origem egípcia para o tarô e discute o significado e aplicação das cartas : http://www.tarock.info/gebelin.htm

Etteilla – Jean-Baptiste Alliette

Etteilla, pseudônimo de Jean-Baptiste Alliette (1738-1791), também francês e contemporâneo de Gebelin, é outro nome de referência na história do Tarô, tanto pela divulgação do baralho quanto pelos livros que escreveu, Manière de se récréer avec le jeu de cartes nommées tarots (Maneira de se divertir com o jogo de cartas denominadas tarôs), em 1785, e pelo até hoje reeditado O Livro de Thoth, acompanhado das 78 cartas.

Etteilla não se prende aos aspectos simbólicos ou eruditos e se limita a apresentar um texto com indicações práticas que tiveram grande influência sobre os cartomantes da época, como foi o caso da conhecida e controversa Mademoisele Lenormand.

Etteilla

  • O Livro de Thoth – Tarô de Etteilla. Resenha do historiador Giordano Berti sobre o livro e o jogo com 78 cartas, agora disponíveis no Brasil: O livro e o baralho

  • Etteilla e o seu tarô egípcio é um dos tópicos preparados por Constantino Riemma sobre os baralhos temáticos surgidos a partir de 1791: “Grande Etteilla”

  • Etteilla, o primeiro tarólogo profissional. Biografia de Etteilla, elaborada por James W. Revak e publicada no site Villa Revak: www.villarevak.org/bio/etteilla_1.html. A tradução ao português foi feita por Alexsander de Abreu Lepletier: Etteilla, um tarólogo profissional

  • Etteilla e seu método divinatório. A primeira integração conhecida entre Tarô e AstrologiaElizabeth Hazel e James W. Revak apresentam a técnica de tiragem de cartas segundo a proposta de Etteilla, traduzida por Alexsander de Abreu Lepletier. Para aqueles que têm alguma familiaridade com os símbolos astrológicos, oferece muitos estímulos para aprofundar a tiragem também conhecida por “Mandala astrológica“: 1. Histórico, 2. O Método de Etteilla e 3. Exempl

Mais franceses

Eliphas Levi

Autor respeitado, Eliphas Levi (1810-1875) foi um filósofo, esoterista, que se dedicou ao estudo dos símbolos e que deixou muitos seguidores. Seminarista da Igreja Católica Romana, artista plástico, seu nome verdadeiro era Alphonse Louis Constant.

Éliphas Lévi

Em seu famoso livro “Dogma e ritual da Alta Magia” (1856), descreve o Tarô como uma síntese da ciência e chave universal da Cabala. Estabeleceu a correspondência entre as 22 letras do alfabeto hebraico, os 22 caminhos da Árvore da Vida – que ligam os Sephirot entre si – e os 22 trunfos ou Arcanos Maiores.

Ao invocar ao mesmo tempo a Cabala, a alquimia e a astrologia, bem como a tradição hermética, Eliphas Levi reiterava que o Tarô oculta os segredos dos antigos conhecimentos.

Eliphas Levi e Court de Gebelin são, de certo modo, dois marcos da profusão de publicações, irmandades e círculos esotéricos mais ou menos secretos que se espalhariam por toda Europa durante o século 19 e seguintes.

  • O Iniciado (ou O Recipiendário). Texto de Eliphas Levi em seu Dogma e Ritual da Alta Magia. Cap. I do 1º volume, em que trata da Unidade do dogma, da Disciplina e das qualidades exigidas do Adepto: A ciência que nos vem dos Magos

  • Éliphas Lévi, sacerdote, radical, mago. Biografia do ocultista francês que ressalta seu papel no renascimento moderno da magia como caminho espiritual e no desenvolvimento do tarô esotérico. Elababorada por James W. Revak e traduzida por Alexsander Lepletier: Mago e tarólogo

  • Biografia de Éliphas Lévi. Reprodução de texto da Sociedade de Ciências Antigas com ilustrações recolhidas pelo Clube do Tarô: Eliphas Levi

  • Em seu Manifesto para o futuro do TarôNei Naiff focaliza os principais autores envolvidos com o Tarô, no período em que as cartas ganham novas histórias e um novo status: História do Tarô

  • História do esoterismo. Para compreender melhor o clima cultural da Europa nos séculos 18 e 19, e o surgimento de organizações ocultistas, consulte a tese de Rui Sá Silva Barros sobre esse período: Tomando o céu de assalto…

Stanilas de Guaita

Outros nomes também se destacam nesse período efervescente, como é o caso de Stanislas de Guaita (1861-1897), fundador da “Ordem Kabalística da Rosacruz”, que congregou muitos dos assim chamados “ocultistas” e “magos”.

Oswald Wirth

Entre os estudiosos franceses desse período, muito próximo de Stanilas de Guaita, destaca-se Oswald Wirth (1860-1943), de origem suíça, autor de obras que se tornaram clássicas, como “O simbolismo hermético em suas relações com a alquimia e a franco-maçonaria”, “O simbolismo astrológico” e, sobretudo, “O Tarô dos santeiros da Idade Média” (Le Tarot des imagiers du Moyen Âge).

Embora muitos autores queiram atribuir a Wirth a primeira tentativa de conceber e editar um Tarô especificamente esotérico, conhecido por Tarô Oswald Wirth, a série que idealizou e desenhou, em 1889, é visivelmente inspirada no no estilo do Tarô Clássico ou Tarô de Marselha. Além disso, ele ficou apenas na revisão dos arcanos maiores.

Oswald Wirth

Nesse sentido, embora fosse maçom, seu trabalho não constituiu um “tarô maçônico”, exclusivo, como alguns defendem, a menos que também se considere os desenhos dos antigos “cartiers” franceses, entre eles o jogo marselhês, como herdeiros dos antigos construtores das catedrais, o que aí, sim, seria cabível.

  • As imagens do Tarot de Oswald Wirth podem ser apreciadas numa das galerias do Clube do Tarô, onde são oferecidas algumas informações históricas sobre essas cartas: Galeria Wirth

  • Oswald Wirth trabalhou os agrupamentos dos arcanos maiores, oferecendo exemplos estimuladores para o estudo de combinações em pares, grupos e tétrades. Conheça sua visão de conjunto dos arcanos: Indícios reveladores

  • Flávio Alberoni, colaborador do Clube do Tarô, é um dos tarólogos que aplica a indicações dos pares dos arcanos, tal como proposto por Wirth. Veja exemplos de suas interpretações: Leituras

  • Quanto a idéia de um tarô maçônico, além da resenha sobre o Tarô de Marselha, dois textos de Jean-Claude Flornoy mencionam as vicissitudes das corporações de ofício: O Tarot de Jean Noblet (1650) e Tarôs de Jean Dodal e Jean-Pierre Payen (1701-15)

Papus – Gérard Encause

Já um outro francês, contemporâneo de Oswald Wirth, inspirado nos esboços egípcios de Eliphas Levi, arriscou-se num novo desenho do Tarô. Foi ele Papus, nome ocultista utilizado por Gérard Encause (1865-1917), médico francês, fundador e líder da “Ordem espiritual e maçônica dos Martinistas”, autor do Tarot des Bohémiens (Paris, 1889), obra até hoje traduzida e publicada em várias línguas, inclusive em português.

O desenhos originais do Tarô dos Boêmios, elaborados por Jean-Gabriel Goulinat, apareceram apenas reproduzidas no livro, publicado em 1889 e revisto em 1911. As estampas ganharam o formato de baralho somente quando seus desenhos originais foram reproduzidos e coloridos, em 1981.

Embora seja muito mais popular que Eliphas Levi e Oswald Wirth, há estudiosos, entre entre eles P. Ouspensky, que apontam deslizes e generalizações indevidas em seus textos.

  • Papus, médico e mago. Um apanhado da vida e obra de Gérard-Anaclet-Vincent Encausse (1868-1916) e sua influência nos estudos sobre a dimensão simbólica do tarô. Texto de James W. Revaktraduzido por Alesander Lepletier: Sua vida: estudante de medicina e de ocultismo

  • Papus e sua versão simbólica das cartas: O Tarô dos Boêmios

  • Nei Naiff tem algumas observações pontuais sobre Papus: Manifesto…

René Guénon

Na segunda metade do séc. 19 amplia-se a quantidade de escritores e publicações ligados ao esoterismo. Proliferam ordens, irmandades, sociedades, lojas, sob várias designações: rosacruzes, maçônicas, ocultistas, templárias, esotéricas, mágicas, secretas… Joio e trigo se misturam irremediavelmente.

No cenário contemporâneo e caótico, em que reina uma sintomática confusão entre o rito sagrado e a magia pessoal, entre o estar a serviço de algo mais alto e a busca de poder egóico, surge um pensador pontual e rigoroso diante das fantasias que continuam a proliferar no mundo moderno: René Guénon (1886-1951).

Sua experiência se diferencia em relação à maioria dos autores de seu tempo. Participou, durante sua formação, de várias escolas e passou por diversos ritos existentes na França. Teve, porém, a oportunidade de encontrar e de reconhecer outras fontes ligadas de modo mais direto aos ensinamentos tradicionais e soube propor uma clara distinção entre o sagrado e o profano, resultado de longos anos de trabalho.

 

René Guénon teve força e coragem para remar contra a maré e dedicou sua vida ao estudo e à transmissão do saber que se encontra além da ciência moderna.

  • A crise do mundo moderno, por René Guénon. Um estudo publicado pela primeira vez em 1927, mas que mantém uma inquietante atualidade em razão do agravamento dos indicadores apontados pelo autor: prevalência da quantidade sobre a qualidade, do profano sobre o sagrado, do poder pessoal sobre o servir. Tradução de Bete Torii: Baixar ou ler
Formato pdf com 495KB.   108 págs. 14x21cm, imprimíveis em 54 folhas tamanho A4.

  • Os símbolos da Ciência Sagrada. Quatro textos de René Guénon que tratam dos atributos fundamentais dos símbolos, que não podem ser confundidos ou reduzidos aos conceitos das ciências ou das psicologias modernas: Simbolismo tradicional

  • Verdadeiros e falsos instutores espirituais. René Guénon oferece indicações para distinguir a verdadeira transmissão iniciática e os enganos e equívocos crescentes no mundo atual: Instrutores

  • René Guénon – dados biográficos, por Antonio Carlos Carvalho, tradutor do livro A crise do mundo moderno para uma edição portuguesa: Biografia

Os ingleses

Na esteira do que se passa no continente europeu, a Inglaterra é igualmente palco para personagens que incluem o Tarô em seus estudos.

MacGregor Mathers

MacGregor Mathers (1854-1918) obteve grande notoriedade e está associado ao ressurgimento do ocultismo e da magia na virada do século XIX. Ele adotou o nome “MacGregor” alegando ser uma herança das Highlands escocesas, embora nada confirme tal ligação.

Ligado a lojas maçônicas e a sociedades rosacrucianas, fundou com William Robert Woodman e William Wynn Westcott uma Ordem própria, a Golden Dawn ou “Aurora Dourada”. Em seu livro “O Tarot: um pequeno tratado sobre a leitura das cartas”, até hoje publicado e traduzido ao português, MacGregor Mathers propõe-se a dar aos seus leitores “uma idéia do profundo significado das cartas de Tarot e de como ele poderá ser utilizado para fins divinatórios”.

MG Mathers

Arthur Waite

Entre os ingleses ligados aos estudos esotéricos e que se dedicaram ao tarô, Arthur Edward Waite (1857-1942) é um dos mais apreciados e traduzidos. Pesquisou em diversas fontes e escreveu vários livros, entre eles, The Key to the Tarot e The Holy Kabbalah.

Sob sua iniciativa e supervisão, um baralho de 78 cartas – conhecido como baralho Rider – foi desenhado por Pamela Colman Smith.

Esse baralho engrossa a tendência moderna de dar figurações aos Arcanos Menores, como recurso para traduzir de modo factual seus significados, o que acarreta, por outro lado, o empobrecimento simbólico.

  • O baralho de Arthur Waite Pamela Colman Smith: Galeria das cartas

  • O Tarô de Arthur Waite & Pamela Smith é situado por Constantino K. Riemma, que focaliza alguns aspectos críticos desse baralho que acabou por se tornar uma referência para os re-desenhos modernos: O Tarô de Waite

  • O Tarô Rider-Waite, texto de Lívia Krassuski de apresentação do baralho e menções ao contexto no qual ele aparece, como é o caso do movimento Aurora Dourada (Golden Dawn): Introdução

Aleister Crowley

Ao lado dos estudiosos e autores que se dedicaram ao propósito de investigar as correspondências entre o Tarô e demais linguagem simbólicas, tornou-se conhecido um outro nome bastante controvertido: Aleister Crowley (1875-1947). Seus dons, embora reais, foram utilizados segundo seus críticos de modo banal e repleto de fanfarrices.

Foi ele quem inspirou Lady Frieda Harris a redesenhar as cartas do Tarô. Esse trabalho, de apreciável valor estético, se afasta por completo dos desenhos clássicos dos arcanos. O Tarô de Crowley só foi impresso pela primeira vez em 1971, com o livro The Book of Thoth.

Aleister Crowley

  • O baralho de Aleister Crowley e Frieda Harris: Introdução e Galeria

  • Galeria das cartas desenhadas por Frieda Harris para o baralho de Aleister Crowley:
Arcanos Maiores  |  Naipe de Paus  |  Naipe de Ouros  |  Naipe de Espadas  |  Naipe de Copas

  • Apresentação do Tarô de Crowley. Valéria Fernandes oferece indicações básicas sobre o Thoth Tarot desenhado por Frieda Harris: Um baralho com toque surrealista

  • O Tarô de Crowley-Harris ou Tarô de ThothCláudio Carvalho, apresenta e discute a história da elaboração dos desenhos: Explicação do baralho

  • Heavy Metal: A Ponte entre Crowley e o mundo da MúsicaSimone Gomes Omega discute as relações dos metaleiros com a aura polêmica de Aleister Crowley: Provas das influências

  • A própria bestaColin Wilson conta as peripécias, os poderes e a sombra de Crowley: O Oculto

  • Horóscopo de Crowley, análise dos astrólogos Elizabeth Nakata e Douglas Marnei: Mapa astral

Dois russos: estudos em profundidade

Entre os estudos muito importantes sobre os fundamentos simbólicos do tarô, alguns deles representam um verdadeiro desafio para os iniciantes. É o caso de dois autores russos – Mebes e Tomberg – produziram obras que vão muito além do esoterismo para consumo em feiras e bijuterias.

G. O. Mebes

O professor e esoterista russo Gregory Ottonovich Mebes morreu em campo de concentração do regime comunista.

O que nos restou de seus cursos foram anotações de alunos, portanto sem muitas explicações de detalhes para aqueles que desconhecem a simbólica da Árvore de Vida e não participavam diretamente do contexto prático em que Mebes realizava o seu trabalho.

Mebes está longe do papel de personalidade popular, mas deixou para a posteridade importantes estímulos para novas direções de pesquisa sobre as cartas ao estabelecer inusitados nexos entre símbolos cabalísticos e os arcanos maiores e menores.

  • Enigmas do tarô de G. O. Mebes, trabalho de Constantino K. Riemma que reune referências obtidas com estudiosos russos: Os tarôs de GOM na Rússia

  • Dados biográficos de Mebes, por Martha Pécher, tradutora dos livros de GOM para o português e publicados pela Editora Pensamento: Biografia

  • Galeria das cartas do tarô de Mebes, reúne as ilustrações originais do livro publicado na China, bem como restaurações e outros jogos por ele inspirados: 1. Cartas originais, 2. O Tarot Cabalistico de G.O.M. por Yeremyan-Ayvazians, 3. O Arcanos Maiores no Tarô de Vasily Masiutins,

  • El Tarot – Curso Contemporáneo de La Quinta Esencia del Ocultismo Hermético. Texto de Mouni Sadhu, que apresenta os 22 arcanos maiores do tarô tal como foram ensinados por Mebes em suas aulas. Esse texto está disponível na Biblioteca Digital.

Valentim Tomberg

Outro nome que permanece afastado do espaço circence cultivado por algumas personalidades, mas que pode ser considerado como o autor mais consistente na indicação dos vínculos possível do tarô com diferentes correntes de ensinamento, é o de Valentim Tomberg, contemporâneo de Mebes e que conseguiu manter-se anônimo por algumas décadas.

Embora também dependamos de muito estudo para compreender todo o alcance das afirmações de Tomberg, o seu texto Meditações sobre os arcanos maiores do Tarô foi especialmente preparado para publicação e, dentro do possível, ele se mostra bem didático. Pode ser considerado como o ponto alto dos estudos sobre o Tarô.

  • Valentim Tomberg. Apresentação do livro Meditações sobre os 22 arcanos maiores do Tarô por Constantino K. Riemma: Anonimato e reconhecimento

O cenário nas Américas

Dada a receptividade do tarô nas Américas, muitos livros foram publicados com ampla diversificação de público e de propósitos. Na maior parte dos casos consistem em manuais de introdução e estudo prático das cartas. Não vieram à luz pesquisas e tratados como aqueles que foram elaborados por autores europeus. A notável exceção, nesse sentido, é o trabalho do argentino J. Iglesias Janeiro, autor de La Cábala de Predición e criador de um tarô egípcio que obteve grande aceitação e que foi reproduzido inclusive pela USGames, a importante editora norte-americana de baralhos.

Entre os norte-americanos destaca-se a figura de Paul Foster Case, que se vinculou a fontes européias de linha rosa-cruz e Golden Down, entre outras. Escreve um livro sobre o tarô no qual revê e redesenha as cartas de Waite.

Também podem ser encontradas muitas adaptações do baralho tradicional às múltiplas referências culturais que ganharam espaço no continente, como é o caso das tradições africanas, indígenas, e do cenário cigano. Tratam-se, porém, na grande maioria dos casos de edições dos próprios autores, com distribuição limitada.

Indicamos, abaixo, links para artigos, resenhas e produções artísticas produzidos nas Américas ligados ao tarô:

  • La Cabala de Prediccion, de J. Iglesias Janeiro, tratado sobre as práticas mânticas e que inclui o seu Tarô Egípcio, apresentado por Eduardo Escalante: Resenha da obra

  • Textos completos do “O Tarot Egípcio da Kier” de J. Iglesias Janeiro traduzidos e compilados por Constantino K. Riemma:   Arcanos Maiores: 1-22 | Menores: 23-36 | 37-50 | 51-64 | 65-78

  • Paul Foster Case, dados biográficos compilados por Frater AEC, sobre o ocultista americano filiado a diversos movimentos esotéricos: O Tarô – uma chave para a Sabedoria das Idades

  • Os Arcanos da Era de Aquário – Henrique José de Souza. Resenha de Alexandre Domingues sobre os arcanos propostos pelo fundador da Eubiose: O Autor e seus arcanos

  • Galeria de jogos e criações artísticas no Brasil. Cartas e obras de arte nacionais

Cartas, lâminas, arcanos

No clima europeu do século XIX, em que o Tarô foi revalorizado pelos estudiosos de temas esotéricos, torna-se compreensível que seria bem recebida a troca de termos para designar as cartas e o baralho. De fato foi o que aconteceu a partir da publicação, em 1865, da obra “L’homme rouge des Tuileries” de Paul Christian, pseudônimo de Jean-Baptiste Pitois (1811-1877). Discípulo de Eliphas Levi, atribui-se a Paul Christian ter “inventado os termos lâminasarcanos para designar as cartas dos Tarots”.

A partir da segunda metade do século XIX, tornou-se usual a utilização dos termos lâmina e, principalmente, arcano em substituição a carta.

Estudos sobre o esoterismo e o Tarô

  • A escada mística do TarôAndrea Vitali oferece um belo e consistente texto que remonta às fontes medievais – cristãs e alquímicas – dos trunfos ou arcanos maiores. Referência segura para aqueles que buscam os fundamentos simbólicos das cartas, traduzida por Leonardo Chioda: História

O herético no Tarô. Ricardo Pereira faz um levantamento das versões que cercam o surgimento do Tarô na Europa, a partir do Grande Cisma Cristão (1054), sua possível relação com os templários, movimentos esotéricos e as restrições clericais às cartas: O herético no Tarô

Tomando o céu de assalto – esoterismo, ciência e sociedade. 1848-1914 – França, Inglaterra e EUA. Rui Sá Silva Barros apresenta o quadro cultural e social, de 1848 a 1914, durante o qual ocorreu uma grande difusão dos ensinamentos herméticos. Desse movimento resultou, em meio a múltiplos impactos, teorias que afetaram profundamente a compreensão contemporânea do Tarô. Texto completo de tese de mestrado em História, pela USP. Baixar

  • Manifesto para o futuro do Tarô. Nesse texto Nei Naiff trata dos diferentes modos que as cartas têm sido utilizadas e repassa os principais registros históricos e autores, sob um olhar meticuloso e crítico. Uma boa ajuda para separar a história real e as fantasias: História do Tarô

  • Confira mais indicações em: Pesquisas históricas e estudos sobre o Tarô

  Personalidades & famosos na história das cartas

  Biblioteca Digital: Estudos de esoteristas sobre o Tarô

Arcanos Maiores – Apresentação

As 22 cartas ou lâminas, chamadas tarocchi ou trionfi, na Itália, triomphes ou atouts, na França, são hoje denominadas Arcanos Maiores nos manuais de Tarô.

Nos dois jogos mais antigos que chegaram até nós – Visconti Sforza (1440) e Gringonneur (1455) – essas 22 cartas não estão numeradas. Veja: Baralhos

Mesmo nas publicações em que aparecem numeradas, as cartas não têm uma seqüência facilmente compreensível, como acontece com os 56 arcanos menores. Esse talvez seja o motivo de a utilização popular do baralho – no lazer e jogos de azar – ter dispensado os 22 Arcanos Maiores. Seu único vestígio no baralho comum, para o carteado, é o Coringa ou Trunfo, que corresponde ao Louco, a figura que permaneceu sem número.

Os estudiosos do tarô, no entanto, encontraram muitos arranjos para dar coerência ao conjunto dos Arcanos Maiores, estabelecendo diferentes critérios de agrupamentos, o que prova a maleabilidade das linguagens simbólicas.

Clique sobre a carta para conhecer os textos explicativos

0 – 22
Louco
1
Mago
2
Papisa
3
Imperatriz
4
Imperador
5
Papa
6
Namorados
7
Carro
8
Justiça
9
Eremita
10
Roda da Fortuna
11
Força
12
Pendurado
13
Morte
14
Temperança
15
Diabo
16
Torre
17
Estrela
18
Lua
19
SoL
20
Julgamento
21
Mundo

(0 ou 22) O Louco

O Arcano da Busca e da Peregrinação

Tarô de Marselha (1750)

www.krishadar.com

Ao contrário do que ocorre nos demais arcanos, a margem superior da lâmina não tem numeração, razão pela qual se costuma atribuir-lhe o valor de arcano 0 ou 22, segundo a necessidade.

Um homem anda com um bastão na mão direita. Está de costas, mas seu rosto, bem visível, aparece de três quartos. Sobre o ombro direito leva uma vara em cuja extremidade há uma pequena trouxa.

O personagem está vestido no estilo dos antigos bobos da corte: as calças rasgadas deixam ver parte da coxa direita. Um animal que poderia ser um felino parece arranhar esta parte exposta ou ter provocado o rasgão.

De um chão árido, acidentado, brotam cinco plantas.

O viajante tem a cabeça coberta por um gorro que desce até a nuca e lhe cobre as orelhas; esta estranha touca transforma seu rosto barbudo numa espécie de máscara. Veste uma jaqueta, presa por um cinto amarelo; seus pés estão cobertos por calçados vermelhos.

Significados simbólicos

A busca e o Filho Pródigo. A experiência de ultrapassar os limites.

Espontaneidade, despreocupação, admiração, saudade.
Impulsividade. Inconsciência. Alienação.

Interpretações usuais na cartomancia

Passividade, completo abandono, repouso, deixar de resistir. Irresponsabilidade. Inocência.

Escolha intuitiva acertada. Domínio dos instintos; capacidade mediúnica. Abstenção. O não-fazer.

Mental: Indeterminação devida às múltiplas preocupações que se apresentam e das quais se tem apenas uma vaga consciência. Ideias em processo de transformação. Conselhos incertos.

Emocional: Revezes sentimentais, incerteza com os compromissos, sentimentos vulgares e sem duração. Infidelidade.

Físico: Inconsciência, desordem, falta à palavra dada, insegurança, desprazer. Abandono voluntário dos bens materiais. Assunto ou negócio enfraquecido. Do ponto de vista da saúde: transtornos nervosos, inflamações, abscessos.

Desafios e sombra: Enquanto andarilho, o Louco significa queda ou marcha que se detém. Abandono forçado dos bens materiais; decadência sem muita possibilidade de recuperação. Complicações, atoleiro, incoerência.

Nulidade. Incapacidade para raciocinar e autodirigir-se, entrega aos impulsos cegos. Automatismo. Confusões inconscientes. Extra-vagância. Castigo causado pela insensatez das ações. Remorsos vãos.

Il Matto (1450)

Tarocchi Visconti-Sforza restaurado por Scarabeo

História e iconografia

Reis e senhores, desde épocas remotas, tinham bufões em seus palácios, verdadeiras caricaturas da corte. Histórias sobre eles, bem como as representações gráficas desse personagem, podem ser contadas às dezenas.

O Filho Pródigo

Tela de Jheronimus Bosch (1450-1516)

Mas a imagem deste Arcano – um louco solitário que atravessa os campos e é agredido por um animal – não havia sido representada até então: é própria do Tarô e, nesse sentido, representa uma de suas contribuições mais originais do ponto de vista iconográfico.

Van Rijneberk arrisca a hipótese de que o espírito burlesco e irreverente da Idade Média teria parodiado, neste personagem, a classe dos Clerici vagante que, segundo ele, eram “estudantes migratórios e inquietos, sempre em busca de novos mestres de quem pudessem aprender ciências e ideias, e de novas tabernas onde pudessem beber fiado um pouco de vinho bom”.

Mais de um autor vê nesses viajantes insaciáveis e pouco escrupulosos os primeiros agentes – talvez ignorantes da sua missão, mas de grande eficácia real – da Reforma religiosa.

No desenho feito por Wirth aparece pela primeira vez impresso o termo Le fou (O Louco) para designar o arcano sem número, embora tradicionalmente fosse conhecido por este nome desde muito antes. Tanto o baralho Marselha original, bem como seus numerosos contemporâneos franceses (e os exemplares dos copistas espanhóis) chamam Le Mat a esta carta.

Paul Marteau levantou a hipótese de que este nome seria uma alusão ao jogo de xadrez, já que o protagonista está em cheque (pelos outros, pelo mundo), numa situação de encurralamento semelhante à do xeque mate. A palavra mat, no francês, significa “fosco, abafado, indistinto” e ainda o “xeque mate”, no xadrez. Já o termo mât, quer dizer “mastro”.

Outro estudioso do Tarô, Gwen Le Scouézec, sugere duas variantes etimológicas: o nome viria literalmente do árabe (matmorto), ou seria uma apócope do italiano matto (louco, doido), nome com que aparece no tarocchino de Bolonha.

Tarô de Oswald Wirt

  • As obras de arte antigas que podemos associadar à figura de O Louco no Tarô cabem em dois grupos: o dos Bufões e Bobos da Corte e o dos Peregrinos. Alguns exemplos podem ser apreciados em O Louco: Arte e Iconografia

  • O Louco nas gravuras clássicas. Ótimo estudo do tarólogo italiano Andrea Vitalli, traduzido por Leonardo Chioda, sobre o personagem sem número: Entre o sagrado e o profano

  • Galeria de baralhos. Para pesquisar a variedade de representações da carta de O Louco no Tarô no correr dos séculos, visite: Galeria de baralhos – por ordem cronológica

  • Arte Moderna. Exemplos da livre reinvenção artística do baralho, que hoje existem aos milhares, podem ser acessados na seção: Artes

O Louco : Crônicas & Artes

  • Crianças. Crônica de Denise Fernandes Marsiglia envolvendo: O Mago, a Papisa, a Força e o Louco.

  • Na seção de Artes e Poemas encontram-se versos inspirados no arcano : O Louco

I. O Mágico ou O Mago

O Arcano da Mística, da Concentração, do Impulso Criado

O Prestidigitador (Mágico)

Tarô de Marselha (1750) Restaurado por
Camoin-Jodorowsky

 

O título francês desta carta, Le Bateleur, pode ser traduzido também como Prestidigitador, Malabarista, Pelotiqueiro, Bufão, Acrobata ou Cômico. O termo Prestidigitador talvez fosse o mais adequado ao simbolismo dinâmico do personagem, mas é comum que seu nome seja traduzido do inglês Magician, Mágico ou Mago.

Um prestidigitador, de pé, frente à mesa onde coloca os seus instrumentos, segura uma esfera ou um disco amarelo entre o polegar e o indicador da mão direita, enquanto com a mão esquerda aponta obliquamente para o chão uma vareta curta.

O personagem é representado de frente, com o rosto voltado para a esquerda. (Nas referências aos protagonistas de cada carta, será considerada sempre a esquerda e a direita do leitor). Usa um chapéu cuja forma lembra o símbolo algébrico de infinito e seus cabelos, em cachos louros, escapam desse curioso chapéu. Veste uma túnica multicolorida, presa por um cinto amarelo.

Sobre a mesa, da qual se veem apenas três pernas, há diversos objetos: copos, pequenos discos amontoados, dados, uma bolsa e uma faca com a lâmina descoberta ao lado de sua bainha.

O prestidigitador está só, no meio de uma campina árida com três tufos de  erva;  no  horizonte,  entre as pernas da figura, uma árvore se desenha contra o céu incolor.

Significados simbólicos

Arcano da relação entre o esforço pessoal e a realidade espiritual. Domínio, poder, autorrealização, capacidade, impulso criador, atenção, concentração sem esforço, espontaneidade.

O ser, o espírito, o homem ou Deus; o espírito que se pode compreender; a unidade geradora dos números, a substância primordial. Ponto de partida. Causa primeira. Influência mercuriana.

Interpretações usuais na cartomancia

Destreza, habilidade, finura, diplomacia, eloquência, capacidade para convencer, espírito alerta, inteligência rápida, homem inquieto nas suas atividades e negócios.

Mental: Facilidade para combinar as coisas, apropriação inteligente dos elementos e dos temas que se apresentam ao espírito.

Emocional: Psicologia materialista; tende para a busca das sensações, do vigor, da qualidade criativa. Generosidade unida à cortesia. Fecundidade em todos os sentidos.

Físico: Muita vitalidade e poder sobre as enfermidades de ordem mental ou nervosa, neuroses e obsessões. Indica uma tendência favorável para questões de saúde, mas não assegura a cura. Para conhecer o diagnóstico é necessário considerar outras cartas.

 

O Mágico

Tarocchi Visconti-Sforza. Original de 1450.

Desafios e sombra: Charlatão persuasivo, sugestivo, ilusionista, intrigante, politiqueiro, impostor, mentiroso, explorador de inocentes. Agitação vã, ausência de escrúpulos. Discussões, brigas que podem se tornar violentas, dado o vigor do personagem. Mau uso do poder, orientação defeituosa na ação, operações inoportunas. Tendência à dispersão nas ações, falta de unidade nos processos e atividades. Dúvida. Indecisão. Incerteza frente aos acontecimentos.

História e iconografia

Desde a Idade Média são bem conhecidos esses personagens que ganhavam a vida com suas habilidades.  Seu ofício combinava frequentemente a apresentação de danças e a prática de charlatanismo – muitos deles passavam o tempo a vagabundear pelas feiras.

“L’Escamoteur”, O Ilusionista – Pintura de Jerome Bosch (1453-1516)

Não há muitas marcas literárias de sua passagem pela cultura europeia, mas, em compensação, foi um personagem de prestígio nas artes gráficas desde os primeiros tempos. As gravações medievais costumam mostrá-lo no desempenho de suas mágicas frente a um grupo de espectadores absortos.

O Tarô suprime as testemunhas e acrescenta detalhes originais (a mesa de três pernas, a posição das pernas e dos braços do protagonista, entre outros), mas o seu parentesco com os registros sobre as feiras é evidente.

Tarô de Oswald Wirth

Pode-se acrescentar que, no mundo islâmico, o Prestidigitador foi também um personagem de vasta popularidade.

Num sentido mais geral, o Prestidigitador pode ser considerado símbolo da atividade originária e do poder criador existente no homem. Como ponto de partida do Tarô, é também o primeiro passo iniciático, a vontade básica no caminho para a sabedoria, a matéria primordial dos alquimistas, o barro paradisíaco do qual será obtido o Adão Kadmon.

“Se o mundo visível não passa de ilusão – pergunta-se Oswald Wirth– o seu criador não será o ilusionista por excelência?”

Neste plano, o Prestidigitador identifica-se com a materialidade do ser criado, até que o demiurgo e a criatura tornam-se o mesmo: certamente há aqui um sentido psicológico, para o qual a identidade é produto da experiência pessoal (o homem é o resultado das suas próprias ações). Desta maneira, pode-se interpretar a supressão da quarta perna da mesa como representativa do ternário humano no mundo (espírito-psique-corpo).

Uma das especulações em torno do personagem do Arcano I pode ser estabelecida a partir da sua atividade intensa, de seu dinamismo sem repouso (produto de seu caráter de intermediário entre o sensível e o virtual), atributo que o relaciona de modo estreito ao simbolismo de Mercúrio.

Nesse sentido, a vareta que traz na mão esquerda seria a evocação do caduceu, assim como seu estranho chapéu corresponde quase exatamente ao capacete alado da divindade. Seu nome grego significaria “intérprete, mediador”, o que confirmaria essa hipótese.

Muito já se estudou sobre o papel fundamental desempenhado por Hermes Trimegisto na história do ocultismo; os alquimistas desenvolveram boa parte de suas sutis investigações em torno do simbolismo de Mercúrio; não é absurdo, portanto, supor que o Tarô tenha sido colocado sob sua invocação.

O arcano do Mago é também relacionado ao Aleph  –, primeira letra do alfabeto hebraico, e pode ser associado à ideia de princípio e também ao primeiro som articulável ( a ) que, segundo a tradição “expressa a força, a causa, a atividade, o poder” e seria o paradigma do homem em sua relação com as demais criaturas.

Hermes (Mercúrio)

II. A Papisa (ou A Sacerdotisa)

O Arcano da Sabedoria, da Gnose, do Princípio Receptivo

II. A Papisa

Tarô de Marselha (1750)

Uma mulher sentada, com um livro aberto sobre a saia e uma coroa tripla na cabeça, olha para a esquerda e veste uma túnica vermelha sobre a qual se desdobra um manto azul (em algumas versões as cores são opostas). Duas partes da sua tiara estão ornadas de florões, mas a parte superior é uma simples abóbada.

Um véu, que lhe cai sobre os ombros, cobre totalmente os seus cabelos; na mesma altura desse véu, por trás, aparece uma cortina cujos pontos de fixação não são visíveis. Tampouco se podem ver os pés da mulher, assim como a base do trono.

Fato curioso, que é reencontrado somente no arcano XXI, é que a figura ultrapassa a margem superior do quadro: o extremo da tiara supera a linha negra, um pouco à direita do número II.

Significados simbólicos

A Sabedoria, a Gnose, a Casa de Deus e do homem, o santuário, a lei, a Cabala, a igreja oculta, a reflexão.

Fala também do binário, do princípio feminino, receptivo, materno.

Mistério. Intuição. Piedade. Paciência, influência saturnina passiva.

        Interpretações usuais na cartomancia

Reserva, discrição, silêncio, meditação, fé, confiança atenta. Paciência, sentimento religioso, resignação. Favorável às coisas ocultas.

Mental: Grande riqueza de ideias. Responde a problemas concretos melhor do que a questões vagas.

Emocional: É amistosa, recebe bem. Mas não é afetuosa.

Físico: Situação garantida, poder sobre os acontecimentos, revelação de coisas ocultas, segurança de triunfo sobre o mal. Boa saúde, mas com um ritmo físico lento.

Desafios e sombra: Dissimulação, hipocrisia, intenções secretas. Mesquinharia, inação, preguiça. Beatice. Rancor, disposição hostil ou indiferença. Misticismo absorvente, fanático. Peso, passividade, carga. As intuições que traz invertem seu sentido e se tornam falsas. Atraso, lentidão nas realizações.

História e iconografia

A tradução exata do nome que o Tarô de Marselha dá a este arcano (La Papesse) é A Papisa. Outras versões, como A Sacerdotisa ou A Alta Sacerdotisa, vêm do nome que lhe é atribuído modernamente em inglês (The High Priestess).

Muitos autores acreditam que a figura da Papisa faça alusão a um fato histórico, ou melhor, lendário, que ocupa um lugar notável na literatura da Idade Média: a pretensa existência de um Papa do sexo feminino. A tradição popular diz que uma mulher ocupou a cadeira de São Pedro sob o nome de João VIII.

Embelezada com o correr do tempo, uma de suas versões combina com o simbolismo maternal que se atribui à estampa: segundo tal versão, a papisa teria ficado grávida de um dos seus familiares e, como não se recolheu na época devida, o parto teria se dado em plena rua, durante uma procissão entre a igreja de São Clemente e o palácio de Latrão.

Com a dramática descoberta do embuste, o enfurecido séquito papal teria assassinado Joana e seu filho. Segundo tradições romanas, no lugar do homicídio, permaneceu durante séculos um túmulo ornado por seis letras P, que poderiam ser lidas de diferentes maneiras (jogando com a inicial comum de Papa, Pedro, pai e parto).

 

II. Papisa

Tarô de Oswald Wirth

Publicado em 1927

Ainda com relação a essa lenda, deve-se assinalar um fato notável: na célebre Bíblia ilustrada alemã do ano de 1533, a grande prostituta do Apocalipse está representada com uma tiara na cabeça, A tradição afirma que foi desenhada deste modo por desejo expresso e sugestão de Martinho Lutero.

De qualquer modo, para o estudo tradicional e iconográfico do Tarô, é importante distinguir claramente entre o sentido simbólico e o registro de fatos históricos.

Também podemos entender que a carta de número 2, passiva, feminina, yin, está revestida na simbologia do tarô da mesma dignidade receptiva do pontífice, o Papa, carta de número 5.

Enquanto o Mágico não poderia permanecer em repouso (numa unidade andrógina onde tudo é impulso e estímulo), a Sacerdotisa é o próprio repouso: sentada, majestosa, receptiva, seu reino é binário, uma etapa na distinção da polaridade do universo. Se o binário equivale a conflito, no sentido de rompimento da unidade, de abandono do caos essencial onde não existem as magnitudes nem os nomes, é também a primeira etapa dolorosa e imprescindível das vias iniciáticas, o começo da busca da identidade.

A Sacerdotisa representa a submissão majestosa às exigências dessa iniciação, o equilíbrio que a repartição elementar de forças produz no conflito.

O que o Arcano I era para a encarnação das energias espirituais o Arcano II o é quanto à aceitação dessa metamorfose: o reconhecimento prévio da luta entre os princípios negro-branco, noite-dia, yin-yang.

Alguns autores veem na Sacerdotisa a representação de Ísis, com todas as suas conotações noturnas e ocultas. Também a associam a Cassiopeia, a rainha negra da Etiópia e mãe da constelação Andrômeda, e a Belkis, a belíssima rainha de Sabá, para quem Salomão teria composto o Cântico dos Cânticos. Essa relação da Sacerdotisa com deusas e rainhas negras (ou escuras) não parece casual e acentua a contrapartida com a carta a seguir: o simbolismo branco, luminoso e diurno do Arcano III (A Imperatriz), com quem a Sacerdotisa forma a dupla oposta e complementar da feminilidade.

Este símbolo subterrâneo, que se refere ao aspecto esotérico da revelação, teria passado para o cristianismo sob a forma das virgens negras, cujo ritual se realiza com frequência numa cripta ou num lugar inacessível.

Mãe, esposa celeste, senhora do saber esotérico, a Papisa ou Sacerdotisa ocupa na estrutura do Tarô o lugar da porta, da passagem entre o exterior e o interior, do ponto imóvel e comum entre a casa e a rua.

Isis, deusa do amor e da magia, que se tornou a deusa-mãe do Egito

III. A Imperatriz

O Arcano da Magia Sagrada, da Força Mediadora, da Mãe

Marselha-Camoin (1750)

Uma mulher coroada, sentada num trono, mantém contra si, com sua mão direita, um escudo ornado com uma águia amarela, enquanto que com a esquerda sustenta um cetro que termina por um globo encimado pela cruz.

Está representada de frente, com os joelhos separados e com os pés ocultos nas dobras da túnica. A cintura da Imperatriz está marcada por um cinto, que se une a uma gola dourada. A coroa leva florões amarelos e permite que os cabelos da figura se derramem sobre os ombros.

O trono está bem visível e seu espaldar sobressai à altura da cabeça da Imperatriz. No ângulo inferior esquerdo da estampa cresce uma planta. A águia desenhada no escudo olha para a direita.

Significados simbólicos

O verbo, o ternário, a plenitude, a natureza, a fecundidade, a geração nos três mundos.

Sabedoria. Discernimento. Idealismo. Influência solar intelectual. É o arcano da Magia Sagrada, instrumento do poder divino.

Interpretações usuais na cartomancia

Gravidez, criatividade, sucesso. Compreensão, inteligência, instrução, encanto, amabilidade. Elegância, distinção, cortesia. Domínio do espírito, abundância, riqueza.

Mental: Penetração na matéria por meio do conhecimento das coisas práticas. Os problemas vêm à tona e podem ser reconhecidos.

Emocional: Capacidade para penetrar na alma dos seres. Pensamento fecundo e criador.

Físico: Esperança, equilíbrio. Soluciona os problemas. Renova e melhora as situações. Poder contínuo e irresistível nas ações.

Desafios e sombra: Desavenças, discussões em todos os planos. As coisas se embaralham e ficam confusas. Atraso na realização de um acontecimento que, no entanto, ocorrerá.

Afetação, pose, coqueteria. Vaidade, presunção, desdém.
Futilidade, luxo, prodigalidade. Deixa-se levar pelas adulações, falta de refinamento, modos de novo-rico.

História e iconografia

O arcano da Imperatriz, adornada com os símbolos atribuídos à feminilidade triunfante, relaciona-se a um amplo repertório:

A Imperatriz

Tarocchi Visconti-Sforza  – Restaurado por Scarabeo

Ela é a Madona cristã, a esposa do rei ou mãe do herói; a deusa primordial de todos os ritos matriarcais; as quatro damas do baralho.

Tarô de Oswald Wirth

França, 1912

Sobre a figura da Imperatriz parece ser mais importante considerar a sua localização no Tarô (como a terceira da série) e a sua relação com outras figuras do que o seu simbolismo individual, já que o caráter difuso da carta torna sua amplitude inesgotável. Assim, será interessante recapitular tudo que foi escrito sobre o simbolismo do três e a ordem do ternário, bem como às variadas significações atribuídas às damas dos Arcanos Menores.

Na versão de Wirth, a Imperatriz aparece aureolada por doze estrelas, das quais somente nove são visíveis: é evidente o duplo sentido alegórico desta representação em sua referência simultânea aos signos do Zodíaco e ao período da gestação. Como o 9 é também representação da inteligência, no momento da sua maturidade, é possível associar os atributos centrais do Arcano III: feminilidade-experiência-sabedoria.

Relacionada em todas as cosmogonias ao simbolismo lunar e à face oculta do conhecimento (Sacerdotisa), a mulher admite também um período solar (Imperatriz), do qual há correspondências nas organizações culturais mais remotas da humanidade.

Do ponto de vista matriarcal, a Imperatriz não é ainda a Eva protagonista do pecado e da queda, mas a que aparece em certas tradições talmúdicas: a fundadora, que reencontra Adão depois de trezentos anos de separação; a que aniquila Lilit – a rival estéril e luxuriosa – para organizar junto ao primeiro pai a família dos homens.

Alguns comentaristas do Islã veem nesta Eva triunfante do adultério a representação da passagem das sociedades anárquicas ao princípio de ordem dos tempos históricos. Seu túmulo mítico se localiza em Djeda ou Djidda, às margens do mar Vermelho e próximo da montanha sagrada de Arafat, onde o teria ocorrido seu reencontro com Adão, para formar o casal primordial.

A Imperatriz, finalmente, é símbolo da palavra e representa o envoltório material do corpo, seus órgãos e suas funções. Ouspensky a imagina repousando sobre um trono de luz, bela e fecunda, em meio à interminável primavera.

Lilit e a rebeldia feminina

IIII. O Imperador

O Arcano da Autoridade, da Paternidade e da Obediência

IIII. O Imperador

Tarot de Marseille (1750)

Sentado num trono com as pernas cruzadas, um homem coroado é visto de perfil. Em sua mão direita traz um cetro que termina por um globo e pela cruz, enquanto a outra mão segura o cinto.

No primeiro plano, à direita, um escudo com a imagem de uma águia parece apoiar-se no chão.

Um colar amarelo prende uma pedra (ou um medalhão) de cor verde. A coroa se prolonga extraordinariamente por detrás da nuca.

O trono, uma cadeira em cujo braço esquerdo se apoia o Imperador, repousa — como a mesa do Arcano I — sobre um terreno aparentemente árido, do qual brota uma solitária planta amarela.

Ao contrário do emblema da Imperatriz, a águia do Arcano IIII olha para a esquerda. O desenho das águias, por outro lado, difere notavelmente num e noutro caso.

A notação IIII, no topo do desenho, que ocorre também nos arcanos VIIII, XIIII e XVIIII não é habitual na numeração romana (que registraria IV, IX, XIV e XIX).

Essa forma de grafar, porém, faz parte da tradição gráfica do Tarô, tal como aparece na versão de Marselha e na maioria das coleções de cartas antigas.

Significados simbólicos

O poder, o portal, o governo, a iniciação, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou sua base. Proteção paternal.

Firmeza. Afirmação. Consistência. Autoridade. Poder executivo. Influência saturnina-marciana. Concretização, habilidades práticas, ordem, estabilidade, prestígio.

Interpretações usuais na cartomancia

Direito, rigor, certeza, firmeza, realização. Energia perseverante, vontade inquebrantável, execução do que está resolvido. Protetor poderoso.

Mental: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário.

Emocional: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos.

Físico: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva.

Desafios e sombra: Resultados contrários ao pretendido, ruptura do equilíbrio. Queda. Perda dos bens, da saúde ou do domínio sobre coisas e seres. Oposição tenaz, hostilidade preconcebida. Teimosia, adversário obstinado; assunto contrário aos interesses. Autodestruição, grande risco de ser enganado. Autoritarismo, tirania, absolutismo.

História e iconografia

Alguns estudiosos chamam atenção para um aspecto significativo desta figura: o Imperador tem as pernas cruzadas. Este detalhe corroboraria a tese de inspiração germânica do arcano, visto que no antigo direito alemão esta posição era prescrita ritualmente para os altos magistrados (1220). No entanto, imagens semelhantes e igualmente antigas aparecem nas iconografias francesa e inglesa, representando altos dignitários.

O caráter cerimonial e prestigioso do cruzar as pernas pode ter uma origem mais remota, possivelmente oriental, já que isso não é habitual no panteão greco-romano.

O antigo simbolismo, convertido em liturgia pela codificação alemã, admite também um profundo sentido psicológico: cruzar as pernas e os braços indica concentração volitiva, encerra o protagonista na sua esfera pessoal e, do ponto de vista gestual, afirma claramente o desejo de individuação.

Outros detalhes merecem ser assinalados a propósito desse personagem. É comum, associar o simbolismo do Tetragrammatonà figura do Imperador. É sabido que o tetragrama traduz ao nome de Deus omitindo-o, ao decompô-lo no nome das letras que o formam: Yod – He – Vau– He.

A leitura do nome das letras (grafadas da direita para a esquerda, em hebraico), dá Jehová, que não é o nome de Deus, mas alusão a ele.

O Imperador (1455)

Tarot Gringonneur ou Charles VI

Os cabalistas, como demonstra este exemplo, trabalham também com o pensamento analógico, tal como se vê nos demais estudos tradicionais.

He <- Vau <- He <- Yod

“A ideia é perfeitamente clara” – escreve Ouspensky – “se o Nome de Deus está realmente em tudo (ou seja, se Deus está presente em tudo),  então tudo deve ser análogo a tudo mais: a parte menor deverá ser análoga ao Todo, a partícula de pó análoga ao Universo, e todos análogos a Deus”.

Do ponto de vista cabalístico, a relação Tetragrama-Imperador parece muito fecunda, já que, comparada com as três letras anteriores (ou os três arcanos), consideradas respectivamente como o princípio ativo (I), o princípio passivo (II) e o princípio do equilíbrio ou neutralizador (III), a quarta letra ou carta é considerada o resultado e, também, o princípio da energia latente.

Tarô de Oswald Wirth – Publicado em 1912

Isto se harmoniza perfeitamente com a versão de Wirth sobre o Arcano IIII, segundo a qual ele não é apenas o Príncipe deste mundo, que “reina sobre o concreto, sobre o que está corporificado”, mas é também o paradigma do homem estritamente normal, em posse de suas potencialidades, mas ainda não realizado pela iniciação.

Nesse sentido, representa o quaternário de ordem terrena, de organização da vida sensível, e pode ser relacionado também ao demiurgo dos platônicos, às divindades inferiores em geral (os heróis, antes dos deuses), e a toda tentativa de criação de vida no nível terreno e perecível.

Também se vê nele, enquanto rei que propicia a prosperidade e o crescimento de seu povo, uma correspondência ao mito de Hércules, “portador da maçã, que leva as maçãs de ouro ao jardim das Hespérides”.

Hércules, enquanto herói solar, que resume como nenhum outro as fases do processo iniciático no sentido da liberação individual que, esotericamente, só se pode alcançar através do trabalho e do esforço.

Como Hércules, também o Imperador não transcende a condição humana, embora o princípio indique que poderá levá-la à sua mais alta manifestação.

É considerado, em sua face não trabalhada, como representante do aspecto violento e agressivo do masculino, mas também como dispensador da energia vital e, neste aspecto, como a Natureza abundante, divisível, nutritiva.

 

V. O Papa (O Pontífice ou o Hierofante)

O Arcano da Transcendência, da Iluminação, da Pobreza

Tarô de Marselha (1750)

www.camoin.com

Um grupo de três personagens em que um deles é visto de frente, sentado, com a mão direita levantada no sinal da benção, tendo em sua mão esquerda o eixo de uma cruz de seis braços; sua cabeça está coroada por uma tiara. Os outros dois personagens que se encontram em primeiro plano, de costas para quem contempla a imagem, têm os rostos voltados para o primeiro personagem.

Este, protagonista da figura, tem veste azul, capa vermelha ornada de amarelo. Sua mão esquerda está fechada e, na maior parte dos tarôs clássicos, coberta por luva que tem impressa uma cruz dos templários. A barba e o cabelo do Pontífice são brancos.

Percebe-se apenas vagamente a cadeira em que o personagem central está sentado, com duas colunas ao fundo.

Os dois personagens que estão de costas mostram a tonsura. O da esquerda aponta sua mão direita para o solo, com os dedos separados. O homem da direita aponta para o alto com sua mão esquerda, com os dedos juntos.

Significados simbólicos

É o arcano da bênção, da iniciação, da demonstração, do ensino.

Dever. Moral. Consciência. Santidade.

Lei, simbolismo, filosofia, religião. Evoca os níveis mais altos de consciência.

Interpretações usuais na cartomancia

Autoridade moral, sacerdócio, instrução. Proteção, lealdade. Observância das convenções, respeitabilidade. Ensino, conselhos equilibrados. Benevolência, generosidade, indulgência,

perdão. Mansidão.

Busca de sentido, revelação, hora da verdade, confiança, indicações do caminho da salvação.

Mental: O Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz principalmente as soluções lógicas. Significa também os pensamentos inspirados por um nível mais alto de consciência.

Emocional: Sentimentos poderosos, afetos sólidos, solicitude, sem cair em sentimentalismos. O Pontífice indica os sentimentos normais, tal como devem ser manifestados na vida, de acordo com as circunstâncias.

Físico: Equilíbrio, segurança na situação e na saúde. Segredo revelado. Vocação religiosa ou cientifica. Especialista em sua área.

Desafios e sombra: Indica um ser desconectado de sua razão e seus instintos, na obscuridade, carente de apoio espiritual. Projeto retardado.

Chefe sentencioso, moralista estreito, rígido, prisioneiro das formalidades, metafísico dogmático, professor autoritário, teórico limitado, pregador da “boca pra fora”.

Conselheiro desprovido de sentido prático.

Problemas com saúde, indecisão, negligência.

O Papa

Tarô Gringonneur (1455)

História e iconografia

O Arcano V é uma das figuras que permitiram precisar com maior exatidão a antiguidade do Tarô, já que seus detalhes iconográficos remontam a um modelo perdido em que se inspirou necessariamente o desenho de Fautrier (Tarô de Marselha), o que é confirmado pelas diferenças e semelhanças com maços mais antigos, como os de Baldini (1436-1487) e Gringonneur (1450).

Em primeiro lugar, é preciso destacar que o Pontífice do Tarô de Marselha é barbudo, enquanto seus precursores renascentistas e medievais não o são. Há estudos que estabelecem uma curiosa cronologia da moda papal neste aspecto. Torna-se assim evidente que o tarô clássico copia um modelo mais antigo que não chegou até nós, mas que assegura a continuidade evolutiva do Tarô desde os imagiers du moyen age até a atualidade.

Outro detalhe interessante é o da evolução da tiara papal na iconografia do Tarô. A tiara (com seu simbolismo sobre a existência dos três reinos ou mundos) não é um elemento litúrgico que permaneceu invariável ao longo da História. Boa parte dos estudiosos tende a concluir que as composições das tiaras representadas no Tarô clássico foram inspiradas em gravações anteriores ao século XV, possivelmente dos fins do primeiro milênio.

Tarô de Oswald Wirth

luva papal ornada com a cruz-de-malta indica também a origem remota da imagem, já que desde os tempos de Inocêncio III (1197-1216) a cruz havia sido substituída por uma plaqueta circular.

Arcano da capacidade adivinhatória, da intuição filosófica, do conhecimento espontâneo, o Pontífice simboliza também (por seu número) o homem como intermediário entre a divindade e o plano das coisas criadas.

A soma destes simbolismos permite associá-lo ao mediador por excelência, o pacifista, o construtor de pontes, o que encontra a saída para situações aparentemente insolúveis, mediante um luminoso clarão intuitivo.

O Papa também é visto como representante da lei moral, não escrita, que domina a consciência. As sete pontas da cruz que segura em sua mão direita simbolizam o setenário (A Lei de Sete) em suas diversas expressões, entre elas as sete virtudes necessárias para vencermos os sete pecados capitais. Na abordagem astrológica associa-se: orgulho-Sol, preguiça-Lua, inveja-Mercúrio, cólera-Marte, luxúria-Vênus, gula-Júpiter e avareza-Saturno.

Para correlações entre as virtudes e as cartas do Tarô, veja As Sete Virtudes Cristãs e o Tarôcom comentários de vários tarólogos.

Wirth o imagina o Papa como um ancião pleno de indulgência para com as debilidades humanas, pontificando ante duas categorias de fiéis: aqueles que compreendem (representados pelo personagem com a mão para o alto); e os que formam o rebanho cego e inconsciente que obedece por temor ao castigo, e não por autodeterminação (representados pelo personagem que aponta a mão para o chão). Estas combinações (alto e baixo, direita e esquerda) voltam a colocar a ordem do quaternário como modelo de organização.

Considerado do ponto de vista do quaternário formado pelos arcanos anteriores, o Pontífice representaria o conteúdo da forma, a quintessência concebível (se bem que imperceptível), o domínio da quarta dimensão.

  VI. Os Namorados (Os Enamorados ou Os Amantes)

O Arcano da Iniciação, da Castidade e do Livre arbítrio

Os Enamorados (1750)

Tarô Marselha Camoin

Um homem, entre duas mulheres, é visado por uma flecha que parece pronta para ser disparada por um anjo, Cupido, à frente de um disco solar.

O homem, no centro do grupo, olha para a mulher da esquerda. Ele tem cabelos louros, as pernas descobertas, e sua vestimenta é uma túnica de listas verticais, com um cinto amarelo, sobre o qual se apoia a sua mão direita.

A mulher da direita, com os cabelos louros soltos sobre os ombros, tem um rosto jovem, fino. A mão esquerda está pousada sobre o peito do homem. Já o seu braço direito, conforme é muitas vezes descrito, aponta para baixo, de modo que seus braços parecem cruzados. Mas esse braço a altura de seu ventre pode, também, ser descrito como sendo do homem.

A outra mulher, a da esquerda, está representada de costas, mas o rosto aparece de perfil. Tem cabelos que escapam livremente de um curioso chapéu. Dirige a mão direita para a terra e pousa a esquerda sobre o ombro do jovem.

O anjo, de cabelos louros e asas azuis, segura uma flecha branca com uma das mãos enquanto com a outra segura um arco da mesma cor.

Do disco solar surgem 24 raios pontiagudos, um dos quais é superposto pela asa do anjo.

Significados simbólicos

Envolvimento afetivo, disposição amorosa, sentimentos.

Matrimônio, ligação, união. Integração de ambos os sexos ao poder gerador do universo.

Livre arbítrio, escolha. Maioridade. Prova.

Encadeamento, combinação, equilíbrio, enredo, abraço. Luta, antagonismo.

Interpretações usuais na cartomancia

Decisão, escolha por vontade própria. Votos, aspirações, desejos. Exame, deliberações, responsabilidades. Afetos.

É a carta da união e do matrimônio. Pode representar para os consulentes de ambos os sexos a iminência de uma escolha a ser realizada.

Mental: Amor pelas belas formas e pelas artes plásticas.

Emocional: Dedicação e sacrifícios.

Físico: Os desejos, o amor, o sacrifício pela pátria ou pelos ideais sociais, assim como todos os sentimentos manifestados fortemente no plano físico.

Desafios e sombra: Dúvida, indecisão, impotência. Má conduta, infidelidade, libertinagem. Debilidade, falta de prumo.

Os Enamorados no Tarô
Charles VI (1368-1422)

Ruptura, separação, divórcio, desordem. Prova a ser vivida. Tentações perigosas, risco de ser seduzido.

O detalhe dos braços da mulher

Nas descrições do tarô classico fica muitas vezes uma dúvida com relação ao braço na altura do ventre da mulher da direita. O braço é dela ou do homem que se encontra no centro da carta? De fato, nas xilogravuras antigas os traços não são nítidos e a avaliação dependerá em grande parte do modo como a estampa foi colorida, conforme poderá ser apreciado nos exemplos abaixo:

Detalhe do braço da mulher no tarô clássico

No tarô de Marselha da editora Grimaud (1760) as mangas brancas da mulher dão a entender que é dela o braço em questão, embora o perfil da mão só pudesse ser a do personagem masculino no centro. Já no jogo restaurado em 1998 por Camoin e Jodorowsky (a primeira ilustração no alto da página), o homem e a mulher têm mangas azuis e, assim, a ambiguidade persiste. Apenas na versão do tarô de Marselha restaurado por Kris Hadar (acima, à direita), há uma alteração de detalhe no encontro dos ombros dos dois personagens e faz com que a cor amarela da manga marque o braço como sendo do homem, o personagem no centro da carta. Ou seja, como é comum na história das cartas, não faltam questões e ambiguidades…

História e iconografia

Em vasos e quadros da época romana, encontra-se com frequência a imagem de um casal de namorados ante uma terceira pessoa ou elemento (em geral um Cupido).

O Arcano VI parece referir-se de forma alegórica a uma ideia diferente: a famosa parábola de Hércules na encruzilhada entre a Virtude e o Vicio, tal como conta Xenofonte nas suas lembranças de Sócrates. É bem provável que esta parábola – e suas variantes, como a de Luciano, o Jovem, disputado pela Arte e pela Ciência, entre as mais conhecidas– tenha sido popular na Idade Média, visto que é citada por vários autores dessa época (Cícero, no Tratado dos Deveres; São Basílio, no seu Discurso aos Jovens).

A idéia fundamental deste tema – ou seja, a necessidade de escolha entre dois caminhos – encontra-se igualmente em muitas imagens cristãs. Pode-se citar como exemplo uma miniatura bizantina do século X, onde Davi está representado entre duas mulheres que simbolizam a Sabedoria e a Profecia: a pomba que pousa sobre a cabeça do rei lembra em muito o Cupido do Arcano VI.

A antiguidade desta parábola é indiscutível, mesmo que as suas representações gráficas mais remotas não tenham chegado até nos. Na vida de Apolônio de Tiana, narrada por Filostrates no final do século II, há uma curiosa passagem em que um sábio egípcio diz a Apolônio:

“Tu conheces, nos livros de imagens, a representação de Hércules em que ele, jovem, ainda não escolheu o seu caminho. O Vício e a Virtude o rodeiam, tentam atraí-lo, cada um o quer para si…”

Davi, entre a Sabedoria e a Profecia

É preciso remontar mais uma vez aos pitagóricos para encontrar o simbolismo gráfico do tema, representado entre eles pela letra Y, emblema da escolha vital que todo homem realiza no final da infância.

Tarô de Oswald Wirth

O traço da metade inferior da letra Y representaria precisamente a infância, isenta de vícios ou virtudes; os braços que partem da bifurcação da letra representariam cada uma dessas tendências, enquanto que o ponto onde a bifurcação se produz seria o momento exato em que a puberdade se manifesta.

É comum encontrar nos manuscritos medievais esta referência à letra Y: “bifurcação, ou letra de Pitágoras”. Não é casual, assim, que alguns desenhos modernos do Tarô mencionem esta lâmina como A Dúvida ou A Prova.

Esse mesmo significado é mencionado no Antigo Testamento – no Deuteronômio, no primeiro dos Salmos, e mais explicitamente ainda em Jeremias. A ideia não reaparece no Novo Testamento, mas sim no começo dos Ensinamentos dos Doze Apóstolos, texto não canônico, presumivelmente composto por volta do século II: “Dois são os caminhos; um leva à Vida e outro à Morte”.

Uma interpretação totalmente diferente vê nessa estampa o ato do compromisso matrimonial dos noivos diante do sacerdote, ou seja, a cerimônia matrimônio enquanto sacramento.  É o caso de alguns dos

célebres pintores renascentistas – Rafael, Perugino – deram testemunho dessa cerimônia na vida da Virgem.

Wirth vê no Enamorado a primeira fase individual da trajetória iniciática, quando o homem terminou a sua formação, mas não começou ainda o seu trabalho.

Outra vertente de interpretação menciona o simbolismo sexual do “senário”, partindo do sentido literal do nome da Carta.

“Entre os pitagóricos – disse Clemente de Alexandria – o seis é um numero sexual, chamando-se por esta razão O Matrimônio”.

Nas analogias geométricas, o Enamorado se identifica ao selo de Salomão, ou seja, tem claro vínculo com cópula dos triângulos entrelaçados.

Do ponto do vista psicológico, é sem dúvida a metáfora mais transparente do caminho para a identidade, que apenas se realiza no conflito e no intercâmbio com o mundo e com os outros.

Selo de Salomão

  VII. O Carro

O Arcano do Domínio, do Repouso

O Carro no Tarô Marselha

Restauro de Kris Hadar

Dois cavalos arrastam uma espécie de caixa, montada sobre duas rodas e coberta por um dossel, onde se encontra um homem coroado, que traz um cetro em sua mão direita. Na parte frontal do carro (a única visível), em boa parte dos tarôs clássicos, há um escudo com duas letras, que variam com as editoras.

Mais do que citar dois simples cavalos, podemos ressaltar que se tratam de corpos dianteiros fundidos ao carro. Os dois animais olham para a esquerda, mas a sua disposição é tal que parecem andar cada um para o seu lado. O cavalo da esquerda levanta a pata direita, e o da direita, a pata esquerda. O dossel repousa sobre quatro colunas.

O homem, que tem uma coroa do tipo das de marquês, tem a mão esquerda sobre um cinto amarelo, na altura da cintura, e na mão direita traz um cetro que termina por um ornamento esférico encimado por um cone. O peito do personagem está coberto por uma couraça. Cada um dos seus ombros está protegido por uma meia-lua, com rostos de expressão diferente.

Os cabelos do personagem são amarelos e seu olhar se encontra ligeiramente voltado para a esquerda, no mesmo sentido que o dos animais atrelados à carruagem.

Cinco plantas brotam do solo. Não aparecem rédeas ou qualquer outro meio de guiar o carro.

Significados simbólicos

Contemplação ativa, repouso. Vitória, triunfo.
O setenário sagrado, a realeza, o sacerdócio.
Magistério. Superioridade. Realização.

Interpretações usuais na cartomancia

Êxito legítimo, avanço merecido. Talento, dons, capacidade, aptidões postas em marcha. Tato para governar, diplomacia, direção competente.

Conciliação dos antagonismos, condução de forças divergentes. Progresso, mobilidade, viagens por terra.

Mental: As coisas se realizam, mas falta ainda montar as peças de conjunto.

Emocional: Afeto manifestado; protetor, serviçal.

Físico: Grande atividade, rapidez nas ações. Boa saúde, força, atividade intensa. Do ponto de vista do dinheiro: gastos ou ganhos, movimento de fundos.

Significa também notícia inesperada, conquista.

Pode ser interpretado igualmente como difusão da obra ou atividades do consulente através de palavras e, segundo sua localização na tiragem, significa elogios ou calúnias.

Desafios e sombra: Ambições injustificadas, vanglória, megalo-mania.  Falta de talento e de consideração.

O Carro no Tarô Gringonneur ou Charles VI (1368-1422)

Governo  ilegítimo, situação usurpada, ditadura. Oportunismo perigoso. Preocupações, cansaço, atividade febril e sem repouso. Perda de controle.

História e iconografia

O desfile dos heróis triunfantes de pé sobre seus carros de guerra é um costume pelo menos tão antigo quanto os próprios carros de guerra. Court de Gébelin – e com ele os que acreditam numa origem egípcia do Tarô – imagina que o Arcano VII nada mais é que a reapresentação do Osíris triunfal, e que os cavalos são uma herança vulgar da Esfinge.

Mais coerente, contudo, é relacionr essa figura às apoteoses lendárias que comoveram a Idade Média, época em que se localiza sua iconografia.

Pode também lembrar um conto do ciclo mítico de Alexandre, o Grande, reproduzido desde a Antiguidade até o Renascimento.

Levado até o Oriente pela sucessão de seus triunfos, Alexandre teria chegado até o fim do mundo. Quis então saber se era verdade que a Terra e o Céu se tocavam num ponto comum. Para isto seduziu com ardis – é preciso recordar que a astúcia é também prerrogativa dos heróis – os dois pássaros gigantes que existiam na região; prendeu-os e acomodou entre eles uma cesta.

Com uma lança na mão, em cujo extremo havia atravessado um pedaço de carne de cavalo, o conquistador subiu ao seu carro improvisado. Com a promessa de comida que oscilava diante de seus olhos, os Grifos começaram a mover-se e alçaram voo.

Apolo e o Grifo

Os heróis não podem, contudo, sobrepor-se aos deuses: na metade do caminho Alexandre  recebeu  um emissário dos deuses, um enfurecido Homem Pássaro que insistiu para que ele desistisse de seu projeto. Muito a contragosto, Alexandre aceitou a censura e atirou a lança para a Terra, para onde desceram os Grifos, impacientes e vorazes.

Essa lenda, nascida certamente no Oriente, foi introduzida na Europa no fim do século II. Estendeu-se em seguida por todo o Ocidente cristão e era conhecida desde a baixa Idade Média. Numerosas ilustrações e várias esculturas que a representam chegaram até nós. A Crônica Mundial, de Rudolph von Ems (século XIII) a reproduz em uma detalhada miniatura; em São Marcos de Veneza está o relevo talvez mais significativo para rastrear as fontes inspiradoras do Arcano VII: a cesta de Alexandre é ali uma caixa semelhante à de O Carro; aparecem também as rodas esboçadas.

Durante a Idade Média, a arte dos imagiers parece ter-se servido desta lenda como uma alegoria do orgulho.

Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.

O arcano 7 é associado à Zain, sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z; representa mobilidade, inquietude, deslocamentos rápidos, ação em ziguezague.

Há autores que relacionam as rodas do Carro aos torvelinhos de fogo da visão de Ezequiel.

Quando se traduz a lâmina pela palavra carro – protótipo dos sistemas de troca – representa o que é móvel, transferível, interpretável. Nesse caso, seu aspecto oracular é associado às mudanças provocadas pela palavra: elogios, calúnias, difusão da obra, boas ou más notícias; e, por extensão, aos sistemas de intercâmbio em geral (economia, movimento de fundos).

Aponta-se aqui a questão das relações entre esta mobilidade e o dinamismo mercurial do Prestidigitador, já que esses arcanos se encontram no início e no fechamento do primeiro setenário do Tarô.

Talvez esta analogia possa ser levada mais longe, e não parece impossível que a figura toda seja uma ilustração desta passagem bíblica. Em Ezequiel (I, 4-28), com efeito, aparecem não só as rodas, o carro e os animais, mas também “sobre o trono, no alto, uma figura semelhante a um homem  que  se  erguia sobre ele. E o que dele aparecia, da cintura para cima, era como o fulgor de um metal resplandecente”, o que é uma descrição bem próxima do personagem do Arcano VII. Nessa mesma passagem podemos encontrar também analogias válidas para o simbolismo geral do Arcano XXI (O Mundo).

Há quem veja ainda, nos animais presos, uma anfisbena (serpente de duas cabeças), ou poderes antagônicos que é necessário subjugar para prosseguir – “assim como no caduceu se equilibram as duas serpentes contrárias”. O veículo representaria o simbolismo do Antimônio (ou a Alma Intelectual dos alquimistas), mencionado como Currus Triumphalis num tratado de Basílio Valentin (Amsterdã, 1671).

A totalidade do arcano sugere, para Wirth, a ideia do corpo sutil da alma, graças ao qual o espírito pode se manifestar no campo do material. Esta ideia de um halo ou dupla transubstancial que não pode ser relacionada a nenhum dos três aspectos do homem (corpo –> alma –> espírito), mas que tende a relacioná-los entre si, gozou de um vasto prestígio esotérico: é o corpo sideral de Paracelso (ou astral, na linguagem teosófica), como também o “corpo aromático”, de Fourier, ou o Kama rupa do budismo soteriológico.

Siglas no escudo

Finalmente,cabe examinar as letras inscritas no escudo – S e M – tal como aparecem no Tarô de Marselha da Editora Grimaud.

Alguns supõem que sejam as iniciais do título Sua Majestade, o rei vitorioso em seu regresso de batalhas que comandou. Outros acreditam, que as letras S e M representem os princípios alquímicosSulfur e Mercurius, antagônicos e complementares, tais como parecem reiterados pela disposição da parelha de cavalos.

O Carro em tarôs clássicos: sem letras no escudo da carruagem – Jacques Vieville (1650) – e com letras IN no Jean Noblet (1650), VT no Nicolas Convert (1760) e FT no François Tourcaty (1800)

Ao observamos, porém, as gravuras antigas dos baralhos podemos constatar que existem evidências de que a inclusão de sílabas têm razões menos esotéricas do que alguns supõe. Há gravuras em que o escudo permanece vazio, mas em boa parte dos baralhos clássicos, o espaço é preenchido com letras que variam de jogo para jogo, usualmente com as iniciais do proprietário da casa impressora, como exemplificam as cartas acima que circularam amplamente pela Europa. Algo semelhante se passa com a carta Dois de Ouros (veja), que traz uma faixa quase sempre preenchida com o nome dos editores.

Não é este, porém, o único ponto controverso do arcano que Éliphas Lévy chamou de “o mais belo e mais completo de todos que compõem a chave do Tarô”.

 

VIII. A Justiça

O arcano do Equilíbrio, da Imparcialidade

Uma mulher, sentada num trono, tem em sua mão direita uma espada desembainhada com a ponta virada para cima, e na esquerda uma balança com os pratos em equilíbrio. A mão que segura a balança encontra-se à altura do coração.

Este personagem, que é visto de frente, está vestido com uma túnica cujo panejamento sugere uma mandorla (figura geométrica em forma de amêndoa; veja arcano 21 – O Mundo), espaço de conciliação das polaridades.

Não se veem os pés da mulher nem a cadeira propriamente dita. Aparece, em compensação, com toda nitidez, o espaldar do trono: as esferas que o arrematam estão talhadas de maneira diferente.

Significados simbólicos

Justiça, equilíbrio, ordem.

Capacidade de julgamento.

Conciliação entre o ideal e o possível. Harmonia. Objetividade, regularidade, método.

Balança, avaliação, atração e repulsão, vida e temor, promessa e ameaça.

Interpretações usuais na cartomancia

Estabilidade, ordem, persistência, normalidade. Lei, disciplina, lógica, coordenação. Flexibilidade, adaptação às necessidades. Opiniões moderadas. Razão, sentido prático. Administração, economia. Obediência.

Soluções boas e justas; equilíbrio, correção, abandono de velhos hábitos.

Mental: Clareza de juízo. Conselhos que permitem avaliar com justeza. Autoridade para apreciar cada coisa no momento oportuno.

Emocional: Aridez, secura, consideração estrita do que se diz, possibilidade de cortar os vínculos afetivos, divórcio, separação. Este arcano representa um princípio de rigor.

Físico: Processo, reabilitação, prestação de contas. Equilíbrio de saúde, mas com tendência a problemas decorrentes de excessos (obesidade, apoplexia), devido à imobilidade da carta.

Desafios e sombra: Perda. Injustiça. Condenação injusta, processo com castigo. Grande desordem, perigo de ser vítima de vigaristas. Aburguesamento.

A representação da Justiça como uma mulher com balança e espada (ou livro) data provavelmente de um período remoto da arte romana.

Durante a primeira parte da Idade Média, espada e balança passaram a ser atributos do Arcanjo Miguel, comumente designado por Micael ou São Miguel, que parece ter herdado as funções do Osíris subterrâneo, o pesador de almas.

Mais tarde estes elementos passam para as mãos da impassível dama, da qual há figurações relativamente antigas na arte medieval: um alto-relevo da catedral de Bamberg, datado de 1237, a representa deste modo.

Tudo indica que a iconografia do Arcano VIII seguiu com bastante fidelidade a tradição artística.

A espada e a balança são, para Aristóteles, os elementos representativos da justiça: a primeira porque se refere à sua capacidade distributiva; a segunda, à sua missão equilibradora. Ao contrário das alegorias inspiradas na Têmis grega, a Justiça do Tarô não tem venda sobre os olhos.

É comum relacionar este arcano ao signo zodiacal de Libra. Ele representa, como aquele, nem tanto a justiça exterior ou a legalidade social, mas sim a função interior justiceira que põe em movimento todo um processo psíquico (ou psicossomático) para determinar o castigo do culpado, partindo já da ideia de que “a culpa não é, em si, diferente do castigo”.

Também se atribui à balança uma função distributiva entre bem e mal, e a expressão do princípio de equilíbrio. A espada, por sua vez, representa a sentença, a decisão psíquica, a palavra de Deus.

Na repartição do Tarô em três setenários, a ordem que Oswald Wirth estabelece é descendente, correspondendo aos arcanos I-VII a esfera ativa do Espírito; aos VIII-XIV, a esfera intermediária, anímica; aos arcanos XVI-XXI, a esfera passiva do Corpo.

O segundo setenário – que se inicia com a Justiça – corresponde à Alma ou ao aspecto psicológico da individualidade.

“O primeiro termo de um setenário – diz Wirth – desempenha necessariamente um papel gerador. Assim, o espírito emana da Causa Primeira (O Prestidigitador), a alma procede do Arcano VIII, e o corpo, do XV (O Diabo)”.

Examinado do ponto de vista dos ternários, a Justiça (8), ocupa o segundo termo do terceiro ternário, sendo precedida pelo Carro (7), que cumpre aí a função geradora, enquanto ela, a Justiça, passa a exercer a função de organizadora.

<– A Justiça no Tarô de Oswald Wirth

Neste sentido – confirmado por sua localização na ordem dos ternários – Wirth ressalta o caráter esotérico do Arcano VIII: nada pode viver sem cobrir a distância entre a origem e o equilíbrio, já que os seres não existem a não ser em virtude da lei à qual estão submetidos.

É interessante também analisar a correspondência simbólica entre aJustiça (8) e o Imperador (4), já que há uma aliança evidente entre os princípios de Poder e Lei e a busca da harmonia do governo (de um estado, de uma situação, da individualidade). Vale lembrar a esse respeito que, tradicionalmente, cabe ao soberano a aplicação da justiça.

Na mitologia grega, Zeus gera em Têmis (a fraternal divindade justiceira do Olimpo), entre outras filhas, as Horas ou Quatro Estações, e Diké (ou Diqué), a personificação da Justiça. Essa filiação permite relacionar o Arcano VIII à ordem do quaternário, detalhe que já se evidencia a partir de seu número (8 = 2 x 4).

Diké, a deusa grega da Justiça –>

IX . O Eremita

O Arcano da Busca do Conhecimento e do Iniciado

O Eremita ou Ermitão (VIIII) é representado por um homem, de pé, tem na mão esquerda um bastão que lhe serve de apoio, enquanto que com a direita levanta uma lanterna até a altura do rosto. Está representado de três quartos, com o rosto voltado para a esquerda. Veste uma grande túnica e um manto azul com o forro amarelo. Seu capucho, caído sobre as costas, parece continuar a túnica e é arrematado por uma borla amarela.

A lâmpada, aparentemente hexagonal, tem apenas três de seus lados visíveis, sendo o central vermelho e os restantes amarelos.

O fundo da gravura é incolor, e o chão de um amarelo estriado de listas negras, muito semelhante ao reverso do manto.

Significados simbólicos

O Iniciado, o buscador incansável. Sabedoria, iluminação, estudo, autoconhecimento.

Meditação, recolhimento, saber desligar-se. Reavaliação da vida e dos objetivos.

Concentração, silêncio. Profundidade.

Prudência. Reserva. Limites. Influência saturnina.

Interpretações usuais na cartomancia

Austeridade, moderação, sobriedade, discrição. Médico experiente, sábio que cala seus segredos. Celibato. Castidade.

Mental: Contribuição luminosa à resolução de qualquer problema. Esclarecimento que chegará de modo espontâneo.

Emocional: Alcançar as soluções. Coordenação, encontro de afinidades. Significa também prudência, não por temor, mas para melhor construir.

Físico: Segredo descoberto, luz que se fará sobre projetos até agora ocultos. Na saúde: conhecimento do estado real, consultas que podem remediar os problemas.

Desafios e sombra: Obscuridade, concepção falsa de uma situação. Dificuldades para nadar contra a corrente. Timidez, isolamento, depressão, recusa de relações. Ritualismo

Mutismo, circunspecção exagerada, isolamento, caráter fechado. Avareza, pobreza. Conspirador. Taciturno. Obssessivo.

Tarô Visconti Sforza (1450) –>

História e iconografia

O Ermitão é, sem dúvida, um dos arcanos menos alegóricos do Tarô. A imagem de um peregrino em hábito de monge, portando um cajado, pode ser encontrado em dezenas de iluminuras em manuscritos dos séculos XV e XVI. O único detalhe que o afasta desta monotonia é a lâmpada que leva na mão direita: por ela imagina-se que seja uma ilustração da conhecida história de Diógenes em busca de um homem honesto. Esse relato foi muito popular na alta Idade Média e no Renascimento e, de fato, vários modelos renascentistas do Tarô chamam o Arcano VIIII de Diógenes.

Alguns estudiosos acreditam que boa parte do simbolismo do Ermitão liga-se aos princípios fundamentais desse filósofo cínico: desprezo pelas convenções e vaidades, isolamento, renúncia à transmissão pública do conhecimento.

O Ermitão, ou Eremita, no Tarôt de Oswald Wirth

Tarô de Oswald Wirth

Mas este mutável personagem teve ainda outras representações: no tarocchino de Bolonha, aparece com muletas e asas; no de Carlos VI, tem uma ampulheta no lugar da lâmpada (o que o associa a Cronos ou Saturno, medidores do tempo).

Outra interpretação surge ainda do aparente erro ortográfico que se pode ver no Tarô de Marselha, onde a carta figura como L’Hermite em lugar de L’Ermite. Etimologicamente, o nome não derivaria então do grego eremites, eremos = deserto, mas provavelmente de Hermes e seu polivalente simbolismo. A esse respeito, podemos lembrar que é precisamente a Thot, equivalente egípcio de Hermes, que Gébelin e seus seguidores atribuem a invenção do Tarô.

Wirth explica os atributos do Eremita como termo final do terceiro ternário do Tarô, relacionando-o com os arcanos VII e VIII, que o precedem nesse ternário. Nessa relação, O Carro aparece como o homem jovem e impaciente para realizar a obra do progresso, que A Justiça se encarrega de retardar, amiga como é da ordem e pouco amante das improvisações; O Ermitão seria o conciliador deste antagonismo, evitando tanto a precipitação quanto a imobilidade.

Muitos autores interpretam o seu significado como oposto e complementar ao do Arcano V (O Pontífice): o Eremita não é o codificador da liturgia, o responsável executivo de uma igreja, o pastor de um rebanho: seu pontificado é silencioso e sutil, seus discípulos são escolhidos. Na relação iniciática, é evidente que representa o “guru” e por isso foi definido como “o artesão secreto do futuro”.

  X. A Roda da Fortuna (ou Roda do Destino)

O Arcano dos Ciclos de Ascensão e Queda

Sobre o aro de uma roda de seis raios, suspensa no ar por um suporte, seguram-se três animais estranhos. O fundo é branco; o chão está cortado por listas negras. A roda se apóia sobre dois pés ou suportes paralelos; o da esquerda não chega ao eixo.

Do centro da roda saem seis raios – azuis até menos da metade e em seguida brancos – que se fixam na parte interna do aro: dois deles formam ângulo reto com o chão; os outros quatro representam um xis (ou o dez romano, número da carta, ou ainda uma cruz de Santo André).

À direita, um animal intermediário entre cachorro e lebre (com patas traseiras que não combinam com esses animais) parece subir pela roda; à esquerda, uma espécie de macaco desce de cabeça para baixo. Na parte superior, uma plataforma suporta uma figura que pode ser vista como uma esfinge coroada; três das suas patas repousam sobre a base, enquanto a pata anterior esquerda empunha uma espada desembainhada.

<–Tarô de Marselha-Camoin (1750)

Significados simbólicos

Os ciclos sucessivos na natureza e na vida humana. As fases da manifestação, o movimento de ascensão e de declínio.

A mobilidades da coisas, as Influências lunares e mercurianas.

Interpretações usuais na cartomancia

Boa sorte, louvor, honra.

Alternativas da sorte. Instabilidade.

Esperteza, presença de espírito que não deixa escapar as boas oportunidades. Iniciativa feliz, adivinhação de ordem prática, sorte. Êxito casual, como o ganho na loteria. Espontaneidade, disposição inventiva.

Animação, brio, bom humor.

Mental: Lógica, regularidade. Juízo equilibrado e sadio.

Emocional: Traz animação e reforça os sentimentos.

Físico: Os acontecimentos não serão estáveis, porque necessitam de uma mudança, uma evolução. Esta mudança tende a ser para melhor, no sentido do desenvolvimento.

Segurança na dúvida. Do ponto de vista da saúde: não haverá problemas circulatórios. Bons augúrios para um futuro casamento.

Desafios e sombra: A transformação se fará com dificuldade, mas poderá ocorrer quando fizer falta. É preciso modificar desde o princípio, partir de outras bases. Descuido.

Especulação, jogo, abandono ao azar.

Insegurança. Imprevisão, caráter boêmio, pouca seriedade.

Situação instável de ganhos e perdas. Aventuras, riscos. Diminuição da sorte.

História e iconografia

Uma das alegorias mais antigas e populares, a imagem que reproduz o Arcano X causa uma impressão estranha ao observador contemporâneo. Isto se deve ao fato de que nos últimos séculos a iconografia do tema tornou-se puramente verbal: qualquer um entende o conceito de “roda do destino”, mas dificilmente se faz dela uma representação visual. Desde a Antiguidade Clássica, contudo, até o Renascimento, foi justamente o contrário que aconteceu.  Em vários textos romanos descreve-se o Destino como uma mulher cega, louca e insensível, que atravessa a multidão caminhando sobre uma pedra redonda (para simbolizar a sua instabilidade); a roda aparece com frequência nos sarcófagos, como evidente alusão ao caráter cíclico da vida.

Até o final do primeiro milênio não se encontram outros exemplos valiosos sobre o tema, mas depois de alguns séculos ele ressurge com total esplendor. É na sua plenitude iconográfica que o reencontramos a partir de meados do século XIII em rosetas de várias catedrais góticas (Amiens, Trento, Lausanne) e de numerosas igrejas: pequenas figuras, representando os momentos e estados da vida, que sobem e descem pelos raios de uma roda.

Ilustração no livro Hortus Deliciarum (Jardim das Delícias)

Um exemplo muito antigo pode ser visto no Hortus deliciarum, de Herrade de Landsberg, abadessa do claustro de Santa Odília (Estrasburgo), morta em 1195. Nesta imagem completa, como em muitas posteriores, quatro personagens que aparecem representados como reis, são movidos pela roda que é manejada pelo Destino ou Fortuna em pessoa.

As legendas que acompanham os personagens não deixam dúvida sobre o significado da alegoria: Spes, regnabo (esperança, reinarei), diz o rei ascendente da esquerda; Gaudium, regno! (Alegria, reino!), exclama o que se encontra sobre a plataforma superior; Timor, regnavi… (Temor, reinava…) murmura o da direita, que desce de cabeça para baixo; enquanto que o quarto, que foi atirado da roda e jaz na terra, aceita a evidência da sua condição: Dolor, sum sine regno (Dor, estou sem reino).

É evidente que,  numa leitura alegórica,  os quatro personagens não passam de apenas um, submetido às variações do destino.

Tarô de Oswald Wirth

 

O simbolismo deste personagem quatro-em-um refere-se também às fases da lua e às idades do homem (infância, juventude, maturidade, velhice).

A substituição dos reis por animais ou monstros é um pouco mais tardia (século XIV, ou final do XIII), mas a ideia que este arcano simboliza é certamente mais antiga que a civilização ocidental.

Wirth vê no livro de Ezequiel, o profeta que antecipa a queda de Jerusalém, a explicação transparente do Arcano X. No plano simbólico, segundo esse autor, muitos dados podem ser extraídos do simbolismo geral da roda. “Refere-se em última instância à decomposição da ordem do mundo em duas estruturas essenciais e distintas: o movimento rotatório e a imobilidade; a circunferência da roda e seu centro, imagem do ‘motor imóvel’ aristotélico”.

O aspecto solar e zodiacal do simbolismo da roda a relaciona sem dúvida com o conceito dos ciclos (o dia, as estações, a vida do homem), ou seja, daquele que nasce para morrer, mas que também morre para ressuscitar.

René Guénon afirma que a roda é símbolo de origem céltica e assinala seu parentesco com as flores emblemáticas (rosa no Ocidente, lótus no Oriente), com as rosetas das catedrais góticas e, em geral, com as figuras mandálicas. No taoísmo aparece como metáfora do processo ascendente-descendente (evolução e involução, progresso espiritual e regressão).

  XI. A Força

O Arcano da Virtude e do predomínio da Qualidade

Uma mulher abre com as duas mãos as mandíbulas de um leão. É vista de três quartos e olha para a direita; o leão, por sua vez, está de perfil. A mão direita da mulher, está apoiada no focinho do leão, enquanto que a esquerda segura o maxilar inferior.

O personagem veste uma saia azul e uma capa ou manto vermelho, com laterais de tamanhos diferentes, já que a da direita chega ao chão enquanto que a da esquerda não passa da cintura.

Todas as partes visíveis de seu corpo estão representadas em cor carne; tem ainda um chapéu, cuja forma lembra o do Prestidigitador (O Mágico).

Do leão, vê-se apenas a cabeça, a juba e as patas dianteiras. O fundo e o chão são incolores. Em algumas versões, a sandália da mulher, que surge sob a roda da saia, parece apoiar-se no ar.

Significados simbólicos

Virtude. Coragem. Potência anímica. Integração harmoniosa das forças vitais.

Força moral, autodisciplina, controle.

Interpretações usuais na cartomancia

Energia moral, calma, coragem. Espírito que domina a matéria. A inteligência que doma a brutalidade. Subjugação das paixões.

Lucro nos empreendimentos empresariais.

Mental: Esta carta traz uma grande agudeza para distinguir entre o verdadeiro e o falso, o útil e o inútil, e uma clareza precisa na avaliação.

Emocional: Domínio sobre as paixões, poder de conquista. Para uma mulher que está para se casar: conseguirá que sua personalidade não seja anulada pelo afeto que sente pelo marido. Proteção afetuosa.

Físico: Vontade para vencer os obstáculos, domínio da situação; faz valer seus legítimos direitos. Capacidade para tomar direção em todos os assuntos materiais.

Desafios e sombra: A pessoa não é dona da sua força; é brutal, desatenta, deixa-se levar pelo poder em vez de utilizá-lo. Os fatos ou as pessoas o abatem; sua força será aniquilada, e será vítima de forças superiores. Impaciência.

Cólera, ardor incontido. Insensibilidade, crueldade. Incêndio.

Lutas, conquista violenta. Cirurgia. Veemência, discórdia.

 

A Força no Tarocchi de Mantegna

‘Forteza’ – Força (1465)

Carta 36 no Tarô de Mantegna

História e iconografia

A Força, simbolizada pelo homem triunfante sobre os animais ou sobre a natureza, foi amplamente glorificada na literatura antiga e na arte medieval. No Antigo Testamento aparece a história de Sansão, e na mitologia greco-latina a saga dos trabalhos de Hércules.A batalha do herói com o leão de Nemeia foi usada provavelmente como alegoria da força desde a antiguidade mais remota: nas escavações realizadas nos arredores de Troia, encontrou-se um capacete do século VII a.C. com o desenho de um homem que abre com as mãos as mandíbulas de um leão. A Idade Média recorre com frequência a esta imagem, como símbolo da força moral e espiritual, usando como protagonista Sansão ou então o Rei Davi.

No Tarô, porém, trata-se de uma mulher que representa a Força, na mais difundida alegoria do leão (versão de Marselha), aos lado da representação que incluias colunas (Tarô de Carlos VI e Mantegna).

O antecedente mais ilustre desta transposição alegórica é a lenda grega de Cirene, a ninfa caçadora que envergonhou e seduziu o instável Apolo.

Píndaro conta de uma excursão do deus até o monte Pelion, na Tessália, para a qual ele teria partido excepcionalmente bem armado, a fim de se prevenir dos perigos que poderiam lhe acontecer em tão longa travessia; ali encontrou Cirene, que “sozinha e sem lança alguma combatia um imenso leão…”

Embora o Arcano XI seja uma ilustração perfeita desta lenda, não se encontra um só exemplo que a reproduza nos manuscritos medievais. Iconograficamente, a carta da Força seria assim uma das contribuições mais originais do Tarô.

Uma instrução curiosa, escrita na margem de uma página de  La Somme du Roi,  manuscrito do ano de 1295, orienta o pintor que iria ilustrar os textos. Embaixo do número 12, pode-se ler: “Aqui vai uma dama de pé que domina um leão. O nome da dama é Força”. Mas a miniatura nunca foi executada.

A dama serena e triunfante do Arcano XI encerra a primeira metade do Tarô; representa, assim, a culminação da via seca e racional inaugurada pelo Prestidigitador. Do ponto de vista iconográfico, liga-se a ele pela expressão corporal – de pé, em atitude de ação repousada e, fundamentalmente, pelo chapéu que segue no seu desenho o signo do infinito.

Um exercício curioso de “adição e redução mística” permite relacionar as quatro figuras femininas da primeira parte do Tarô. Com efeito: 3 (Imperatriz) + 8 (Justiça) = 11 (Força), que se reduz a: 11 = 1 + 1 = 2 (Sacerdotisa). Partindo da via seca (masculina) dos arcanos, este esquema feminino (úmido e intuitivo) se presta a múltiplas especulações combinatórias.

Alguns estudiosos vêem na Força uma clara alusão zodiacalLeão vencido por Virgem, ou, o que dá no mesmo, o calor ardente, que corresponde à plenitude do verão, domado pela antecipação serena do outono (no hemisfério norte).

Neste sentido é preciso interpretar a parábola esotérica do Arcano XI: o personagem não mata o leão, mas o doma; a sabedoria consiste em não desprezar o inferior, em não aniquilar o que é bestial, mas sim em utilizá-lo. Não é outro o resultado natural que se depreende da Grande Obra alquímica.

XII. O Pendurado (O Enforcado)

O Arcano da Fé, da aspiração Espiritual

 

Um homem está suspenso, pelo pé, numa trave de madeira que se apoia em duas árvores podadas. Os dois suportes são amarelos e cada um conserva seis tocos da poda, pintados de vermelho; terminam em forquilha, sobre as quais repousa o pau superior. São verdes as duas bases das quais nascem as árvores da provação, e nos quais brotam plantas de quatro folhas. A corda curta que suspende o homem desce do centro da barra transversal. [Conf. ilustração, ao lado, do Tarô de Marselha – Grimaud]

O personagem veste uma jaqueta terminada em saiote marcado por duas meias-luas, à direita e à esquerda, que podem ser bolsos. O cinto e o colarinho da jaqueta são brancos, assim como os dez (ou nove) botões – seis acima e quatro (ou três) abaixo da cintura.

A cabeça do Enforcado encontra-se no nível da base das árvores. Suas mãos estão ocultas atrás da cintura. Naturalmente, a perna pela qual está suspenso – a esquerda – permanece esticada, enquanto que a outra está dobrada na altura do joelho, cruzando por trás a perna esquerda.

Significados simbólicos

Abnegação. Aceitação do destino ou do sacrifício.
Provas iniciáticas. Retificação do conhecimento. Gestação. Exemplo, ensino, lição pública.

Interpretações usuais na cartomancia

Desinteresse, esquecimento de si mesmo. Submissão ao dever, sonhos generosos. Patriotismo, apostolado. Filantropia, entrega a uma causa. Sacrifício pessoal. Ideias voltadas para o futuro. Semente.

Mudança de vida, iniciação, abertura espiritual, sacrifício por algo valioso. Paz interior, nova visão do mundo.

Mental: Possibilidades diversificadas, flutuações. Indica coisas em processo de amadurecimento; não define nem conclui nada.

Emocional: Falta de clareza, indecisão, particularmente no campo afetivo.

Físico: Abandono de algumas coisas, renúncias, projetos duvidosos. Impedimento momentâneo para a ação. Um assunto iniciado é abandonado e só poderá ser resolvido através de uma ajuda. Do ponto de vista da saúde: transtornos circulatórios.

Desafios e sombra: Êxito possível, mas parcial, sem satisfação nem prazer, sobretudo em projetos de ordem sentimental.

Reticências, planos ocultos. Resoluções acertadas, mas que não se executam; projetos abortados; plano bem concebido que fica na teoria. Promessas não cumpridas, amor não correspondido.

Impotência. Perdas. Autorrenúncia, passividade. Risco de bons sentimentos serem desviados para ações condenáveis.

História e iconografia

Em 1591 – tomando como testemunho a História Eclesiástica de Eusébio – Galônio descreveu as torturas sofridas pelos mártires dos primeiros séculos da cristandade. “As mulheres cristãs – escreve – eram frequentemente suspensas pelo pé durante todo um dia, e os algozes faziam de tal modo que suas partes mais íntimas ficavam a descoberto, de maneira a mostrar o maior desprezo possível à santa religião de Cristo”.

Crucificação de Pedro. 
Afrescoi de Filippino Lippi (1457-1504),
na Cappellla Brancacci, Florença, Italia.

www.jesuswalk.com

suspensão pelo pé foi amplamente executada pelos supliciadores romanos e há testemunhos também de vítimas medievais. Uma canção de gesta do século XIII informa que este castigo foi aplicado a um trovador por um dos duques de Brabante, quando este o surpreendeu em diálogo mais que musical com a duquesa.

Mas o enforcamento pelo pescoço, mortal, tem histórias mais remotas e, no caso de Judas, trata-se de um gesto autoimposto na sequência do sacrifício que fez para que se cumprissem as profecias.

Uma tradição que vem dos primórdios da Igreja cristã é a de que um outro apóstolo, Pedro, teria insistido em ser crucificado de cabeça para baixo por não se sentir digno de reproduzir o suplício de Cristo.

No que diz respeito às artes gráficas, há inúmeras miniaturas dos séculos XIII e XIV com reproduções de santos e mártires pregados pelos pés a uma barra elevada. Mas é preciso chegar aos fins do século XV para descobrir uma imagem análoga à do Enforcado do Tarô.

De outro ponto de vista, pode-se dizer que a Antiguidade nos deixou vários testemunhos de figuras invertidas que em nenhum caso poderiam ser ligadas ao suplício.

Essa postura é adotada com frequência por divindades nuas assírio-babilônicas, nos cilindros de argila que reproduzem cenas de conjunto.

É possível imaginar que as deusas nesta posição significavam outra coisa: propunham uma leitura ritual que, agora, parece absurda ou incompreensível.

Alguns estudiosos lembram, a esse respeito, os ensinamentos que atribuem ao homem o papel de estabelecer a ligação entre o Céu e a Terra, num espaço definido que o preserva de influências e contaminações. “Toda suspensão no espaço participa do isolamento místico, sem dúvida relacionado à ideia de levitação e de vôo onírico”.

Muitas lendas, de diferentes origens, atribuem aos enforcados características mágicas e os dotam de vidência e mediunidade.

Para Wirth, interessado pelo simbolismo iniciático, o protagonista do Arcano XII é homólogo ao do Prestidigitador (I), já que também inicia uma das vias, mas partindo do extremo oposto. Vê, assim, o Pendurado como o princípio de intuição pelo qual o ser humano pode alcançar um resplendor de divindade: como colaborador da grande obra que mudará para o bem a carga negativa do universo; como a vítima sacrifical para a redenção.

Atribuem-se ainda, ao arcano, virtudes divinatórias e telepáticas; é com frequência relacionado com a arte e a utopia. Alguns o veem como arcano possessivo, mas é necessário compreendê-lo num sentido puramente idealista, como manifestação de amor que carece de objeto individual (amor ao próximo).

Uma especulação interessante pode ser feita partir de seu número na ordem do Tarô, que o relaciona ao décimo-segundo signo do zodíacao, Peixes, ou ainda ao conjunto do simbolismo zodiacal e ao dodecadenário: os doze signos e os doze meses do ano, os doze apóstolos, as doze tribos de Israel…

XIII. A Morte (ou Arcano sem Nome)

O Arcano das Transmutações e da Vida Eterna

Esta carta, comumente designada como “Morte”, não tem nome algum inscrito no tarô de Marselha ou em suas suas variantes mais recentes. No entanto, em jogos similares franceses, do século 17, o título “La Mort” está presente, como se vê, mais abaixo, na carta do baralho impresso por Jean Noblet.

Um esqueleto revestido por uma espécie de pele tem uma foice nas mãos. Do chão negro brotam plantas azuis e amarelas entre restos mortais de seres humanos. O fundo não está colorido.

No primeiro plano, à esquerda, uma cabeça de mulher; à direita, uma cabeça de homem com uma coroa.

Um pé e uma mão aparecem também no chão; outras duas mãos – uma mostrando a palma e outra as costas – brotam atrás, ultrapassando a linha do horizonte.

O esqueleto está representado de perfil e parece dirigir-se para a direita. Maneja a foice, sobre a qual apoia as duas mãos. Em algumas variantes, seu pé direito não está visível.

Para o iniciante, mostra-se como a carta mais temível, mas os estudos simbólicos ajudam a entender um outro sentido no plano da evolução humana.

Significados simbólicos

Grandes transmutações e novos espaços de realização.

Dominação e força. Renascimento, criação e destruição.

Fatalidade irredutível. Fim necessário.

La Mort (A Morte)

Tarô Jean Noblet (1650)

 

Interpretações usuais na cartomancia

Fim de uma fase. Abandono de velhos hábitos.
Profundidade, penetração intelectual, pensar metafísico. Discernimento severo, sabedoria drástica. Resignação, estoicismo, dom para enfrentar situações difíceis. Indiferença, desapego, desilusão.

Mental: Renovação de ideias, total ou parcial, porque algo vai intervir e tudo transformar; como um fenômeno catalisador ou um corpo novo que modifica totalmente a ação do corpo atual.

Emocional: Afastamento, dispersão. Destruição de um sentimento, de uma esperança.

Físico: Morte, perdas, imobilidade. Completa transformação nos negócios ou atividades.

Desafios e sombra: Do ponto de vista da saúde, estagnação de enfermidade ou processo. A morte poderá ser evitada, mas em troca de uma lesão incurável. Segundo sua posição, pode significar a morte, em seus múltiplos matizes, mas também maus, más notícias.

Prazo fatal. Xeque-mate inevitável, mas não provocado pela vítima.
Ânimo baixo, pessimismo, perda de coragem.
Interrupção de um processo para começar de modo diametralmente oposto.

História e iconografia

E provável que a alegoria da morte representada como um esqueleto com a foice, seja original do Tarô; se isto for verdade, trata-se de uma das contribuições fundamentais feitas pelas cartas à iconografia contemporânea, considerando a ampla popularidade desta metáfora macabra.

Van Rijneberk divide o estudo deste arcano em três aspectos: o número treze, o esqueleto, a foice. Como emissário de uma premonição sombria, o treze tem seu antecedente cristão nos comensais da Última Ceia, de onde a tradição extraiu um conto bastante popular da Idade Média: quando treze pessoas se sentam à mesa, uma delas morrerá em breve.

Esta superstição seria herdeira de outras versões mais antigas: Diodoro da Sicília, contemporâneo do imperador Augusto, explica desse modo a morte de Filipe da Macedônia, cuja estátua havia sido colocada junto as dos 12 deuses principais, dias antes de ser assassinado.

Simbolicamente, o número 13 representa aunidade superadora do duodecimal, ou seja, a morte necessária de um ciclo completo, que implica também – ainda que este aspecto tenha sido esquecido na transmissão popular – a ideia consequente de renascimento.

Na arte cristã primitiva não há traços da representação devastadora deste símbolo. Tal fato não será estranho se lembarmos das ideias centrais dos catecúmenos, ou seja, a morte entendida como pórtico de uma vida melhor.

Dança da morte

Gravura em madeira (1493) – www.deathreference.com

A arte dos primeiros séculos transmite a confiança na proximidade do Juízo Final (e a consequente ressurreição da carne), o que traduz a absoluta falta de medo frente a um estado transitório.

O esqueleto propriamente dito só aparece em todo o seu esplendor nas Danças da morte, disseminadas pelos cemitérios e claustros europeus, quase que simultaneamente, e com certeza não antes do séc. XV.

As pestes, no final do séc. XIV, evocam a morte inelutável. Reis ou vassalos, todos são afetados.

Danse Macabre de Bernt Notke, 1440-1509, na Igreja de S. Nicolau, em Tallinn, Estônia. (www.wikipedia.com)

O tema das composições desse período mostra-se idêntico em todos os lugares: o esqueleto se apodera (o matiz está apenas no grau de violência ou gentileza) de criaturas humanas de ambos os sexos, de qualquer idade e condição.

Outro elemento que as Danças da morte têm em comum é que todas são posteriores ao Tarô, de cuja popularidade puderam extrair o encanto de suas imagens.

Oswald Wirth também não coloca nome na carta 13

 

Nestas danças, no entanto, não há esqueletos com foices, mas sim com diversos objetos (uma espada, um arado, um par de tesouras, um arco e flechas) que se referem em geral ao ofício da pessoa que será levada pela morte.

Em Joel (4,13), Mateus (13,39), Marcos (4,29) e no Apocalipse (14,14-20) podem ser encontradas metáforas bíblicas em que se fala da foice como instrumento de justiça empunhado por Jeová, pelo Filho do Homem e, mais tarde, pelos anjos: como derivação deste princípio moral.

Os esotéricos não veem a morte como falha ou imperfeição: as formas se dissolvem, variam de aparência quando se tornam incapazes de servir ao seu destino. Desse modo, entre o Imperador e a Morte(primeiros termos do segundo e do quinto ternário, respectivamente), há apenas uma diferença de matizes: ao esplendor máximo do poder e da matéria sucede sua extinção, que é uma conseqüência lógica e também uma necessidade. Como parábola do processo iniciático em oposição à vida corrente, é talvez o arcano mais explícito: “O profano deve morrer – lembra Wirth – para que renasça a vida superior que a Iniciação concede”.

A morte guarda relações simbólicas com a terra, com os quatro elementos, e com a gama de cores que vai do negro ao verde, passando pelos matizes terrosos. Também é associada ao esterco, menos pelo que este possa ter de desagradável do que pelo processo de transmutação material que representa.

XIV. A Temperança

O Arcano da Inspiração e da Alquimia

Um anjo com rosto feminino derrama o conteúdo de um vaso em outro. O personagem é visto de frente, com o rosto ligeiramente inclinado para a esquerda e para baixo, e o tronco voltado na mesma posição.

Sua vestimenta tem várias cores: azul, de cada lado do corpete, e na metade esquerda da saia; vermelho, nas mangas e na outra parte da saia. As asas são azuis (ou cor de pele, na edição Grimaud). Os pés permanecem ocultos pelas pregas da saia.

A flor no topo da cabeça, o botão amarelo no meio do peito (ou um panejamento dourado, em outras versões), salientam chacras ativos do personagem.

Três linhas onduladas unem os vasos que o anjo segura; o líquido derramado pode representar as energias em transmutação.

Na edição Camoin (ilustração ao lado), a barra do vestido, em amarelo, representaria serpentes entrelaçadas, sob controle do anjo, aos seus pés. Ou seja, representa seu vínculo com a circulação das energias em diferentes níveis de manifestação.

Significados simbólicos

A elaboração cuidadosa das polaridades. A transmutação dos elementos e a alquimia.
Renovação da vida, abertura às influências celestes, circulação, adaptação, flexibilidade.
Serenidade. Harmonia. Equilíbrio.

Interpretações usuais na cartomancia

Tolerância, paciência, praticidade, felicidade. Aceitação dos acontecimentos, flexibilidade para adaptar-se às circunstâncias. Educação, trato social. Caráter elástico para enfrentar as transformações. Temperamento descuidado.

Mental: Espírito de conciliação, ausência de paixões no julgamento; dá o sentido profundo às coisas, na medida em que representa um princípio eterno de moderação. Exclui a rigidez, o emperramento. Corresponde à disposição de flexibilidade e de maleabilidade.

Emocional: Os seres se reconhecem e se encontram por suas afinidades. Sob a influência desta carta são felizes, mas não evoluem e não conseguirão se livrar um do outro.

Físico: Conciliação nos negócios, atividades e empreendimentos. Dá estímulo para pesar os prós e contras, encontrar a maneira de estabelecer um compromisso, mas sem preocupações se o empreendimento será ou não coroado de êxito. Reflexão, decisão que não pode ser tomada de imediato.

Do ponto de vista da saúde: enfermidade difícil de curar, porque se alimenta de si mesma.

Dellarocca – 1836

Desafios e sombra: Desordem, discordâncias. Indiferença. Falta de personalidade, passividade. Inconstância, humor irregular, desequilíbrio. Tendência a se deixar levar pela corrente, submissão à moda e aos preconceitos. Resultados não conformes às aspirações. Derramamento, saída, fluxo involuntário. As coisas seguem o seu curso.

História e iconografia do arcano da Temperança

A mulher que derrama líquido é uma alegoria muito comum durante a Idade Média para representar avirtude da temperança: supunha-se quemisturava água no vinho para diminuir os seus efeitos. Curiosamente, a mesma imagem serviu durante os primeiros séculos do cristianismo para ilustrar o contrário: o milagre das bodas de Caná, onde – por ordem de Jesus – a água se transforma em vinho.

Com outros significados pode ser encontrada nos versos de Horácio: “O cântaro reterá por longo tempo o perfume que o encheu pela primeira vez”.

Mistura de anjo e mulher, A Temperança evocou sempre, para os investigadores do Tarô, o mito dohermafrodita. Tema recorrente e vastíssimo, por um de seus aspectos – que é o que aqui interessa – aandroginia tem sido considerada desde tempos antigos como premonição feliz. Isto faz da Temperança uma carta amável, do ponto de vista adivinhatório, cuja presença alivia a densidade do oráculo.

Arcano de reunião, e portanto de equilíbrio – aconiunctio oppositorum, em sua fase anterior à bissexualidade – onde o derramar do líquido já foi interpretado como metáfora das transformações: apassagem do espiritual ao físico, do sentimento à razão.

Do ponto de vista astrológico está em paralelo com as representações aquarianas, que por sua vez guardam correspondência com o simbolismo deIndra, divindade hindu da purificação.

Temperance, Pedro del Pollaiuolo, 1470

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Tarô de Oswald Wirth

Wirth relaciona a androginia da Temperança ao quinto ternário do Tarô, que provém da morte assexuada (XIII) e culmina no Diabo bissexual (XV). É preciso assinalar também sua localização como último termo do segundo setenário, que corresponde à Alma ou psique, plano da personalidade fluente, flexível e instável na natureza, relacionada às águas em quase todas as teofanias, assim como o Espírito é associado à luz (fogo, ar) e o Corpo à terra.

O derramamento entre vasos gêmeos e opostos levam, por outro lado, as especulações sobre os prodígios terapêuticos: o Arcano XIIII é claramente o curador, o agente reparador e reconstituinte, aquele que verte harmonia universal sobre o desequilíbrio individual. Como o Eremita, lembra os médicos, curandeiros e charlatães; mais ainda, lembra conselheiros, confessores e terapeutas.

A Temperança pode ser vista, ainda, no contexto do inesgotávelsimbolismo aquático, pois se refere à matéria unívoca (o oceano primordial), à corrente circulatória que mantém a vida (chuva, seiva, leite, sangue, sêmen), à mãe (meio aquoso no plano pré-natal) e às imersões como rito de morte e ressurreição (batismo).

XV. O Diabo

O Arcano da Contra-inspiração e da Sedução

Tarô de Marselha-Hadar

Três personagens estão representados de pé. No meio, sobre um pedestal vermelho em forma de cálice, um hermafrodita com asas e chifres. Abaixo, duas figuras, uma delas feminina e a outra masculina, pequenas e dotadas de atributos animais; estão presas, por uma corda que lhes passa ao pescoço, a um aro que se encontra no centro do pedestal.

O personagem central está totalmente marcado pela dubiedade: despido, veste apenas cintos vermelhos que parecem segurar seios e genitais postiços; tem na cabeça uma curiosa touca amarela, da qual sobem dois chifres de veado; duas asas amarelas (ou azuis, na ed. Grimaud), de formato semelhante à dos morcegos, brotam das suas costas. Tudo indica que o personagem é do sexo masculino, mas seus seios estão desenvolvidos como os de uma mulher. Uma face se inscreve em seu ventre e, nos joelhos, dois olhos. Suas mãos e pés apresentam características simiescas; a mão direita, erguida, mostra o dorso; a esquerda segura a haste de uma tocha.

O par acorrentado é visto de três quartos. Estão completamente nus, mas têm uma touca vermelha da qual sobem chifres negros. Os dois têm rabo, patas e orelhas de animal; escondem as mãos atrás das costas e ficamos sem saber se estão atadas ou não.

No nível em que os dois personagem menores se encontram, o chão é preto, mas na altura do pedestal torna-se azul (ou ou vermelho) com listras variadas. O fundo é incolor.

Significados simbólicos

    As provas e provações. As tentações e seduções.
Magias. Desordem. Paixão. Luxúria. Dependência. Intercâmbio, eloquência, mistério, força emocional.

Interpretações usuais na cartomancia

Paixões indomáveis. Atração sexual. Ação mágica, magnetismo. Capacidade milagreira. Poder oculto, exercício de influências misteriosas.

Proteção contra as forças obscuras e os encantamentos.

Mental: Grande atividade, mas totalmente egoísta e sem qualquer preocupação pela justiça.

Emocional: Pluralidade, diversidade, avidez, inconstância. Busca em todas as direções para atrair tudo. Sem a menor preocupação com o próximo. Libertinagem.

Físico: Grande irradiação neste plano, em particular no domínio material e nas realizações concretas. Poderosa influência sobre os outros.

Forte atração pelo poder material. Tem, contudo, uma deficiência: todo o sucesso que promete tende a ser obtido por vias censuráveis. Desta forma a fortuna será alcançada e os delitos têm grande probabilidade de permanecerem impunes.

Inclui também a punição: de acordo com a sua relação com as outras cartas, pode significar que os sucessos serão efêmeros e que o castigo virá na sequência.

Do ponto de vista da saúde: instabilidade nervosa, transtornos psíquicos; aparição de enfermidades hereditárias.

Desafios e sombra: A ação parte de uma base má e seus efeitos podem ser calamitosos. Desordem, inversão de planos, coisas obstruídas. Do ponto de vista da saúde: ampliação do mal, complicações. Disfunção. Superexcitação, sensualidade. Ignorância, intriga. Emprego de meios ilícitos. Enfeitiçamento, fascinação repentina, escravidão e dependência dos sentidos. Debilidade, egoísmo.

História e iconografia

Durante a baixa Idade Média o Diabo era representado usualmente como um dragão ou serpente,  imagem derivada,  sem dúvida,  de seu papel  no  Gênese.

São Miguel e o Dragão

Mont St. Michel – França

 Por um processo simbiótico – característico da iconografia – Eva e o Diabo se fundiram com frequência na figura da serpente com cabeça de mulher: isto pode ser visto quase sempre nas ilustrações dos mistérios franceses que falam da Queda.

O desenvolvimento antropomórfico, que levou o Diabo a se converter na figura que conhecemos tem sua origem, provavelmente, nas tradições talmúdicas e nas lendas pré-cristãs, segundo as quais a serpente edênica teria tido mãos e pés de homem, membros que perdeu como castigo por sua maldita intervenção no drama do Paraíso, ficando condenada a arrastar-se até o fim dos tempos.

De modo similar o Diabo aparece no Apocalipse de Abraão, onde o Tentador é descrito como um homem-serpente, descrição retomada por Josefo e por boa parte dos autores judeus dessa época.

Já no Antigo Testamento ( 1,6-12 e 2,1-7) menciona-se esta humanização de Satã, e em Mateus (4, 3-11) aparece com toda clareza o antropomorfismo do personagem. Ele é assim descrito num manuscrito de Gregório de Nicena, onde toma a forma de um homem jovemalado e nu da cintura para cima.

No final do primeiro milênio a imagem do Diabo sofre a sua mais cruel metamorfose, que transforma o mais formoso dos anjos em sinônimo de abominação e horror.

Van Rijneberk atribui aos miniaturistas anglo-saxões essa mudança iconográfica, que correspondia à simplicidade analógica da época. Se o Diabo continha a soma de todos os pecados e escândalos, seria lógico, dessa forma, que fosse representado como o apogeu de feiúra e pavor.

homem com garras das figuras mais tênues sofreu a inclusão de chifres, dentes enormes, pêlos, cascos de bode, seios enrugados, rabo que terminava em seta. Assim aparece nos manuscritos alemães dos séculos X e XI, e no Missel Oxonien do bispo Léofric (960-1050). O Diabo da lâmina do Tarô – um morcego hermafrodita – mostra-se como herdeiro dessa representação.

Van Rijneberk destaca o sentido metafísico de Satã para os Pais da Igreja, longe ainda dessas representações. Entre os séculos III e IV, Atanásio relatou as fadigas que costumavam acompanhar os tentados: o aspecto do Maligno produzia mais angústia do que repulsa; sua voz era terrível e seu movimento oculto como o de um assassino.

Tanto Cirlot como Oswald Wirth – a partir de seus respectivos planos de observação – evitam entrar no complexo campo da demonologia ao comentarem o Arcano XV.

Assim, o primeiro destes autores se limita a compará-lo ao “Baphomet dos templários, bode na cabeça e nas patas, mulher nos seios e braços” e a mencionar que o personagem tem como finalidade “a regressão ou a paralisação no fragmentado, inferior, diverso e descontínuo”.

Oswald Wirth, por outro lado, afirma que o Diabo é o inimigo do Imperado(IV) na luta política pelo poder no mundo material, e se pergunta quem é “que opõe os mundos ao Mundo, e os seres entre si”.

Para  Ouspensky,  o Diabo  “completa o triângulo cujos outros dois lados são a morte e o tempo”, no sentido da formalidade do ilusório.

Ele dá origem ao terceiro e último setenário do Tarô, plano do mundo físico ou do corpo perecível do homem. Do ponto de vista da finitude temporal, não é menos importante do que o Prestidigitador para o reino do espírito, ou o triunfal protagonista de O Carro (VII) para a análise psicológica.

“Na medida em que sempre houve áreas sombrias e ainda desconhecidas para o conhecimento e que presumivelmente, os enigmas subsistirão sempre – diz Jaime Rest no seu artigo Satanás, Suas Obras e Sua Pompa —, o demoníaco foi e continuará sendo uma constante de nossa realidade, já que esta experiência parece nutrir-se primariamente de algo que se desdobra além do domínio humano, e cuja índole tremenda e estremecedora suscita em nós este abalo íntimo que os teólogos denominam temor numinoso”.

O estudo dessa figura pode incluir as metamorfoses sofridas pelo Diabo (incluindo a variabilidade do aspecto: da beleza resplandecente com que Milton e William Blake o imaginaram até o horror da sua corte nas telas de Goya) para retornar ao memorável ponto de partida de onde se concebe sem dificuldades a permanência do demonismo: Satã como “um desafio da ordem que os homens atribuíram a Deus”.

Tarô de Oswald Wirth

Baphomet

Gravura de Eliphas Levi (1810-1875)

A figura do Tentador, por outro lado, é inseparável das legiões que o servem (ou seja, da ideia do Inferno), e o Tarô repete esta associação ao representá-lo junto com o casal acorrentado – seres que podem ser tanto seus prisioneiros como seus colaboradores. A repetição do esquema dantesco é atribuída por Carrouges à paralisia imaginativa dos séculos posteriores em relação ao tema; daí a fixação e o empobrecimento do ciclo mítico na literatura europeia.

Esta visão demonológica contemporânea, que faz do Diabo uma metáfora conflitante da dignidade humana, não é menos importante que a tradicional. Impõe-se, ao menos, como mais uma referência para a análise atualizada do Tarô.

Os comentários reunidos até aqui, porém, estão longe de esgotar as indicações para o estudo deste personagem tão ambíguo.

Vale a pena conhecer as reflexões de G. O. Mebes, em Os Arcanos Maiores do Tarô, sobre o papel de Baphomet, enquanto representação “da bipolaridade do turbilhão astral”, passagem inevitável no processo evolutivo.

O Livro de Jó e o curioso papel de Satanás

Nos estudos do arcano 15 costumo lembrar de um contraponto às abordagens usuais dessa figura ambígua. Gosto de citar a passagem inicial do Livro de Jó (Jó 1, 6-12):

Um dia, foram os filhos de Deus apresentar-se ao Senhor. Entre eles, também Satanás. O Senhor disse, então, a este: “De onde vens?” – “Acabo de dar umas voltas pela terra”, respondeu ele. O Senhor disse-lhe: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto, teme a Deus e afasta-se do mal.” Satanás respondeu ao Senhor: “É sem motivo, que Jó teme a Deus? Não levantaste um muro de proteção ao redor dele, de sua casa e de todos os seus bens? Abençoaste as obras de suas mãos, e seus bens cresceram na terra. Estende, porém, um pouco a tua mão e toca em todos os seus bens, para ver se não te lançará maldições na cara!” Então o Senhor disse a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está a teu dispor. Contra ele mesmo, porém, não estendas a mão”. E Satanás saiu da presença do Senhor.

Fica explícito que Satanás dialoga com o Senhor e é autorizado a realizar as provas. Jó sofre toda sorte de revezes que se estendem mesmo depois de o Diabo se convencer das virtudes desse santo homem. Mas, no final de tudo, o Senhor restituiu em dobro a Jó tudo que lhe fora tirado: “Jó viveu ainda cento e quarenta e quatro anos e viu seus filhos e os filhos de seus filhos até a quarta geração. E morreu velho e cumulado de dias.”

Costumo recorrer ao bom humor para traduzir um certo papel do personagem do arcano 15: ele é o inspetor de qualidade autorizado por Deus para colocar os homens à prova. E esse mesmo papel se repete quando Cristo se prepara para sua missão final nesta terra: o Diabo vem testar o próprio filho de Deus oferecendo tentações de poderes. Sem maiores problemas o Cristo passa pelas provas e o Diabo sai de cena.

Essa conotação de “inspetor de qualidade” pode nos ajudar, entre outros atributos, a refletir sobre estratégias de ação, quando o arcano 15 sai numa tiragem com a função de indicar o conselho ao consulente para enfrentar algum desafio ou para corrigir uma situação difícil.

Pensar simbolicamente exige muito mais do que classificar sumariamente as cartas como “boas” ou “ruins”. Esse alô vale também para buscamos compreensão mais ampla da carta 13, A Morte, e da 16, A Torre.

XVI. A Torre ou Casa de Deus

O Arcano da Libertação e da Construção

Tarô de Marselha

www.krishadar.com

 

O céu está coberto de esferas coloridas; dois homens caem de uma torre fulminada por um raio. A torre – localizada num terreno montanhoso, do qual brotam seis plantas verdes – tem três janelas azuis; a maior delas parece estar num andar mais alto que as outras. Não aparece a porta de entrada, na edição Grimaud.

Um raio com várias cores, linhas exuberantes, decapita o edifício, que é arrematado por quatro ameias. Sobre o fundo incolor do céu podemos contar 4 esferas na parte superior, 14 esferas à esquerda, 19 esferas à direita.

Um dos homens está caindo na frente da torre; do outro, mais atrás, vê-se apenas a parte superior do corpo. Os dois estão de perfil. No Tarô clássico, não aparecem tijolos ou pedras caindo sobre os homens, como se colocassem suas vidas em risco.

As pequenas manchas que se observam no chão, na frente da torre, não têm uma definição clara: podem ser pedras, líquido, pegadas.

Significados simbólicos

Rompimento das formas aprisionadoras, liberação para um novo início. Desafios dos momentos de transição.

Destruição da rigidez e das cristalizações desnecessárias. Abertura. Conhecimento.
Desmoronamento e queda. Quebra dos limites de segurança.

Interpretações usuais na cartomancia

Alterações, subversões, mudanças, debilidades. Libertação da alma aprisionada; quebras. Conhecimento súbito. Relances esclarecedores. Parto, crise saudável, transmutações.

Modificação traumática, separação repentina e inesperada. Perdas, insegurança. Desconfiança em si mesmo, inquietação provocada por negócios arriscados.

Benefício recebido devido aos erros de outras pessoas.
Austeridade, uma tendência à timidez. Temperamento piedoso, religiosidade prática que não deprecia o material.

Mental: Indica o perigo que pode haver em insistir numa certa direção, em manter uma ideia fixa. Advertência para evitar tropeços e precipitações que poderão aniquilar os planos em andamento.

Emocional: Domínio sobre os seres, mas sem caridade nem amor, já que se exerce com despotismo. Tarde ou cedo, sofrerá uma rejeição afetiva.

Físico: Projeto brutalmente abortado. Sinal ou anúncios que não foram levados em conta; deve-se buscar cautela nas atividades e negócios.

A chama que decapita a torre pode ser interpretada, no entanto, como uma liberação. Do ponto de vista da saúde: não passar os limites das forças vitais, já que uma enfermidade espreita.

Se há alguma enfermidade, indica o restabelecimento após um período penoso.

Desafios e sombra: Cataclismo, confusão. Enfermidade. Falta castigada, catástrofe produzida por imprudência. Maternidade clandestina. Escândalo, hipocrisia desmascarada. Excesso, abuso. Presunção, orgulho. Empreendimentos utópicos.

História e iconografia

A imagem de um homem que se precipita no vazio, do alto de uma torre, é uma das alegorias mais remotas que se conhece para representar o orgulho. Custa pouco intuir que esta metáfora – e a aniquilação celeste que a acompanha – tem filiação direta ao destino da torre de Babel.

Alguns estudiosos pensam que a sua inclusão no Tarô pode ser devida a uma impressionante corroboração histórica: o processo contra os templários e a sua queda vertiginosa, contemporânea dos imagiers que compuseram o Tarô.

Mais ambígua parece ser a chuva de esferas multicolores, cuja leitura não admite outra interpretação que a da influência do “alto” (com variações, esta chuva se repete nas cartas XVIII e XIX, arcanos de evidente simbolismo sideral).

Em uma miniatura pertencente a um manuscrito da Bíblia Pauperum (1350 a 1370), vê-se que o fogo do altar é aceso por meio de uma chuva semelhante à destes três arcanos. “Celita flamma venit / Et plebis pectora lenit” (“Vem a chama celeste / E aplaca o peito do povo”), é o que diz a legenda, clara paráfrase do milagre concedido a Elias diante da multidão cética (I Reis 18, 38-39).

Além do nome com que figura aqui, o Arcano XVI é também conhecido como A Torre ferida pelo raio, e pelo enigmático La Maison-Dieu, que aparece no Tarô de Carlos VI, na versão de Marselha, e que Oswald Wirth aproveita no seu desenho atualizado.

O próprio Wirth, porém, não dá uma explicação satisfatória para este último nome, limitando-se a corroborar o evidente simbolismo arquitetônico da figura, que se refere ao homem por sua verticalidade; à casa e às obras que ele constrói sobre a Terra – de onde se poderia deduzir também uma parábola sutil sobre o orgulho, pelo despropósito da tentativa de imitar o Grande Arquiteto.

Em certas versões do Tarô, parcialmente conservadas, o Arcano XVI apresenta um diabo que bate um tambor. Mas sua figura é secundária porque em primeiro plano aparece a goela de um monstro, entre cujos dentes se debate um ser humano.

Isso parece indicar que o fundo simbólico desse arcano, vale dizer, as analogias que se pode estabelecer na série torre-casa-goela-vagina-gruta-caverna primordial são muito anteriores à sua representação no jogo de cartas.

Tarô Oswald Wirth

Podemos constatar que este é o primeiro edifício que figura no Tarô e, de longe, o mais destacado. Neste sentido é preciso agregar à série analógica proposta as seguintes indicações: toda torre é emblemática do simbolismo ascensional e na Idade Média representou frequentemente a escala intermediária entre a Terra e o Céu. Por seu aspecto murado, cuidadosamente defendido, também estabelece analogias com a virgindade.

  XVII. A Estrela

O Arcano da Esperança, do Crescimento e da Geradora do futuro

Uma mulher com um joelho apoiado no chão tem uma jarra em cada mão, derrama o conteúdo de uma delas numa superfície de água (rio ou lago) e, da outra, na terra. No céu há oito estrelas.

A mulher é jovem e está completamente nua; seus cabelos caem livremente sobre as suas costas e ombros. O joelho que está apoiado no chão é o esquerdo; a ponta do pé direito está em contato com a água. Representada ligeiramente de três quartos, seu olhar parece ignorar o trabalho que realiza. Do chão brota uma planta com três folhas e, um pouco mais atrás, dois arbustos diferentes se destacam contra um céu incolor; sobre o que se encontra à direita da mulher um pássaro negro de asas abertas parece estar pousado ou a ponto de levantar voo.

No céu podem ser vistas duas estrelas de sete pontas e cinco estrelas de oito pontas. Estão dispostas simetricamente em volta de uma estrela muito maior, que tem dezesseis pontas, oito amarelas e oito vermelhas.

<– A Estrela no Tarô de Marselha (1750) restaurado por Kris Hadar

Significados simbólicos

Esperança, confiança. Idealismo. Imortalidade. Plenitude. Beleza. Natureza.
O céu da alma. Influência moral da ideia sobre as formas.

Interpretações usuais na cartomancia

Pureza, entrega às influências naturais, sadias. Confiança no destino. Plenitude e sensibilidade poética, intuição. Bondade, espírito compassivo. Energia, convalescença.

Mental: Alguém traz uma força para ser utilizada, mas não diretamente. É a inspiração do que deve ser feito.

Emocional: Uma corrente de equilíbrio e de esplendor.

Físico: A satisfação, o amor humano em toda a sua beleza; o destino dos sentimentos que animam o ser. Realização das coisas através da ordem e da harmonia.

Em questões referentes à arte, esta carta fala do dom de encantamento, ou seja, o resplendor que atrai o próximo.

Desafios e sombra: Harmonia desviada de seu objetivo inicial; estabilidade física pouco duradoura; falta de atetnção; descuido e displicência.

Falta de vergonha, despudor, leviandade. Falta de espontaneidade. Coações, moléstias. Natureza artificial e anti-higiênica.

Tendência para a evasão e para o romantismo exagerado. Falta de aptidão para a vida prática. Estreiteza de visão, doenças.

A Estrela no Tarô de Bartolomeo Colleoni, Milano 1460-1470 –>

 

Ilustração clássica in www.letarot.it

História e iconografia

O número de estrelas representadas neste arcano varia, segundo o modelo do Tarô, de seis a oito. Astronomicamente, parece referir à constelação das Plêiades (uma estrela grande, rodeada de sete menores) ou ao setenário sideral com o Sol no centro.

Representação de Aquário
Ganimedes, o mais belo mortal, levado por Zeus ao Olimpo, para ser escanção (= servidor de vinho) dos deuses.

“Fala-se de sete Plêiades – disse o sutil Ovídio – mas na verdade não vemos mais que seis.”

Devido à reprodução quase textual da alegoria do signo de Aquário , muitos vêem no Arcano XVII uma herança zodiacal. Mas van Rijneberk nota, com razão, que tanto este signo bem como suas alegorias das correntes de água, foram tradicionalmente representados com figuras masculinas.

Outra diferença entre a carta e seu pretendido modelo é o número de ânforas: tanto Aquário quanto os seus similares alegóricos (que incluem representações do Dilúvio) transportam um só recipiente.

É possível, desse modo, atribuir à Estrela uma relativa originalidade, o que permite supor que a frequente mudança de sexo de Aquário, em imagens posteriores ao século XVI, teria se inspirado no Tarô.

No verbete dedicado a este signo zodiacal no seu Dicionário de Símbolos, Juan-Eduardo Cirlot passa uma informação que vale a pena citar:

“No zodíaco  egípcio de Denderáh o homem de Aquário dispõe de duas ânforas, troca que explica melhor a transmissão dupla das forças, em seus aspectos ativo e passivo, evolutivo e involutivo, duplicidade que aparece substantiva no grande símbolo de Gêmeos”.

Uma fonte menos provável, mas não impossível, da iconografia desta estampa pode ser encontrada no Livro do Apocalipse(XVI, 3, 12): ali é dito que os sete anjos derramarão suas taças sobre o solo e o ar, mas sobretudo sobre os cursos d’água.

A estrela – individual e guia; sinal da divindade sobre o céu do herói – é um emblema comum a diversas mitologias. Delas passa para a tradição e a arte cristãs, e na atualidade pode ser encontrada em numerosas manifestações folclóricas no seu sentido alegórico mais transparente: a pureza, o destino prometido, a elevação.

São João Crisóstomo (Patrística grega, tomo LVI) parece ter recolhido a seguinte lenda: um povo oriental, do qual só sabemos que vivia perto do oceano e que tinha entre as suas tradições um livro atribuído a Set, escolheu em época remota doze homens dentre os mais sábios, cuja missão era única e surpreendente: vigiar o nascimento de uma estrela que o livro previa; se algum deles morria, seu filho ou parente mais próximo era eleito para substituí-lo. Mantiveram este rito durante gerações, até que a estrela da sorte apareceu no horizonte: três deles foram então encarregados de segui-la, o que fizeram por dois anos, durante os quais nunca lhes faltou bebida nem comida.

 

A Estrela

Tarô Visconti Sforza(1450)

“O que fizeram depois – conclui o curioso pergaminho – é explicado de forma resumida nos Evangelhos.”

Quanto ao arbusto que aparece à esquerda, Wirth acredita que seja uma acácia“mimosa do deserto, cujo verdor persistente simboliza uma vida que se recusa a extinguir-se”. O prestígio mítico da acácia é tão vasto quanto intrincado: além de ser a planta emblemática da esperança na imortalidade, é também protagonista de histórias notáveis: entre suas raízes teria sido enterrado Hiram Abiff — o lendário mestre dos construtores do templo de Salomão e detentor da tradição perdida — depois de ser assassinado; da sua madeira teria sido construída a cruz de Jesus Cristo.

Podemos acrescentar que a jovem da figura lembra o princípio feminino de certos ritos primordiais, “a mãe sempre jovem, a consoladora, a clemente, a natureza amável e bela, a terna amante dos homens”. É sob este aspecto que os oráculos tendem a relacioná-la à juventude e ao bom humor, ao sonho e às suas revelações, e à realidade da poesia.

<– A Estrela no Tarô de Oswald Wirth

Fulcanelli acrescenta ainda o duplo sentido simbólico da estrela, como  concepção e nascimento, e faz uma bela descrição de um vitral da sacristia de Saint-Jean de Rouen, onde estão representados Benito e Felicitas, pais de São Romão; os esposos estão deitados na cama totalmente nus; sobre o ventre da mulher, que acaba talvez de conceber o santo, pode-se ver uma estrela.

XVIII. A Lua

O Arcano da inteligência instintiva, dos ciclos vitais

Tarô de Marselha

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A Lua parece atrair (ao contrário do Sol) dezenove manchas de cor, em forma de lágrimas. Essa direção das gotas varia com os diferentes desenhos, mesmo entre as versões clássicas.

Embaixo da Lua há dois cães e, mais atrás, duas torres. Alguns autores reconhecem um dos animais como cão e, o outro, como lobo.

Em primeiro plano, um lagostim (a maioria das descrições fala em “caranguejo”) encontra-se num tanque que, com suas bordas retas, parece construído; os dois cães têm a língua para fora, dando a entender que querem lamber as gotas. Do chão brotam várias plantas (ou apenas três, em algumas versões).

As duas torres parecem delimitar e proteger o espaço no qual se encontram os animais e o tanque.

A Lua está ao mesmo tempo cheia e crescente; dentro desta última figuração vê-se o perfil humano; os raios são de dois tamanhos. As dezenove lágrimas estão dispostas em forma de colar, numa fileira dupla e com a ponta para baixo.

Significados simbólicos

A inteligência instintiva, os ciclos vitais e emocionais.

Os elementos da natureza, o mundo em sua aparência, a luz refletida, as imagens, as formas materiais, as expressões simbólicas e as analogias.
Imaginação. Reflexão, reflexos e relances. Aparências. Ilusões.
O momento de reavaliar a direção, de buscar inspiração no retorno à fonte.

Interpretações usuais na cartomancia

O mundo sensível, instintivo, vital. Experimentação, trabalho, penosa conquista da verdade. Instrução pela dor; trabalho cansativo, mas necessário.

Vidência passiva, receptividade, sensibilidade, lucidez.

Navegação, mudança. Inconstância, insegurança, medo. Irracionalidade, fantasias, penumbra.

Mental: Em caso de negociações: mentira; em caso de trabalho pessoal: erro. Olhar superficial em todos os níveis.

Emocional: Sentimentos conturbados ou em desordem, passionais, aparentemente sem saída. Ciúmes. Hipocondria. Ideias quiméricas.

Físico: Obscurecimento. Agitação.
Escândalo, difamação, denúncia, segredo que fica público.

Se a pergunta se refere à saúde, pode significar desordens no sistema nervoso, o que pode tornar recomendával uma mudança de ambiente, para buscar lugares secos e com calor.

Desafios e sombra: O instinto – causa de miragens – acentua seus efeitos pela situação ascendente do pântano. Estado de consciência confuso que permanece latente e sem se manifestar. Erros dos sentidos, falsas suposições. Embustes, enganos, decepção, desilusão.

Teorias equivocadas, falso saber, vidência histérica. Ameaça, chantagem.

Viagem inoportuna, caprichos. Caráter perturbado, neurótico.

Carlo Dellarocca – Milão

História e iconografia

Tarot Gringonneur ou Charles VI (1445)

Em vários desenhos do Tarô anteriores ao de Marselha – como é o caso do denominado Gringonneur, de aproximadamente 1455 – o arcano XVIII representa dois astrólogos, elaborando cálculos sob uma lua minguante. Os diversos elementos do baralho de Marselha – os cães, o caranguejo, o tanque, as torres – não aparecem neles. A própria Lua só é apresentada ao contrário do desenho concêntrico (perfil humano, crescente), tal como aparece no Tarô de Marselha.

Já nos desenhos mais conhecidos, as duas torres podem ser consideradas como pórticos monumentais, que defendem ou protegem o espaço interno, no qual se encontram os animais.

É imporante lembrar que a Lua (Diana-Hécate, na mitologia grega) é ao mesmo tempo Janua Coeli e Janua Inferni: a porta do Céu e a porta do Inferno, o que as coloca em estreita relação com os dois cães (ou lobos) a uivar. Constituem indicadores da ideia de dualidade, bipolaridade.

Athanasius Kircher (1601-1680) localizava Anúbis e Hermanúbis (divindades representadas com cabeça de chacal)  ante as duas portas do Céu: Anúbis no solstício de inverno, frente à porta da ascensão, indicada pelo signo de Capricórnio no hemisfério norte; Hermanúbis no solstício de verão, frente à porta da descida, ou do homem, indicada pelo signo de Câncer.

Clemente de Alexandria, por outro lado, descreveu as procissões egípcias, que incluíam o passeio de dois cães-deuses“segundo eles, guardiães das portas no Sol, no norte e no sul”, o que poderia ter relação com os solstícios do inverno e da primavera.

Embora não haja exemplos de zoolatria entre os gregos, é verdade que consagraram diversos animais para a companhia dos deuses. No caso de Artemisa – afirma Plutarco, em Isis e Osíris – seu cortejo era formado por dois cães; é significativo lembrar que a caçadora celeste era, para seu povo, uma divindade lunar.

Quanto ao caranguejo, sua relação com a Lua é antiga e constante, aparecendo em ritos e lendas em numerosas culturas. Isto pode ser atribuído à marcha para trás do animal, comparável ao movimento da Lua na observação direta do céu.

Do ponto de vista astronômico, o caranguejo se relaciona com o simbolismo geral da carta e das torres em particular: Câncer é, como se sabe, signo do solstício de verão, no hemisfério norte.

Hermanubis

As gotas coloridas em forma de lágrimas que chovem da Lua (ou se dirigem para ela) estão desenhadas de ponta para baixo; no arcano seguinte (O Sol) aparecem com a ponta para cima, em particular no Tarô de Marselha.

Ouspensky viu nas imagens do Arcano XVIII uma alegoria da viagem heróica, um resumo claro do simbolismo relacionado ao trânsito e a passagem: o tanque de água (matéria primordial), o caranguejo que emerge (devorador do transitório, como o escaravelho entre os egípcios), os cães que interceptam a passagem (guardiães, qualificadores da aptidão do viajante para enfrentar o mistério), as torres no horizonte (cheias de ciladas e também de portas – meta, fronteira).

Cirlot imagina que os cães impedem a passagem da Lua para o domínio do logos (conhecimento solar) e comenta a descrição de Wirth sobre o que não se vê na gravura: “Atrás dessas torres há uma estepe e atrás um bosque (a floresta das lendas e contos folclóricos), cheio de fantasmas. Depois há uma montanha e um precipício que termina num curso de água purificadora. Essa rota parece corresponder à descrição dos xamãs em seus êxtases.”

<– A Lua no Tarô de Oswald Wirth

O que se mostra evidente é que o Arcano XVIII está mais relacionado que qualquer outro com o plano iniciático da via úmida (lunar).  É por essa razão que Oswald Wirth relaciona a Lua à intuição e ao imaginativo, ainda que entre suas interpretações mais recorrentes em relação à Lua figure a sensualidade.

A aproximação do Arcano XVIII com o vasto simbolismo lunar seria interminável, desde a sua relação com o ciclo fisiológico feminino até o panteão das divindades noturnas, passando por suas implicações cósmicas, mágicas e astrológicas.

Parece mais prudente considerar que a Lua não se refere a tudo que nomeia, mas sim à situação específica que compõe com os outros elementos da carta. É bom cuidar para não limitar este arcano ao repertório específico da Astrologia.

XVIIII ou XIX. O Sol

O Arcano da consciência, clareza e intuição

Tarô de Marselha (1750)

Dois meninos estão de pé diante de um muro, sob um sol com rosto humano, do qual chovem treze lágrimas coloridas.

Os dois personagens vestem apenas uma tanga ou calção (azuis, na ed. Grimaud). O menino que vemos à direita apoia sua mão na nuca de seu camarada, estendendo o braço esquerdo um pouco para trás. O outro tem a sua mão esquerda na altura do plexo solar de seu companheiro, e o braço direito numa posição mais ou menos paralela.

No chão, duas pedras, similares às que aparecem na carta XVI – A Torre. O muro que está por detrás dos meninos é amarelo, com a borda superior vermelha. Na restauração, ao lado, a base é de tijolos azuis.

Do disco solar, humanizado pelo desenho de um rosto visto de frente, surgem 75 raios; 16 têm forma triangular – a metade com as bordas retas e a outra metade com as bordas onduladas — e os 59 restantes são simples raios negros. Treze gotas, ou lágrimas, ocupam o espaço entre o Sol e os meninos.

Significados simbólicos

– Vitalidade, alegria. Ressurreição diária ao final da noite.

– Intuição, clareza. O princípio celeste. Luz. Razão.

– Concórdia. Influência solar.

Interpretações usuais na cartomancia

Discernimento, clareza de juízo e de expressão. Talento literário ou artístico. Paz, harmonia, bom acordo. Felicidade conjugal. Fraternidade, inteligência e bons sentimentos.

Reputação, glória, celebridade. Alegria, sucesso, vitalidade, força, vivacidade. Compreensão, calor, amor, crescimento.

Mental: propósitos elevados. Sabedoria nos escritos, difusão popular harmoniosa; pensamento que alcança grande altura.

Emocional: Afeto cavalheiresco, desvelo, altruísmo. Os grandes sentimentos.

Físico: A saúde, a beleza física. Elemento de triunfo, saída para qualquer situação adversa que se esteja atravessando.

Desafios e sombra: Grande adversidade, sorte contrária, tentativas na escuridão.

Deslumbramento. Vaidade, pose, fanfarrice. Susceptibilidade, amor-próprio.

Miséria dissimulada sob uma fachada exuberante. Aparência simuladora, decoração. Artista fracassado, incompreendido.

 

História e iconografia

Para van Rijneberk, o arcano XVIIII não tem originalidade iconográfica, já que a sua figura central – o Sol – é a mesma que pode ser encontrada em qualquer figuração do astro, e que os elementos restantes são também especialmente pobres.

Talvez os dois meninos façam uma alusão astrológica ao signo de Gêmeos, período do ano que, no hemisfério norte, corresponde ao solstício de verão.

No desenho ao lado, que Oswald Wirth concebeu para este arcano, os integrantes do par de protagonistas são de sexo diferente e, embora pareçam adolescentes, já não são crianças. O autor atribui a eles a condição de filhos da luz, e também a de uma alegoria das bodas entre o sentimento e a razão.

Na escala individual, simbolizam a tarefa de regeneração que o universo começou a realizar a partir da queda. É por isso que Wirth os considera como “aqueles que reconquistarão o Paraíso”.

No Tarô de Carlos VI, no lugar do par aparece uma fiandeira com o fuso entre as mãos; provavelmente trata-se de uma referência a Penélope e ao ardil com o qual conseguiu preservar-se até a volta do herói.

Nas variantes contemporâneas ao Tarot Gringonneur ou Charles VI, por volta da metade do século XV, pode-se ver também a reprodução dos quatro cavaleiros do Apocalipse.

Não é impossível que, como sugere van Rijneberk, o par de crinças, que aparece no tarô clássico, represente o rico e complexo simbolismo do signo de Gêmeos. É importante lembrar que a passagem do Sol pelo signo de Gêmeos indica, no hemisfério norte, o ponto de nascimento do verão, estação associada ao reino solar e luminoso.

alternância de raios retos e ondulados da efígie solar do Tarô de Marselha, seria uma alusão ao duplo efeito das radiações do astro (luz e calor).

No campo divinatório costuma-se opor o Sol à Lua por analogia de contrários: luz quente x luz fria; luz potente x luz fraca; dia xnoite; masculino x feminino…

Castor e Pólux,
os gêmeos mitológicos.

Relacionado ao aspecto Filho das divindades trinitárias, as qualidades do Sol aparecem frequentemente como atributos dos heróis, seja porque estes são exaltados à altura do Sol, ou porque o Sol se manifesta de maneira excepcional em alguma circunstância de suas vidas. Um exemplo é que o Sol se oculta prodigiosamente como protesto pela morte do eleito, nas lendas de Héracles e Sigfrido.

No Antigo Testamento pode-se rastrear a filiação solar de Sansão (Juízes 13.16), desde o seu nome até o lugar em que acontecem suas façanhas (Betsemer, que significa “casa do Sol”), passando pelas relações entre força e cabelo, análogas às peripécias do Sol no seu trânsito pelas estações.

Uma variante deste tema pode ser encontrada no drama do Gólgota, tal como o contam os Evangelhos (Mateus 27, 45; Marcos 15, 33; Lucas, 23, 44-45).

Como no caso do arcano XVIII (A Lua), no entanto, é necessário prevenir contra uma excessiva ênfase no simbolismo solar do arcano XVIIII, o que lhe daria uma importância desmedida no conjunto das vinte e duas cartas.

XX. O Julgamento

O Arcano da Ressurreição

O Julgamento

Na parte superior da carta, rodeado de nuvens, um anjo toca uma trombeta. Na parte inferior, três personagens nus – um dos quais, o do centro, está de costas – parecem estar em atitude de oração.

O personagem que está de costas emerge de uma espécie de sarcófago ou túmulo; seus cabelos são azuis e tem uma tonsura. Ao seu lado, visíveis somente até a cintura, os dois personagens restantes – uma mulher à sua esquerda e um homem com barba, à sua direita – parecem olhar para a figura do centro. Têm as mãos juntas, como numa prece.

Sobre um céu incolor, o anjo está rodeado de um círculo de nuvens azuis, das quais saem vinte raios: dez são amarelos; os outros dez, vermelhos. De suas vestes vê-se apenas um corpete branco e umas mangas azuis (ou vermelhas, em algunas versões). Segura a trombeta com a mão direita, que está próxima da boca; a esquerda apenas a toca, segurando um retângulo com uma cruz.

Significados simbólicos

Os julgamentos essenciais, a avaliação dos rumos da existência.
O despertar. Exame de consciência. Sopro redentor.
Renovação. A promessa da vida eterna.

Interpretações usuais na cartomancia

Entusiasmo, exaltação emocional, intensidade dos sentimentos, espiritualidade. Capacidades ocultas, dom de adivinhação.

Atos prodigiosos, medicina milagrosa. Santidade, doação.

Renovação, nascimento, retorno de assuntos do passado ou sua atualização. Recados, propaganda, proselitismo, apostolado.

Estar sujeito à avaliação de outros, ser julgado por suas ações.

Mental: O homem convocado a um estado superior; tendências e desejos de elevação.

Emocional: Devoção, exame de consciência.

Físico: Estabilidade nos assuntos que estão encaminhados. Saúde e equilíbrio.

Desafios e sombra: Erro em relação a si mesmo e a todas as coisas; provas e trabalhos que resultarão de um juízo falso.

Vacilação espiritual, ofuscamento da inteligência. Bobo evocador de fantasmas.

Ruído, alvoroço, agitação inútil.

O Juizo – Tarô Lombardo Dellarocca (1810)   –>

História e iconografia do Juizo Final

As gravuras cristãs, em geral, mostram duas diferentes ideias de ressurreição. A primeira, dos Evangelhos, refere-se aos fenômenos no momento da morte de Jesus:

“Abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram, e, saindo dos sepulcros depois daressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos” (Mateus, 28, 52-53).

Um exemplo desta versão pode ser visto numa miniatura do século XII. “A terra recebeu ordem de devolver os seus mortos”, diz a legenda que a acompanha. A ilustração, ao lado, oferece ideia similar.

A segunda, mais amplamente difundida, é a do Juízo Final. Sobre ela escreveram Mateus (25, 31-46) e, com maior detalhe, João (Apocalipse, 20, 12).

Os artistas que se inspiraram nesta última versão se viram obrigados a selecionar, cada um à sua maneira, dentre a profusão de símbolos e alegorias verbais, aqueles evocados por João para narrar esta cena.

← Juízo Final na igreja Notre-Dame des Fontaines (França)

As primeiras representações do Juízo Final remontam ao ano mil, aproximadamente, mas alcançaram a perfeição nos séculos XII e XIII, nas catedrais. Conhece-se apenas um exemplo anterior a estas datas: trata-se de um baixo-relevo em marfim (Tours, c. 800).

Em todas essas imagens, os mortos surgem inteiramente nus dos seus túmulos, o que seguramente foi tomado de fontes tradicionais (o Livro de Jó; a carta de São Columban a Hunaldus – ano 615; o opúsculo Desprezo do Mundo, de Inocêncio III – cerca de 1200).

Uma tradição popular, surgida nesta mesma época, acredita que os mortos surgiriam de seus túmulos como esqueletos, mas que se revestiriam então da carne e da pele perdidas assim que tomassem contato com a luz.

Vitral da St. Chapelle – Paris

Tarô de Oswald Wirth

A presença dos ressuscitados, bem como o anjo com a trombeta que parece convocá-los, remetem claramente o arcano XX do Tarô a essas imagens do Juízo Final; até a bandeirola da trombeta, que reproduz uma cruz de malta, é frequente nos modelos em que a carta provavelmente se inspirou.

Num sentido geral, o simbolismo do Arcano XX refere-se à morte da alma, ao esquecimento da sua finalidade transcendente, no qual o homem pode cair: o sarcófago ou túmulo representaria as fraquezas e apetites carnais, e o anjo com a trombeta faz a convocação do espírito: a oportunidade pela qual desperta o anseio latente de ressurreição que se supõe adormecido em todo ser humano.

Para Wirth, o trio de ressuscitados representa a família essencial(Pai-Mãe-Filho) no momento de sua regeneração, e o último dos seus termos (o Filho) representa uma nova metamorfose do protagonista do caminho iniciático.

Quando se admite que o Tarô constitui uma alegoria da Iniciação, é possível reconhecer o Prestidigitador-Enamorado-Carro-Enforcado no homem nu do túmulo, “pronto para receber o Magistério”.

XXI. O Mundo

O Arcano da Alegria e da Celebração da Vida

Dentro de uma grinalda amendoada dança um personagem nu, coberto só parcialmente por um véu que desce do seu ombro esquerdo; na mão do mesmo lado traz uma vareta. Nos cantos da carta, quatro figuras evocam a representação simbólica tradicional dos evangelistas: anjo, águia, leão e touro (embora este último pareça mais um cavalo).

A grinalda está formada de folhas simples e oblongas (no Tarô de Marselha da editora Grimaud, as folhas do terço superior são amarelas, as do meio vermelhas e as da parte inferior azuis); está amarrada, em cima e embaixo, por laços vermelhos em forma de xis.

Dentro do espaço ovulado que a grinalda limita – com o pé direito pousado sobre um suporte vermelho (ou amarelo) e a perna esquerda dobrada por trás do joelho direito – está o personagem que parece dançar. Sua cara poderia ser masculina, mas tem seios de mulher; o véu curto que o cobre tapa justamente o seu sexo. Em uma mão leva a vara, na outra um objeto indeterminado.

No ângulo superior direito da carta há uma águia, a cabeça aureolada por um círculo vermelho, olhando para a esquerda; no ângulo oposto, um anjo olha para baixo.

Nos ângulos inferiores se vê, à direita, um leão amarelo com auréola rosada, representado de frente; à esquerda, uma espécie de cavalo, o único dos quatro sem auréola. Este último animal, que é visto de três quartos, olha para a frente e para a esquerda. Tanto o leão como o cavalo parecem dotados de asas de composição semelhante às folhas da grinalda.

Significados simbólicos

Finalização, realização. Recompensa. Apoteose.
Encontrar o próprio lugar no mundo. Centralizar-se.
Alegria de viver. O sensível, a carne, a vida transitória. O equilíbrio inspirado.

Interpretações usuais na cartomancia

Sorte grande, êxito completo. Coroamento da obra, finalização de um processo. Força decisiva. Circunstâncias muito favoráveis, meio propício. Integridade absoluta. Contemplação envolvida.

Êxtase. Alegria, reconhecimento, riqueza.
Representa o elemento feminino. É uma carta de caráter muito individual.

Mental: Grande poder da mente. Tendência para a perfeição. Magistério mental e psíquico.

Emocional: Significa elevação do espírito, sentimentos amorosos no sentido altruísta, sem egoísmo nem sensualidade. Amor à humanidade, tarefas sociais a cumprir. Sentimentos guiados pelo desejo de aperfeiçoar tudo que se faz. Para os artistas: inspiração abundante.

Físico: Experiência rica. Atividades sólidas e brilhantes. Êxito em níveis não transcendentes (mundanos, transitórios). Boa saúde.

Desafios e sombra: Fracasso. Processo que afeta os sentimentos. Sacrifício por amor. Obstáculo formidável.
Ambiente hostil, todos estão contra. Disposições mundanas. Dispersão, distração. Incapacidade para se concentrar. Grande revés da sorte, ruína. Desconsideração social.

 

História e iconografia

São Jerônimo, no século IV, parece ter sido o primeiro a associar os quatro evangelistasaos animais da visão de Ezequiel. Mil anos depois é freqüente encontrá-los em relevos e mosaicos, e aparecem com grande freqüência nas miniaturas dos manuscritos posteriores a esta data.

Em outras tradições são equivalentes a diversas alegorias derivadas do quaternário, entre as quais sobressai a que representa a rosa-dos-ventos.

Quanto à grinalda, seu processo iconográfico pode ser seguido com clareza. Na arte da Índia – de onde passou às culturas mediterrâneas – numerosas divindades eram tradicionalmente marcadas por essa orla oval, que se refere ao povo do mundo.

Mitra, o Sol radiante, foi representado durante a época helenística como um homem jovem e nu, dentro de uma grinalda na qual figuravam os signos do zodíaco. Num baixo-relevo encontrado em Módena, vê-se Cronos numa composição próxima à do arcano XXI, incluindo ainda as figuras dos cantos.

Este grafismo parece ter dado origem à difundida auréola que, a princípio, era amendoada (mandorla); só bem mais tarde adotou a forma redonda das estampas modernas.

  

Nossa Senhora de Guadalupe (México) – séc. 16
in www.wikimedia.org

Tanto nos pórticos das catedrais góticas, quanto nos murais de estilo bizantino das
antigas igrejas e nas iluminuras dos manuscritos religiosos, é a figura do Cristo que ocupa
o centro da mandorla, também denominada “vesica pisces”. A mondorla preenchida
por Nossa Senhora, figura feminina, torna-se mais comum após o Renascimento.

Milhares de santos foram figurados na Idade Média dotados de auréola, embora não seja arriscado supor que isto foi uma derivação estética proveniente das mais antigas imagens da Virgem Maria que tinham este atributo.

Van Rijneberk assegura que por trás do simbolismo de sacralização (auréola = aura de santidade) pode-se ler o significado que a associa à virgindade, já que desde tempo remoto esta era representada pela amêndoa, cujo fruto acreditava-se havia nascido por geração espontânea.

Van Rijneberk acrescenta que, neste caso, a figura vertical e a forma oval que a circunda “parecem representar, de maneira mais ou menos velada, uma vagina simbólica”. Sob este aspecto, o arcano XXI representaria o amor. Neste caso, cabe estabelecer uma analogia entre a protagonista de O Mundo e o “Nascimento de Afrodite”, divindade com a qual tem numerosos pontos em comum.

Se as séries do Tarô e os seus sistemas de relações se organizam, como se viu, pela dupla variável de ternários e de setenários, é evidente a importância do simbolismo de O Mundo (21 = 7 ternários = 3 setenários = 7 x 3 = 3 x 7).

É a partir desse significado numerológico que muitos definem o principal sentido do arcano O Mundo como sendo “a totalidade ou o conjunto do manifestado”, o que é referendado pela alegoria quaternária, ordem sempre associada aos modelos de organização.

Neste sentido, o arcano XXI seria também o Destino Maior (que universaliza o tema do Destino Menor ou cotidiano, representada pelo arcano X, a Roda da Fortuna), o rigoroso mecanismo que rege a pontualidade da rotação da Terra, das estações, das crescentes e minguantes, do dia e da noite.

Tarô de Oswald Wirth

Ouspensky entende que esta carta apresenta o resumo do cotidiano – que se oferece continuamente aos sentidos sem ser inteligível na sua totalidade, mas apenas fragmentariamente, já que “tudo o que se vê, as coisas os fenômenos, não são senão hieróglifos de idéias superiores”.

Arcanos Menores – Apresentação

O conjunto de 56 cartas — modernamente denominadas “Arcanos Menores” — é constituído por quatro grupos de 14 cartas, cada um deles com a mesma seqüência de 10 cartas numeradas de 1 a 10 e mais quatro figurasValete (ou Pajem), CavaleiroRainha (ou Dama) e Rei, também conhecidas como figuras da corte.

O naipe de Ouros: as dez cartas de 1 a 10 e as quatro figuras.

Cada grupo de 14 cartas possui um diferencial simbólico: bastãomoedaespada taça. Esses grupos são popularmente reconhecidos como naipes de pausourosespadas e copas, os mesmos do baralho comum que utilizamos nos jogos e passatempos.

Os naipes de Paus e Espadas representam forças impulsionadoras (fogo e ar),
indicação reforçada pela mão que porta o símbolo na primeira carta de cada naipe

Os naipes de Ouros e Copas representam forças maleáveis (terra e água).
O Ás de Copas lembra, no Tarô de Marselha, o cálice de guardar hóstias.

Os naipes, ou séries, têm inúmeras correspondências, por exemplo, aos quatro elementos da Astrologia e da Cabala: fogo (paus), terra (ouros), ar (espadas) e água (copas). Há quem veja, inclusive, analogia com as quatro classes sociais da Idade Média: clero (copas), nobreza (espadas), comerciantes (ouros) e camponeses (paus).

Os baralhos modernos

O baralho ocidental, impresso modernamente, mantém constante o número das séries ou naipes: são sempre quatro, seja no baralho espanhol ou francês, seja no alemão, italiano ou provençal. O baralho francês, produzido para jogos e passatempos, reduziu os naipes a apenas duas cores — vermelho e preto — mas o número de naipes permaneceu constante.

Os naipes de Espadas e Copas no Tarô e no baralho moderno para os jogos de lazer.

Para efeito dos jogos de cartas — como passatempo (no lar ou nos clubes) e como jogos “de azar” (valendo dinheiro, nos cassinos) — não importa o significado simbólico das cartas, mas apenas o valor que se convenciona para cada tipo de jogo (pôquer, buraco, canastra, tranca, bridge, truco, rouba-montinho, etc, etc…). Cada jogo define livremente suas próprias regras.

Baralhos modernos para jogos. As cartas de jogar foram redesenhadas
para facilitar a visualização do que se tem na mão.

Embora os Arcanos Menores tenham sido muito difundidos pelo mundo afora, como cartas de jogar, seus significados simbólicos são relativamente mais difíceis de serem traduzidos que os dos Arcanos Maiores.

Para os cartomantes e os estudiosos do Tarô, contudo, não há como fugir da questão dos significados. De fato, estamos frente a duas ordens de símbolos: os quatro naipes, ou quatro elementos, que se combinam com o significado numerológico do 1 ao 10. É possível portanto, para as 40 cartas numeradas, estabelecer uma base de compreensão a partir da associação dos quatro elementos com os símbolos numéricos.

As quatro figuras de cada naipe, no total de 16, parecem formar um sub-grupo à parte. Têm desenhos similares aos dos trunfos (“arcanos maiores”) e, ao mesmo tempo, reptem-se em quatro naipes, do mesmo modo que as cartas numeradas (“arcanos menores”).

Os Tarôs de hoje

Na prática, reina hoje uma grande profusão de versões e de reinvenções. Já a partir do séc. 19, alguns interessados no Tarô começam a substituir as representações abstratas das lâminas dos arcanos menores por ilustrações mais ou menos subjetivas, que traduziriam visualmente, de modo mais compreensível, o significado das cartas. Se esse recurso ajuda a fixar um sentido possível, levanta na grande maioria dos casos a questão de alterar drasticamente o leque simbólico da figuração clássica, sem contar o risco de acentuar, de modo unilteral, apenas um dos múltiplos significados da lâmina.

O “Tarô Mitológico” e o “Tarô Egípcio” da editora Kier.
Tentativas para figurar os arcanos Menores com o mesmo padrão dos Maiores.

Um rumo possível

Esse quebra-cabeça de pontos de vista sobre os Arcanos Menores faz parte dos desafios que o estudo do Tarô nos propõe.

Para dar conta da grande variedade de enfoques, acreditamos que é importante, para começar, compreender a natureza dos quatro naipes do baralho a partir de uma base simbólica mais ampla que a do receituário popular. O segundo passo consiste no estudo dos simbolos numéricos de 1 a 10. Também neste caso, o resultado se torna mais consistente quando consegue transpor os significados corriqueiros da numerologia usual. Caso contrário, corremos o perigo de cair num esquematismo acanhado e contraditório, feito mais para ser decorado do que compreendido.

Quanto mais ampla for a compreensão do símbolo, mais rica e profunda será sua aplicação prática.

Os textos sobre os Arcanos Menores

  Para organizar o conteúdo sobre os Arcanos Menores, foram criadas três seções.
No final de cada uma delas estão os links para estudos de diferentes autores.

  • Naipes: apresenta o simbolismo do quatro ou da quadruplicidade como base para se compreender a divisão dos grupos de cartas – paus, ouros, espadas e copas:  Os quatro naipes

  • Figuras: trata dos personagens conhecidos como “cartas da corte” – o Rei, a Rainha, o Cavaleiro e o Valete (ou Pajem) – repetidos nos quatro naipes, ou seja 4 x 4 = 16: As figuras

  • Cartas de 1 a 10: apresenta as 40 cartas numeradas repartidas entre os quatro naipes, o que combina o simbolismo do 1 ao 10 com o do quaternário: As cartas de 1 a 10

Estudos do conjunto & Correlações simbólicas

  • Ao contrário do que ocorre com os Arcanos Maiores, são raros os estudos de profundidade sobre os Arcanos Menores, à luz de um ensinamento coerente, como fez G. O. Mebes em Os Arcanos Menores do Tarô como caminho iniciático. Hermetismo Ético. Nesta obra, o autor trata do simbolismo, iniciações e passos para a realização espiritual traduzidos pela seqüência dos naipes e das cartas numeradas. No entanto, tal como acontece com as grandes obras sobre os arcanos maiores, não está preocupada com sua utilização nas tiragens práticas e na cartomancia. A ponte entre o ensinamento e sua aplicação prática exige uma longa elaboração do estudante. Veja: GOM

  •   • Betoh Simonsen em seu O Tarô como caminho de vida propõe paralelos entre os signos zodiacais e as cartas numeradas dos arcanos menores. Um belo exercício para ampliar os signficados das cartas: Apresentação

Os quatro naipes

Do mesmo modo que os quatro elementos, os naipes podem ser vistos como representações das forças ou energias constitutivas do universo: são quatro atributos em pé de igualdade, tal como os quatro pilares do Trono de Deus; não se pode dizer que um seja menos importante que os demais. No entanto, os naipes, tal como os elementos, também podem ser entendidos como um referêncial simbólico para a ordenação evolutiva: degraus sucessivos no desenvolvimento do homem e do cosmo.

A origem da palavra naipe é incerta. Os registos mais antigos na Europa aparecem no catalãonaíp (1371), no italiano naìbo (1376) e no espanhol naipe (1400). Ao que tudo indica são termos derivados do árabe naibbe ou naib, que pode ser traduzido por “Vice-rei” ou “Representante” e que se refere às cartas do “Rei’ e do “Vice-Rei” no Baralho Mamlûk.

No baralho comum — hoje denominado “arcanos menores” por aqueles que utilizam as cartas com sentido simbólico ou de cartomancia — os naipes receberam diferentes designações nas linguas européias, como retrata o quadro abaixo:

  Copas  ♥ Ouros  ♦ Paus  ♣ Espadas  ♠

EUA e
Inglaterra Hearts
(corações) Diamonds(diamantes) Clubs
(bastões) Spades
(pás)

Espanha Copas (taças)
Corazones (corações) Oros (ouros)
Diamantes Bastos (bastões)
Tréboles (trevos) Espadas
Picas (lanças)

Itália Cuori
(corações) Quadri ou Denari
(quadrados) Fiori ou Bastoni
(flores) Picche
(lanças)

Suíça Alemã Schilten
(escudos) Schellen
(sinos) Eicheln
(bolotas) Rosen
(flores)

Países Baixos Harten
(corações) Ruiten
(losangos) Klaveren
(trevos) Schoppen
(espadas)

O quadro acima foi copiado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Naipe

Para oferecer uma visão de conjunto dos significados simbólicos e cartomânticos atribuídos às cartas, apresentamos um resumo compilado a partir dos manuais mais conhecidos, indicados na bibliografia.

PAUS (bastão, vara, trevo) e o elemento FOGO

• Vontade, inspiração, criação, força, ânimo. Iniciativa, progresso, empreendimento. Desenvolvimento, animação, invenção. Energia. Vivências, acontecimentos.
• Vara mágica, bastão do comando, cetro da dominação viril.
• Pai, poder gerador do masculino. Idealista, moralista.

• No plano da identidade individual significa força.
• Socialmente representaria os políticos, produtores e agricultores; operários, empregados e camponeses. Relaciona-se ao governo civil.
• Corresponde ao rei, entre as figuras do baralho.
• São as salamandras, entre os espíritos elementares.

Aspecto masculino de Paus: o Herói arquetípico (Aquiles, Hércules, Sansão).
Lado luminoso: o Guerreiro como Protetor, o Homem de Negócios, o Político.

Dinâmico, autoconfiante, corajoso, perseverante, voluntarioso, tenaz.
Lado sombrio: o Mercenário, o eterno Caçador. Sedento de poder, materialista, brutal, insensível, destrutivo. O estrategista de gabinete.

Aspecto feminino de Paus: Guerreira (Amazonas, Ártemis, Joana d’Arc).
Lado luminoso: a Companheira das lutas, independente, com coragem para assumir riscos; dinâmica, prestimosa, divertida, bem-disposta.
Lado sombrio: Mulher-macho, dogmática, dominadora, que gosta de rebaixar e influenciar demais, sádica.

As cartas numeradas do naipe de Paus

O Tarô é um estímulo para desenvolvermos a arte da linguagem simbólica.Reduzi-lo a um mero receituário factual diminui sua riqueza. Por essa razão é importante ressaltar que os significados apresentados a seguir constituem apenas um simples resumo do que se encontra nos manuais de cartomancia.
Estudos de aprofundamento podem ser linkados no correr dos textos abaixo.

Significados gerais

Representa a energia material posta nas mãos do Homem para permitir que resista aos choques vindos do exterior e para servir de impulso na construção no plano físico.

Mental: Inspiração no domínio prático, idéia ativadora que surge no decorrer de um empreendimento.

Anímico: Sentimentos além dos limites, um tanto exagerados, mais expressivos que afetivos.

Físico: Negócios ativos, brilhantes. Êxito através da força. Saúde superabundante, excesso de sangue gerando uma atividade constante.

• (–): Falta de energia. Constante recomeço. Forças que se anulam entre

  si. Impulsividade.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Criação, invenção, empreendimentos, poderes; princípio, começo, fonte; nascimento, família, origem e um sentido de virilidade. O início de empreendimentos. Dinheiro, fortuna, herança.

• (-) Queda, decadência, ruína, perdição, perecimento; também uma certa alegria obscurecida

• Significa nascimento, começo, criação, anuncia dinheiro, herança, fortuna próxima, êxito nos negócios financeiros. Seguida de Ás de Ouros ou de Sete de Paus, indica lucro, grande êxito nos negócios, entrada de dinheiro, prosperidade no comércio. Denota inteligência criadora, trabalhos úteis, êxito, empreendimentos que trazem consigo seus elementos de êxito.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 25 – Anel. É o momento para analisar a nossa capacidade de se associar, de buscar criteriosamente a cooperação e o apoio de outras pessoas (Anel), quase sempre indispensável quando o entusiasmo e a paixão nos impelem a desenvolver novos projetos, a assumir um compromisso de noivado-casamento ou a embarcar numa aventura que poderá mudar radicalmente o rumo de vida (Ás de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

Dois de Paus

Significados gerais

Simboliza um potencial interior que tende a se expandir.

Mental: Bom julgamento, compreensão racional, idéias bem fundamentadas, mas que devem ainda ser desenvolvidas.

Anímico: Confiança, amizade, afeição, bondade na simplicidade.

Físico: Saúde em recuperação. Preparação de um empreendimento para êxito futuro.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Não há conciliação possível: por um lado, riqueza, fortuna, magnificência; por outro, sofrimento, enfermidade, aborrecimento, tristeza, mortificação.

• Também pode significar surpresa, admiração, encantamento, emoção, perturbação, temor.

• Indica sofrimento físico, doença, tristeza, melancolia, aflição, desolação, temor. Denota divisão dos empreendimentos, obstáculos imprevistos.

Três de Paus

Significados gerais

Indica o emprego da energia necessária para tomar consciência de suas próprias resistências a fim de as disciplinar, coordenar, para que sirvam de apoio aos trabalhos futuros.

Mental: Discernimento; desvendamento de segredos ou de assuntos incompreensíveis. Intuição das coisas ocultas.

Anímico: Demasiado ativo para ser sensível; a pessoa se afasta do lado afetivo, evita as sutilezas.

Físico: Negócios ativos, direção exercida com autoridade. Saúde boa, nervosa, ativa.

• (–): Atividade sem descanso.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Simboliza a força estabelecida, o empreendimento, o esforço, as transações, o comércio, o transporte de mercadorias. Também significa cooperação eficaz em negócios, como se o bem-sucedido príncipe olhasse para o nosso lado com a finalidade de nos ajudar. Fim de perturbações, suspensão ou cessação de adversidade, fadigas e decepções.

• Significa empreendimento, começo, descoberta, esforço, achado. Denota começo de êxito nos empreendimentos, inovações felizes, espírito de invenção.

Quatro de Paus

O Quatro de Paus no Tarot de Marselha - Kris Hadar

Significados gerais

Representa o trabalho proveitoso do Homem para atingir seus fins através da energia material.

Mental: Decisão, autoridade nos julgamentos.

Anímico: Proteção, segurança nos afetos. Espírito de fraternidade.

Físico: Conclusão de empreendimentos. Segurança nos assuntos a serem realizados. Saúde excelente.

• (–): Confusão, hesitação, promessa inadequada.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Vida campestre, porto de refúgio, festa pela boa colheita doméstica,

  concórdia, harmonia, prosperidade.

• Repouso, paz e o perfeito trabalho. Progresso, felicidade.

• Significa descanso, associação, aliança, reunião, contrato, êxito, adiantamento. Pressagia realização dos empreendimentos, empresas sérias e estáveis.

Cinco de Paus

Significados gerais

Afirmação do livre arbítrio do ser humano para não se estagnar nas energias opressoras do mundo material e elevar-se a planos vibratórios mais sutis.

Mental: Espírito de decisão, podendo voltar-se para a dominação, para o autoritarismo.

Anímico: Sentimento dominador, protetor; vontade individualista.

Físico: Sucesso que repousa em bases sólidas. Negócios de grande alcance; transportes, importação e exportação. Boa saúde, com excesso de energia vital.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Imitação, como, por exemplo, um combate simulado, mas também competição encarniçada e luta na busca de riquezas e fortuna. Nesse sentido, relaciona-se com a batalha da vida.

• (-) Litígio, disputas, impostura, contradição.

• Significa ouro, riqueza, opulência, luxo, abundância. Pressagia a ajuda de circunstâncias favoráveis ao êxito dos empreendimentos, se o consulente não exceder o fim a que se propõe. Deve evitar a cólera, o orgulho e as paixões brutais.

Seis de Paus

Significados gerais

Simboliza o esforço do ser humano para disciplinar seus instintos e, com isso, garantir segurança para o seu futuro.

Mental: Invenções, capacidade para concretizar os projetos.

Anímico: Amor profundo. Perpetuação, renascimento das cinzas.

Físico: Desenvolvimento contínuo, porém lento. Boa saúde, mas às vezes sujeita à apatia. Indolência.

• (–): Lentidão, risco de desvios.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Tem várias significações: é um vencedor triunfando, mas é também uma

  grande notícia, que pode ser levada solenemente por um mensageiro; é a expectativa coroada com o seu próprio desejo, a coroa da esperança, etc.

• (-) Apreensão, temor, como se um inimigo vitorioso estivesse às portas; traição, deslealdade; também retardamento indefinido.

• Denota obstáculo, restrição, temor; assuntos relacionados a empregados. Pressagia: obstáculos, embaraços, atrasos, indecisões e, às vezes, insucessos nas empresas, se houver falta de vontade, de firmeza e de perseverança.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 36 – Cruz. É um chamado para entender que as provações, os sofrimentos e as tristezas que surgem em nosso caminho são testes para avaliar nossa força espiritual, incitando-nos a recordar que existe uma Força Maior sempre pronta a amparar (Cruz). Quando estmos abertos e sintonizados com essa energia espiritual, a vitória está garantida e oesforço sincero é recompensado e reconhecido por todos (6 de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

Significados gerais

Representa a possibilidade de sucesso para o Homem através do esforço e do trabalho ativo e contínuo.

Mental: Determinação. Poder de decisão em qualquer assunto.

Anímico: Grande irradiação, efeito mais em extensão do que em profundidade. Sentimentos expansivos. Facilidade para falar, realizar pregações, fazer animações.

Físico: Negócios em plena atividade e rendimentos, provocando muita movimentação. Saúde excelente, atividades em excesso.

• (–): Excesso de trabalho.

Interpretações usuais na Cartomancia

• É uma carta de valor, de uma posição vantajosa. No plano intelectual, significa discussão, disputa; nos negócios: conversações, guerra comercial, barganha, competição. É uma carta de sucesso, pois os inimigos são incapazes de atingi-lo.

• (-) Perplexidade, embaraço, ansiedade. E também uma advertência contra a indecisão.

• Significa conferencia, colóquio, conversa, discussão, troca, comércio, negócio, correspondência. Conforme o consulente, anuncia fraqueza de amor; porém, seguido de Sete de Ouros e de Nove de Paus, denota abundância de bens e herança de parentes afastados. Representa a posse de todos os meios que fazem triunfar. Empreendimentos que trazem grandes lucros. É o emblema da matéria submetida as mil combinações da inteligência. Empreendimentos bem sucessidos, coroados de êxito.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 23 – Ratos. Momento para examinar as rotinas diárias que geram um desgaste excessivo de energias, afetam a saúde ou provocam danos e perdas (Ratos), resultantes da competição acirrada de todo tipo a que estamos expostos, e que só pode ser enfrentada por um caráter íntegro, forte e corajoso (7 de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

Oito de Paus

Significados gerais

Indica boas condições, fruto de um equilíbrio geral, que prometem êxito ao homem quee souber vencer as resistências da acomodação e colocar suas energias em ação.

Mental: Abatimento, muita passividade a ser vencida.

Anímico: Maus modos e apatia a ser combatida. Lentidão emocional.

Físico: Negócios em desordem, mas que podem ser reorganizado. Excesso de guardados e de estoques. Saúde apática e desordens glandulares que uma dieta rigorosa pode corrigir.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Atividade nos empreendimentos, os caminhos possíveis, prontidão, como a de um mensageiro expresso; grande pressa, grande esperança, rapidez no rumo de um objetivo que promete felicidade assegurada. De um modo geral, fala de tudo que está em movimento; e também das flechas do amor.

• (-) Dardos do ciúme, disputa interna, aflições de consciência, disputas; brigas domésticas para as pessoas casadas.

• Significa campo, agricultura, bens imóveis, divertimento, alegria, paz, tranqüilidade. É sinal de viagens por causa de dinheiro e de grandes negócios, felicidade certa. Denota empreendimentos que podem trazer lutas e discussões, porém serão bem sucedidos.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 21 – Montanha. É um chamado para enfrentar, após criteriosa avaliação da situação, os desafios ou inimigos, com equilíbrio, firmeza e perseverança (Montanha); para tanto, deve-se aguardar o momento propício, quando as condições se mostrarem favoráveis e estiver presente o sentimento de segurança e confiança quanto ao resultado esperado (8 de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

Outros significados do Oito de Paus

Nove de Paus

Significados gerais

Simboliza o Homem que sabe aproveitar o equilíbrio que realizou em si próprio para controlar suas energias e tem condições de determinar o momento exato para tomar suas decisões.

Mental: Clareza de julgamento, inspiração no uso das energias.

Anímico: Sentimentos humanitários, cavalheirescos. Devotamento e proteção física.

Físico: Invenções, negócios criativos. Liderança estimuladora e inovadora. Ótima saúde, harmoniosa.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Indica vigor na oposição. Se atacada, a pessoa enfrentará o ataque com ousadia; e poderá se mostrar um opositor formidável. Com essa significação principal, há todos as suas possíveis conseqüências: demora, suspensão, adiamento.

• (-) Obstáculos, adversidade, calamidade.

• Significa atraso, suspensão, adiamento, demora, obstáculo, contrariedade. Dinheiro a receber pelo trabalho. Ao lado do Dez Ouros: alegria por dinheiro. Este Arcano denota: empreendimentos científicos ou mistérios, para cujo êxito é preciso ter prudência e discrição.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 14 – Raposa. Indica a importância da flexibilidade e da sagacidade como qualidades essenciais à sobrevivência; recomenda o exercício dessas qualidades para nos ajudar a evitar sérios prejuízos e perdas (Raposa) principalmente nos momentos em que somos forçados a enfrentar novos desafios e as dificuldades da vida já exauriram as nossas energias (9 de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Dez de Paus

Significados gerais

Representa a vontade enérgica e esclarecida do Homem, que poderá manifestar, com persistência e independência, as experiência que acumulou no plano material.

Mental: Inspiração com relação ao domínio que pode ser alcançado no plano psíquico.

Anímico: Sentimentos familiares elevados. Fundação de uma linhagem, com bases sólidas.

Físico: Prosperidade nos negócios e empreendimentos. Saúde equilibrada.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Significa a opressão, mas é também fortuna, lucro, qualquer espécie de sucesso; pode, então, representar a pressão das próprias conquistas. E também uma carta de falsa aparência, disfarce, traição. Se o assunto for uma demanda judicial, pode haver certo prejuízo.

• (–) Contrariedades, dificuldades, intrigas.

• Indica cidade estrangeira, o exterior. Denota prosperidade, ganho, êxito. Porém, se for seguida de Nove de Espadas, indica insucesso, perda de processo. Representa viagens, empreendimentos que têm toda a probabilidade de êxito e estabilidade. Êxito, reputação, celebridade pelas artes ou ciências. Alta recompensa devida ao mérito. Realização de atos que darão alegria e segurança.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 15 – Urso. Trata-se do momento de defender o próprio território e de aprender que a inveja, o ciúme e todas as energias negativas geradas pela busca desequilibrada do poder (Urso) encontrarão um campo propício para se instalar e expandir quando nos deixarmos abater pelo desânimo e pelo excesso de preocupações ou de responsabilidades (10 de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

OUROS (moeda, estrela, diamante) e o elemento TERRA

• Concretização, manifestação, realização. Apoio da vontade, resultado da ação espiritual. Esforço, estudo, inteligência prática.
• Preservador, operativo, realista, sensível, sensual.
• Dinheiro, ganhos, lucros, frutificação, negócios

em expansão.
• No plano da identidade individual significa esforço, estudo,

inteligência prática, dedicação.
• Socialmente representaria a burguesia, as finanças, o comércio e os bens patrimoniais.
• Relaciona-se ao poder econômico.
• Corresponde ao valete, entre as figuras do baralho.
• São os gnomos, entre os espíritos elementares.

Aspecto masculino de Ouros: o Patriarca (Zeus, Odin, Moisés, Abraão).

Lado luminoso: o Bom Pai. Provedor, bondoso, exemplar, forte, protetor.
Lado sombrio: o Padrasto. Severo, inalcançável, tirânico, que impede o desenvolvimento.

Aspecto feminino de Ouros: a Mãe (Mãe Terra, Mãe Coragem, Deméter).
Lado luminoso: a boa Mãe, nutridora, protetora, cuidadosa, fecunda, que perdoa e oferece proteção.
Lado sombrio: a Madrasta, devoradora, destruidora, má, possessiva, enganadora, ambiciosa.

As cartas numeradas do naipe de OUROS

O Tarô é um estímulo para desenvolvermos a arte da linguagem simbólica. Reduzi-lo a um mero receituário factual diminui sua riqueza. Por essa razão é importante ressaltar que os significados apresentados a seguir constituem apenas um simples resumo do que se encontra nos manuais de cartomancia.
Estudos de aprofundamento podem ser linkados no correr dos textos abaixo.

Ás de Ouros

Significados gerais

Simboliza o reservatório das atividades em todos os planos, em todas as partes do Cosmo. Representa o desejo que o Homem tem de projetar obras completas feitas à sua imagem e capazes de vir à luz espontaneamente.

Mental: Contribuição ativa, bem equilibrada e realizadora.

Anímico: Brilho, crescimento.

Físico: Oportunidades que tanto podem ser adiadas ou antecipadas. Lucros ampliados. Afirmação de sucesso. Saúde exuberante.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Contentamento perfeito, felicidade, êxtase; também inteligência pronta;

  recursos materiais; ouro.

• (-) O lado mau da riqueza, inteligência deficiente; também grandes riquezas. Em qualquer caso mostra prosperidade, condições materiais confortáveis, mas depende do conjunto das cartas para saber se tais condições trazem ou não vantagem para o possuidor.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 31 – Sol. Indica o chamado para reconquistar a vitalidade, a força, a autoconfiança, o otimismo, a consciência e a clareza de propósitos (Sol) como condição básica e necessária para concretizar a realização material, a riqueza e a prosperidade que tanto sonhamos (Ás de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

Dois de Ouros

Significados gerais

Representa iluminação íntima que dinamiza a inteligência com vistas a realizações futuras.

Mental: Apoio para uma atividade, desde o espiritual ao material, como uma inspiração que provoca idéias realizadoras e soluções aos problemas.

Anímico: Facilidade de aproximação dos seres tanto no espírito como no sentimento.

Físico: Confiança, mas de forma sutil. Apoio que tem base no plano da alma, como a fé, que facilita a realização.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Por um lado, é apresentada como uma carta de alegria, recreação, diversão; mas também é lida como notícias e mensagens por escrito, obstáculos, agitação, perturbação, intrigas.
(-) Alegria forçada, prazer simulado, sentido literal, caligrafia, composição, letras de câmbio.

• Representa mensagem, carta, correspondência, bilhete. Obstáculos, embaraços, empreendimentos. Significa fortuna dividida, porém probabilidade de associação produtiva.

As cartas dos tarôs clássicos de Noblet e Dodal foram restauradas por Jean-Claude Flornoy;
a do P.B. Grimaud, revista por Paul Marteau; a de Joseph Feautier é foto da edição original.

Os tarôs clássicos trazem uma faixa que contorna as duas moedas. Em quase todos os exemplares, essa faixa é preenchida com o nome do impressor e, muitas vezes, informam a data da gravura ou o nome da cidade em que foi impressa.

Prática semelhante acontecia no escudo da carrugem do arcano VII, onde eram adicionadas as iniciais dos impressores. Confira as ilustrações na parte final do texto O Carro.

Três de Ouros

Significados gerais

Indica uma expansão mental através de um trabalho construtivo e regenerador.

Mental: Relação com grandes intuições, com revelações do conhecimento. É a inteligência que acompanha o amor em seu sentido mais elevado.

Anímico: Aporte de confiança, proselitismo, misticismo ativo, ação animada e envolvida.

Físico: Confiança em si para os empreendimentos, intuição do que é necessário fazer. Saúde normal, sem excesso de vitalidade. Eventuais instabilidades e alterações nervosas.

• (–): Abatimento, adiamentos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Profissão, trabalho especializado. Também é considerada uma carta de nobreza, aristocracia, renome, glória.
(-) Mediocridade, no trabalho e em outras atividades ou expressões, imaturidade, mesquinhez, fraqueza.

• Representa nascimento, grandeza de alma, nobreza, celebridade, renome. Indica fortuna por empreeendimentos habilmente dirigidos, pelo trabalho e pela genialidade.

Quatro de Ouros

Significados gerais

Simboliza o ideal interior do homem, que dirige suas manifestações em todos os planos, dando força realizadora.

Mental: Grandes inteligências organizadoras e realizadores, capazes de concretizações importantes.

Anímico: Realização impessoal, como é o caso do serviço à coletividade. Em assuntos comuns representa uma corrente superior que pode ultrapassar a capacidade de utilização pelas pessoas envolvidas.

Físico: Negócios importantes, com grande repercussão. Boa saúde, vitalidade excelente, longevidade.

Interpretações usuais na Cartomancia

• A segurança da posse, doação, legado, herança.
(-) Suspensão, retardamento, oposição.

• Significa recompensa, presente, legado, herança, generosidade, benefício. Representa aquisição certa de riqueza, fortuna estável.

Cinco de Ouros

Significados gerais

Indica o homem diante das solicitações de sua consciência ativa em todos os domínios, utilizando sua capacidade construtiva com uma atividade harmoniosa e equilibrada.

Mental: Ganhos em movimento. Projetos que tomam corpo.

Anímico: Afinidades que podem levar às parcerias e casamento. Afeições fortalecidas.

Físico: Lucro assegurado, aumento de clientela. Segurança quanto à saúde.

• (–): Diminuição do impulso, mas sem impedir a realização dos propósitos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• A carta prediz acima de tudo contratempos materiais. Para alguns cartomantes, é uma carta de amor e amantes – esposa, marido, amigo, amantes; também concordância, afinidade.

• (-) Desordem, caos, ruína, discórdia, devassidão.

• Pode indicar ainda pensamentos, inspiração, idéia. Dissipação, prodigalidade, idéias variáveis.

Seis de Ouros

Significados gerais

Representa o aperfeiçoamento interno que o homem realiza através do esforço de conciliação das correntes do Alto com as de baixo, que permite o equilíbrio nas realizações.

Mental: Esforço ou sacrifício necessário ao sucesso. Capacidade para realizar as tarefas difíceis quando a obrigação se apresenta.

Anímico: Renúncia a si mesmo; abnegação afetiva.

Físico: Negócios que exigem algum sacrifício para serem bem sucedidos. Saúde sujeita a queda por envolvimento excessivo com as questões materiais.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Presentes, donativos, gratificação. Atenção, vigilância; também o tempo aceito, prosperidade presente.

• (-) Desejo, cobiça, inveja, ciúme, ilusão.

• Indica aspirações, ambições, esperanças, desejos. Denota bens inesperados, porém perigo de perdê-los por meio de falsos amigos.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 2 – Trevo. Significa o chamado para tomar ciência da importância de manter a confiança e de buscar a sabedoria interior para enfrentar as situações adversas da vida (Trevo), e, ao mesmo tempo, exercitar sua capacidade compartilhar: dar e receber, proteção, generosidade, bondade; prenuncia uma provável entrada de recursos (6 de Ouros). [G. Spacassassi – Resumos]

 

Sete de Ouros

Significados gerais

Indica o estímulo ao homem para a ação e as decisões que deve tomar a fim de modificar por si mesmo um estado instável.

Mental: Enorme atividade de espírito com facilidade de exposição e de organização.

Anímico: Brilho nos sentimentos, vibração incomum, que pode atingir as massas.

Físico: Empreendimentos de envergadura e grande atividade. Saúde rica por seu dinamismo interno.

• (–): Lentidão, entorpecimento. Parada e até falência.

Interpretações usuais na Cartomancia

• De um modo geral, trata-se de uma carta de dinheiro, negócios, trocas. Pode representar inocência, candura, purificação; mas também é interpretada como indicadora de discussões, brigas.

• (-): Ansiedade relativa a dinheiro que se pode querer emprestar.

• Significa boas notícias, dinheiro, riqueza, compra, especulação, negócio. Indica fortuna adquirida pelo trabalho pessoal.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 12 – Corujas. É o momento de enfrentar a dor com sabedoria, humor e inteligência, sem se deixar dominar pelas emoções neste momento. Somos convidados a compartilhar nossas dificuldades com alguém: um amigo ou profissional da área (Corujas), pois só assim poderemos encarar a difícil tarefa de tomar uma decisão adequada diante de um impasse (7 de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Oito de Ouros

Significados gerais

Simboliza a compreensão do homem que, ao comparar o que está no Alto com o que está embaixo, atua do conhecido para o desconhecido, recebendo à medida que dá.

Mental: Necessidade de um esforço exatamente proporcional ao que se deseja obter. As coisas não acontecem por si mesmas: é preciso de esforços para obter um resultado.

Anímico: Proporciona segurança, mais na amizade do que no amor. Não é um arcano sentimental.

Físico: Trocas proporcionais. Empreendimentos bem encaminhados, principalmente do ponto de vista comercial.

• (–): Perturbações no andamento dos projetos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Trabalho, emprego, encargo, artesanato, habilidade em ofícios e negócios, talvez na fase preparatória.

• (-) Ambição frustrada, vaidade, avidez, extorsão, usura. Pode significar ainda a habilidade ou um espírito engenhoso voltado para a astúcia e a intriga.

• Representa posição, emprego, processo, contestação. Significa perigo de roubo, grandes esperanças, porém pouco resultado, estando a posição sujeita a dificuldades.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 33 – Chave. Indicada a oportunidade para aprender que o êxito, o crescimento e o sucesso dependem, única e exclusivamente, de nosso empenho e dedicação em enfrentar e equacionar eficientemente os problemas que surgem pelo caminho (Chave); muitas vezes, para atingir nossa meta, somos forçados a parar, retroceder e nos submeter a um novo aprendizado para nos reciclar (8 de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

Nove de Ouros

Significados gerais

Representa o trabalho amplo, altruísta e equilibrado do homem com a finalidade de sua união com o mundo.

Mental: Conhecimentos vastos, aprofundados. Inteligência que se abre a concepções amplas, à filosofia, aos ensinamentos.

Anímico: Sentimentos ricos, elevados. Também amores à primeira vista, intensos. Brilho.

Físico: Empreendimentos que terão êxito e lucro assegurado. Saúde que favorece a atividade, vivacidade.

• (–): Ligeiro desânimo.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Prudência, segurança, sucesso, consecução, certeza, discernimento.

• (-) Trapaça, decepção, projetos vãos, má fé.

• Pequeno atraso nos negócios, êxito, segurança, realização. Significa fortuna proveniente de falecimentos, fontes misteriosas e estudos científicos.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 8 – Caixão. Representa a oportunidade para entender que as grandes transformações, o fim de um estágio ou ciclo, as perdas de todo tipo (Caixão) constituem um teste para avaliar nossa capacidade de autossuficiência, forçando-nos a descobrir novas formas de canalização de nosso potencial criativo que, no final, gerarão muito prazer e contentamento (9 de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

Dez de Ouros

Significados gerais

Simboliza a totalização harmoniosa que permite ao homem penetrar no fundo de algumas coisas e organizá-las para o bem de outras.

Mental: Espírito universal, sábio, conhecedor dos princípios da matéria.

Anímico: Brilho, amor pelas grandes causas, apoteose.

Físico: Saúde, beleza, harmonia física. Empreendimentos que envolve discussões especiais, em laboratórios, centros de estudo. Ponto de vista coletivo e não individual.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Lucros, riquezas; assuntos de família, arquivos, descendência, domicílio

  de uma família. Às vezes, oportunidades, donativos, dotes, pensão.

• (-) Fatalidade, perda, assalto, jogos de azar.

• Representa dinheiro, ganho, retribuição, casa, residência, família, bens imóveis, grande alegria, mudança. Aquisição de bens pelo trabalho, êxito em propriedades e terras.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 26 – Livro. É o momento oportuno para analisar a nossa relação com os estudos, o esforço intelectual e a dedicação ao trabalho, que ampliam nossos horizontes e possibilitam o crescimento (Livro), constituindo uma forma segura para alcançarmos a paz, a harmonia, a segurança e a prosperidade almejada (10 de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

ESPADAS (gládio, machado, lança) e o elemento AR

• Pensamento, inteligência, trocas e intercâmbio. Fusão, cooperação dos opostos, ação penetrante do Verbo.
• Maturidade e equilíbrio.
• Racional, teórico, filosófico, intelectual.
• Esforço, dificuldades, energia para a renovação.
• Arma que desenha uma cruz e recorda a união fecunda   O símbolo de espadas no baralho comum.

dos princípios masculino e feminino. A espada simboliza também uma ação penetrante como a do Verbo ou do Filho.
• No plano a identidade individual significa maturidade e equilíbrio.
• Socialmente representaria os militares e os guerreiros; policiais e fiscais; toda atividade que toma das armas para manter uma ordem

ou modificá-la. Relaciona-se ao poder apoiado pela força.
• Corresponde ao cavaleiro, entre as figuras do baralho.
• São os silfos e os gigantes, entre os espíritos elementares.

Aspecto masculino de Espadas: o Adolescente (Átis, Adônis, Narciso).

Lado luminoso: o Intelectual. Espírito crítico. Tático, móvel, vivo, bom passatempo, perspicaz.
Lado sombrio: o Pretensioso. O eterno adolescente. Frio, cruel, sem consideração, cínico.

Aspecto feminino de Espadas: Musas Inspiradoras (a Noiva do vento, as Sereias, a Estrela de cinema).

Lado luminoso: a Sacerdotisa (“prostituta” do templo), a Mulher independente, a Musa, a Esteticista, a Intelectual, encantadora, distante.
Lado sombrio: a prostituta das ruas, a Mulher calculista, fria, impiedosa, cínica, histérica.

As cartas numeradas do naipe de ESPADAS

O Tarô é um estímulo para desenvolvermos a arte da linguagem simbólica.Reduzi-lo a um mero receituário factual diminui sua riqueza. Por essa razão é importante ressaltar que os significados apresentados a seguir constituem apenas um simples resumo do que se encontra nos manuais de cartomancia.
Estudos de aprofundamento podem ser linkados no correr dos textos abaixo.

Ás de Espadas

Significados gerais

Representa a força ativa que o homem desenvolve com firmeza e compreensão para o triunfo de seu ideal.

Mental: Esclarecimento intelectual, precisão e clareza.

Anímico: Ausência de sentimentalismo. Esta carta coloca o sentimento apenas na fé, no misticismos ou nas convicções profundas.

Físico: Saúde. Desenvolvimento progressivo. Bom estabelecimento das coisas. Recuperação do potencial nervoso.

• (–): Preguiça mental. Displicência. Falta de energia. Debilidade.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Triunfo, o grau excessivo de tudo, conquista, vitória pela força. É uma carta de grande força, tanto no amor como no ódio. A coroa pode ter um significado muito mais alto do que tem habitualmente na esfera da leitura da sorte. Também é interpretada como concepção, nascimento, aumento, multiplicidade.

• (-) Triunfo, mas os resultados são desastrosos. Em certos casos significa violência. Interrupção brusca da vida.

• Relações, encadeamento, conquista, êxito no amor, paixão, vantagens conquistadas à força. Seguida por Dez e Nove de Espadas, denota notícia de morte, grandes tristezas, traições íntimas, roubo. Indica grandes lutas, empreendimentos que se realizarão, apesar dos obstáculos.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 29 – Dama. Se o consulente for uma Mulher indica que está sendo convidada a se repensar como “Mulher”: avaliar se está conseguindo harmonizar e equilibrar seu gênero biológico, feminino (Dama), com os aspectos racionais e masculinos no íntimo de seu ser (Ás de Espadas).
Se for um Homem: representa o chamado para repensar seus conceitos a respeito das mulheres, ou admitir que o desafio que enfrenta no momento depende da ação, apoio ou ajuda de uma mulher.  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Dois de Espadas

Significados gerais

Representa a interrupção de uma ação concreta, com vistas a um posterior enriquecimento, que se destina a amadurecer este empreendimento.

Mental: Equilíbrio estático. Ausência de atividade.

Anímico: Riqueza de sentimentos em potencial.

Físico: Negócios frustrados, obstáculos, prostração. Hipertensão, circulação lenta.

Interpretações usuais na Cartomancia

• A harmonia e o equilíbrio, coragem, amizade, concórdia em uma situação belicosa. Também indica ternura, afeição, intimidade.

• Boa parte dos cartomantes não vê harmonia e outros significados muito favoráveis no naipe de Espadas, com relação aos assuntos humanos.

• (-): Impostura, falsidade, duplicidade, deslealdade.

• Denota rivalidades, afeição, ternura, simpatia, atração, afabilidade, benevolência. Representa proteção contra os inimigos, grandes lutas por associações.

Três de Espadas

Significados gerais

Indica o trabalho ativo da consciência determinando ações precisas.

Mental: Decisão, afastamento da hesitações.

Anímico: Desprendimento, nitidez nos sentimentos, clara perspectiva das coisas.

Físico: Apoio, aporte de energia. Evolução clara e direta nos negócios. Saúde muito boa.

• (–): Em caso de doença, pode indicar obstáculos, demora na cura.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Remoção, ausência, demora, divisão, rompimento, dispersão.

• (-): Alienação mental, erro, perda, distração, desordem, confusão.

• Afastamento, partida, ausência, incidente, atraso, horror, desprezo, aversão, antipatia. Luta, controvérsia, desgosto, situações embaraçosas.

Quatro de Espadas

Significados gerais

A alegria, o ardor interior do ser humano, criado através do trabalho e da atividade construtiva.

Mental: Riqueza de fluidez.

Anímico: Sentimentos seguros e profundos; união sem perturbação.

Físico: Criação, organização com grande potencial, que permite a realização de qualquer empreendimento. Assuntos muito ricos em espiritualidade.

• (–): Desgosto, depressão, tristeza, sentimento que se empana e extingue.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Vigilância, retiro, solidão, repouso do ermitão, exílio, túmulo e féretro. Boa administração, circunspecção, economia, avareza, precaução, testamento.

• Indica solidão, retiro, ermida, segurança, vigilância, economia, boa conduta. Afastamento da vida social, em conseqüência de contrariedades e desgostos.

Outros significados do Quatro de Espadas

  • Quatro de Espadas: da desistência à meditação. Giancarlo Kind Schmid mostra as conexões da carta no tarô Rider-Waite com simbolos das artes marciais : Reflexões sobre a Arte da Guerra

Cinco de Espadas

Significados gerais

Decisão tomada pelo homem para acabar com as dificuldades trazidas por sua estagnação no mundo material.

Mental: Pensamento instintivo, claro. Decisão. Percepção compreensiva dos acontecimentos.

Anímico: Tende a ver o lado intelectual dos problemas psicológicos. Por exemplo, casamento por conveniência e não por amor. Pede esforço sobre a passividade que leva a um sacrifício da parte psíquica.

Físico: Rumo ao sucesso. Orientação para um desfecho. Domínio sobre os acontecimentos.

• (–): Teimosia, lentidão, obstáculo. Negócios difíceis de gerenciar. Cortes

  ou interrupções muito sérias.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Degradação, destruição, revogação, infâmia, desonra, perda. Enterro e funerais.

• Roubo, perda, engano, falsidade, desperdício, destruição, detrimento, diminuição, infelicidade, desonra, infância, sedução. Idéias fixas, vinganças, perigo de ruína por uma idéia má.

Seis de Espadas

Significados gerais

Atividade mental do ser humano dirigida por ele para realizar a organização e a conciliação das forças materiais.

Mental: Idéias criativas, percepção de empreendimentos a serem realizados, início de idéias renovadoras.

Anímico: Proteção efetiva e reconfortante. Relações práticas entre as pessoas.

Físico: Gestação, maternidade. Negócios que se desenvolvem com equilíbrio. Harmonia. Segurança.

• (–): Desordens materiais. Problemas nos negócios. Prejuízos e diminuições. Afinidades com o lado mal e com a discórdia.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Viagem por água, roteiro, caminho, mensageiro, comissão, expediente. Declaração, confissão, publicidade. Também pode ser uma declaração de amor.

• Indecisão, instabilidade, caminho, passagem, viagem, passeio. Enviado, mensageiro.

• (-): grandes desgostos por falta de firmeza e de iniciativa. Contudo é favorável para as viagens e as notícias.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 19 – Torre. Momento para aprender a desenvolver a capacidade de reflexão e análise para melhor equacionar os problemas da vida, provavelmente como este que está sendo enfrentando (Torre), para só então, depois da preparação necessária, partir para a luta, enfrentando os desafios com firmeza e dignidade (6 de Espadas).  [G. Spacassassi – Resumos]

Sete de Espadas

Significados gerais

Representa a prova a que o ser humano é obrigado a se submeter para tomar ciência de um saber sem o qual não conseguiria penetrar em seu sentido interior.

Mental: Compreensão das coisas, idéias claras, julgamento equilibrado.

Anímico: Harmonia, psiquismo, altruísmo, união, concordância de pontos de vista.

Físico: Encaminhamento harmonioso, bons resultados.

• (–): Depressão, dúvidas, falta de inspiração, tentativas tímidas para se libertar.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Intenção, tentativa, desejo, esperança, confiança; também briga, um plano que pode falhar, aborrecimento. Bom conselho, instrução.

• (-) Calúnia, tagarelice.

• Significa catástrofe imprevista, queda de lugares elevados, perda de posição, numerosas lutas. Falsas esperanças.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 27 – Carta. Alerta para estarmos atentos aos acontecimentos inesperados, revelações, convites; e para tomarmos conhecimento de novos aspectos ou fatos de uma dada questão ou situação que está sendo revelada (Carta) e que nos obriga, neste momento, a agir com discrição, tato, diplomacia e até absoluto sigilo, a fim de evitar problemas maiores ou perdas irreparáveis (7 de Espadas).  [G. Spacassassi – Resumos]

Oito de Espadas

O Oito de Espadas no Tarot de Marselha - Kris Hadar

Significados gerais

Esforço de libertação do homem através de uma evolução interior, resultante de suas atividades mentais, como uma recompensa dada pelo destino.

Mental: Elevação de espírito, compreensão do esforço espiritual, do impulso místico.

Anímico: Desinteresse, amor dirigido às massas, apostolado.

Físico: Estabilidade na ação, melhores resultados mais de ordem espiritual que material

• (–): Estagnação devido a uma posição alcançada, que deverá ser rompida para estender-se em outras direções.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Más notícias, grande aborrecimento, crise, censura, obstáculos, conflito, calúnia; também doença. Inquietação, dificuldade, oposição, acidente, traição; o que é imprevisto; fatalidade.

• Crítica, posição duvidosa, conflito, combate, portador de más notícias. Se for seguida de Sete de Ouros e se estiver junto de uma figura qualquer, representa lágrimas, discórdia, perda de emprego e de prestígio. Perda de processo, condenação, desgostos, ansiedade.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 20 – Jardim. Oportunidade para defender o espaço pessoal das invasões externas; desenvolver a capacidade de cuidar e defender o próprio domínio, e, ao mesmo tempo, nutrir e proteger os que lhe são caros (Jardim) até mesmo diante de situações adversas e opressivas, quando o medo dificulta uma ação adequada e justa (8 de Espadas).   [G. Spacassassi – Resumos]

 

Nove de Espadas

Significados gerais

Representa a necessidade do homem realizar um trabalho perseverante para se livrar daquilo que significaria uma estabilidade enganosa, que paralisaria sua evolução.

Mental: Atividade mental, clareza, inspiração em todos os assuntos de ordem intelectual.

Anímico: Estado afetivo, amor iluminado pela inteligência; forte, não pelo lado material, mas por sua profundidade.

Físico: Negócios brilhantes, conduzidos com uma habilidade que leva ao sucesso.

• (–): Falso julgamento. Pretensão de saber julgar.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Morte, fracasso, malogro, atraso, decepção, desaponto, desespero. Prisão, suspeita, dúvida, temor fundado, vergonha.

• Decepção, desengano, atraso em negócios. Sendo seguida de Nove de Ouros ou de Ás de Paus, denota dinheiro que será recebido com atraso. Indica também desgosto, lutas misteriosas, perigo de morte, moléstia grave, envenenamento, inimizades poderosas. É necessário prudência e discrição para vencer obstáculos.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 35 – Âncora. Representa o momento para compreender que a segurança e a estabilidade, material e emocional, resultam unicamente da fé; de um sistema de crenças, flexível e sem fanatismo, que possa nos orientar e servir de apoio para levar à vitória (Âncora). Isso é verdadeiro quando as situações pressionantes da vida, que geram toda sorte de medos, ansiedades, culpas e sofrimentos, tentam inibir nossa capacidade de reagir e vencer (9 de Espadas).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Dez de Espadas

Significados gerais

Representa o senso anímico do homem que, quando iluminado pelo equilíbrio harmonioso de suas experiências, pode agir com conhecimento de causa e consegue realizar à sua volta envolvimentos afetivos, que cuidam e protegem suas criações.

Mental: Julgamento eqüitativo, humanitário.

Anímico: Satisfação e acordo místico, principalmente sentimento, num amor depurado. Afeição muito elevada.

Físico: Atitude feliz diante dos acontecimento, através de autodomínio e de equilíbrio sentimental. Negócios ajudados providencialmente. Saúde que precisa mais de apoio nervoso do que físico; possibilidade de anemia.

• (–): Desordem sentimental que falseia o julgamento.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Sofrimento, aflição, lágrimas, tristeza. Vantagem, lucro, sucesso, mas nada permanente.
Poder e autoridade

• Lágrimas, tristezas, lamentos, aflição. Alternativas de lucros e perdas, infortúnios, desgostos e moléstias.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 3 – Navio. É uma indicação para dar um novo rumo à vida; a explorar novos horizontes (Navio). Felizmente você sobreviveu; o grande desafio terminou, apesar de tê-lo deixado sem energias, sentindo-se frustrado e sem muitas esperanças (10 de Espadas). [G. Spacassassi – Resumos]

COPAS (taça, ânfora, coração) e o elemento ÁGUA

• Sentimentos e emoções. Receptividade feminina, ânfora divinatória. Sensibilidade, ideais, criações artísticas. Amores, afetos, prazeres. Paixões e sentimentos profundos. Intuitivo, místico, romântico.
• A Mãe. Artistas, religiosos, intelectuais e poderes adquiridos por meio da cultura.

• No plano da identidade individual significa a sensibilidade, o amor, os ideais, a criação artística.
• Corresponde à dama, entre as figuras do baralho.

• São as ondinas e as sereias, entre os espíritos elementares.

Aspecto masculino de Copas: o Místico (Mestre Eckhart, Nostradamus,

Rasputin).
Lado luminoso: o Sábio Mediúnico, o Profeta. O caloroso ajudante na vida, o Mago, um sentimental.
Lado sombrio: o capacho humano, o caótico. O Mago Negro. Fanático, demagogo.

Aspecto feminino de Copas: a Médium (Sibila, Hécate, Circe, Cassandra, a Fada madrinha.
Lado luminoso: A mulher intuitiva, que realiza curas, espontânea, dedicada, que se sacrifica, desapegada, inspiradora, imaginativa.
Lado sombrio: a mulher “angelical”, vaidosa, boba, seduzível. A mulher Bruxa, a Fúria, a fanática, a destrutiva, possuída pela sede de poder.

As cartas numeradas do naipe de COPAS

O Tarô é um estímulo para desenvolvermos a arte da linguagem simbólica.Reduzi-lo a um mero receituário factual diminui sua riqueza. Por essa razão é importante ressaltar que os significados apresentados a seguir constituem apenas um simples resumo do que se encontra nos manuais de cartomancia.
Estudos de aprofundamento podem ser linkados no correr dos textos abaixo.

Ás de Copas

Significados gerais

Representa no ser humano a elaboração íntima das riquezas adquiridas em todos os plano do sentimento.

Mental: Julgamento claro, inspirado, contra o qual não há recurso.

Anímico: Beleza de sentimentos, que se elevam acima da observação pessoal. Altruísmo, obras filantrópicas. Educação das massas.

Físico: Contato com as coisas elevadas no plano material. Grandes empreendimentos. Produções artísticas geniais.

• (–): O ser se prende à matéria e perde a espiritualidade. Materialismo. Ou se perde em sonhos irrealizáveis.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Casa do verdadeiro coração, alegria, contentamento, permanência, nutrição, abundância, fertilidade. Mesa Sagrada, felicidade ali reinante.
(-) Casa do falso coração, mutação, instabilidade, revolução.

• Representa casa, residência, mesa, festim, alimento, nutrição, convivas, perseverança, assiduidade, coragem. Em assuntos de amor, denota perigo de sedução, paixão violenta e invencível.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 28 – Cavalheiro. Se o consulente for um homem indica que está sendo convidado a se repensar como “Homem”: avaliar se está conseguindo harmonizar e equilibrar seu gênero biológico, masculino (Cavalheiro), com os aspectos emocionais e femininos no íntimo de seu ser (Ás de Copas).
Se for uma mulher: indica o chamado para repensar seus conceitos a respeito dos homens; ou aceitar que o desafio que você enfrenta no momento depende da ação, apoio ou ajuda de um homem.   [G. Spacassassi – Resumos]

 

Dois de Copas

Significados gerais

Representa o impulso dos desejos materiais que se desagregam e nutrem as tendências instintivas e egoístas, mas que deixam experiências, fonte de uma evolução futura.

Mental: Esclarecimento após um período de obscuridade.

Anímico: Força íntima, sólida, sobre a qual se pode apoiar, a menos que se transforme em paixão devoradora.

Físico: Assuntos ricos em potencial, necessitando de uma ação externa para se revelar. Saúde equilibrada, se estamos bem; estacionária se estamos doentes.

• (–): Desordem ou complicações sentimentais nos relacionamentos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Amor, paixão, amizade, afinidade, união, concórdia, simpatia, interação dos sexos. Também aquele desejo que não está na Natureza, mas pelo qual a Natureza é santificada.

• Indica amor, paixão, inclinação, simpatia, atração, amizade, afeição, benevolência, união, concórdia.
(–): No amor, este arcano significa que trará rivalidades e obstáculos.

Três de Copas

Significados gerais

Representa a sublimação de uma receptividade instintiva em riquezas dos sentimentos superiores.

Mental: Penetração espiritual para organizar assuntos materiais.

Anímico: Realização psíquica.

Físico: Aporte espiritual. Encarnação do espírito na matéria.

• (–): Materialismo. Superficialidade. Apego excessivo à matéria.

Interpretações usuais na Cartomancia

• A conclusão de algo com plenitude, perfeição e deleite; desfecho feliz, vitória, consecução, alívio, saúde. Expedição, despacho, consumação,

  fim. Também significa o lado do excesso no gozo físico e os prazeres dos sentidos.

• Êxito, ciência, vitória, cura, alívio, realização, expedição, despacho, conclusão, descoberta, achado. Novas afeições, ternura, poesia, realização de esperanças, amor delicado por uma moça de grandes qualidades.

Estudos sobre o Três de Copas

  • O Três de Copas e o cinemaFábio Leite Monteiro comenta uma pesquisa sobre o idealismo romântico de algum filmes e estabelece relações com o Três de Copas : Os filmes românticos

Quatro de Copas

Significados gerais

Simboliza as reservas que o ser humano acumula através de seus esforços físicos e que para ele se traduzem em proveito quanto a qualidade e duração.

Mental: Confiar na intuição e agir sem se perder em análises.

Anímico: Realização psíquica, contribuições favoráveis e estáveis.

Físico: Negócio bem estabelecido, bem organizado, que promete ser estável e duradouro. Segurança quanto à saúde.

• (–): Estagnação, atravancamento, problemas circulatórios.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Cansaço, desgosto, aversão, vexames imaginários. Presentes são oferecidos ao perdulário, mas não lhe trazem consolo. Novidade, novas referências, novas relações.

• Parentesco, família, meio social. Amores sólidos e duráveis, amizades úteis, realização das esperanças, aproximação de uma grande alegria.

Cinco de Copas

Significados gerais

Representa, por parte do homem, a organização das percepções e da sensibilidade absorvidas nos níveis mais profundos, para dar impulso aos sentimentos materiais e atingir o plano espiritual.

Mental: Clareza de concepção. Domínio sobre os elementos presentes.

Anímico: Impulso místico, ternura maternal, sacrifício por amor, impregnação pelo amor universal.

Físico: Nos negócios traz segurança para orientar os acontecimentos ou para dirigir os assuntos com sutileza. Na saúde indica vitalidade delicada, saúde frágil sustentada por uma grande força de espírito e pelo equilíbrio nervoso.

• (–): Interrupção na evolução, efeitos graves, tristeza, desânimo, angústia, desespero.

Interpretações usuais na Cartomancia

• É considerada uma carta de perda, mas algo permanece; é uma carta de herança, patrimônio, transmissão, mas que não corresponde às expectativas. Também é vista como uma carta de matrimônio, mas não sem amargura ou frustração. Notícias, alianças, afinidade, consangüinidade, ancestralidade, regresso, falsos projetos.

• Legados, heranças, donativos, patrimônio, testamento. Em assuntos de amor, este Arcano denota contrariedades e questões. Para um homem: perigos por uma mulher. Para uma mulher solteira: perigo de sedução.

Seis de Copas

Significados gerais

Representa a evolução dos instintos, dos sentimentos e das intuições que o homem busca pra realizar o equilíbrio de suas percepções.

Mental: Julgamento ativo, sólido, completo, definitivo e benéfico, pois o Arcano representa uma harmonia entre o espiritual e o material.

Anímico: Sentimentos fortes, protetores, equilibrados.

Físico: Negócio estável, garantido, quase inabalável. Saúde robusta, com tendência a excesso de sangue

• (–): Mal-estar, lentidão, mas momentâneos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Uma carta do passado e de lembranças, olhando para trás, para a infância; felicidade, prazer, porém vindo do passado. Também novas relações, novos conhecimentos, novos ambientes. O futuro, renovação, que passará logo.

• O passado, o anterior. Novas ralações, novos conhecimentos, novo meio. Má escolha no casamento, por influência de parentes; abandono ou ruptura de casamento.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 16 – Estrelas. Indica que somos chamados a entender que o êxito e a boa sorte dependem da canalização adequada de nosso potencial criativo e do quanto confiamos em nosso brilho pessoal (Estrelas); se estivermos enfrentando uma crise é sinal de que devemos parar e meditar seriamente a fim de identificar o que gera algum sentimento de culpa que nos bloqueia e, imediatamente, adotarmos medidas corretivas (6 de Copas).  [G. Spacassassi – Resumos]

Sete de Copas

Significados gerais

Simboliza o desejo de expansão do homem, a compreensão e a realização que são conseqüências desse desejo.

Mental: Idéias criativas. Educação e revelação tanto para os outros como para si mesmo.

Anímico: Amor protetor, animador e impessoal: amor pela pátria, desejo de heroísmo.

Físico: negócios administrados com raciocínio claro. Decisões acertadas; o julgamento surge de maneira intuitiva e com segurança. Boa saúde. Harmonia corporal, boa circulação, flexibilidade, agilidade corporal.

• (–): Mal estar.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Belos favores, imagens de reflexão, sentimento, imaginação, coisas vistas no espelho da contemplação; mas nada é sugerido de permanente ou substancial. Desejo, vontade, determinação, projeto.

• Pensamento, alma, espírito, entendimento, reflexão. Êxito por meio de uma mulher, felicidade pelo encontro de uma mulher amorosa, porém depois de muitas lutas e peripécias.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 5 – Árvore. Indica o momento de buscar o crescimento e a prosperidade pessoal, que dependem do equilíbrio correto dos aspectos materiais e espirituais da existência e de se guiar por princípios éticos e morais, aliados à avaliação criteriosa e racional das possibilidades e dos recursos disponíveis (Árvore), ao invés de permanecer iludido, esperando um milagre, fantasiando, ligado apenas à aparência e glamour das coisas ou pessoas (7 de Copas).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Oito de Copas

Significados gerais

Representa uma clareza decorrente de um julgamento equilibrado e seguro que, no entanto, o homem só consegue utilizar quando é estimulado a abandonar sua passividade.

Mental: Fixação nos pensamentos e idéias obsessivas.

Anímico: Afeição de dois seres que não se libertam de si mesmos.

Físico: Negócios estáveis, que vão bem, mas precisam evoluir. Saúde: estado doentio que persistirá se não forem tomadas providências.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Significa alegria, doçura, tumidez, honra, modéstia. Habitualmente a carta

  mostra o declínio de uma questão que foi considerada importante, mas é na realidade de pouca significação, para o bem ou para o mal. Grande alegria, felicidade, deleite.

• Temor, modéstia, alegria, prazer, satisfação. Perigo de escândalos em amor, amores proibidos, paixões violentas, divórcio, mau casamento, perigo de sedução. É favorável aos negócios.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 32 – Lua. Representa o chamado para focalizarmos os aspectos emocionais e cíclicos da vida; para refletirmos sobre a nossa necessidade de reconhecimento e aprovação pública; para reconhecer e respeitar as nossas reais necessidades interiores (Lua). Isto implica em desistir, renunciar alguma coisa, pois a verdade dos fatos deve ser encarada e é preciso caminhar de mãos vazias em direção ao desconhecido (8 de Copas).  [G. Spacassassi – Resumos]

Nove de Copas

Significados gerais

Simboliza relações de alma harmoniosa do homem com o Mundo.

Mental: Clareza de julgamento, pois o espírito se reveste de uma inteligência baseado no conhecimento.

Anímico: Aplicações na coletividade, obras altruísticas, em grupos e congregações, e não individualmente.

Físico: Negócios em franco progresso, equilibrados em todos os aspectos. Saúde boa, cura de doença, temperamento resistente e dotado de grande força nervosa.

• (–): Desordem ou confusão; persistência no erro.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Concórdia, contentamento, bem-estar físico. Vitória, sucesso, vantagem, satisfação para o consulente ou para a pessoa para quem é feita a consulta. Verdade, lealdade, liberdade; mas também erros, imperfeições, etc

• Vitória, êxito, ganho, triunfo, prosperidade, lealdade, boa-fé, franqueza, verdade. Indica união com um velho ou com uma pessoa viúva, amores estranhos, celibato. É necessário prudência nos desejos e na escolha das afeições, embora o conjunto seja favorável.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 1 – Cavaleiro: É indicação para agir de forma correta e ousada. Abrir-se para o novo e deixar o espírito de liderança guiar seus passos (Cavaleiro). O momento possibilita a realização de um sonho, a concretização de um projeto ou uma união afetiva (9 de Copas). [G. Spacassassi – Resumos]

 

Dez de Copas

Significados gerais

Representa o homem que, tendo completado seu trabalho, volta-se pra a oração e pede a ajuda divina para seguir com sucesso o novo caminho de sua evolução.

Mental: Êxito no pensamento. Julgamento equilibrado.

Anímico: Amor equilibrado, sadio. União que se completa em todos os planos.

Físico: Sucesso num empreendimento. Continuidade nos negócios. No caso de um projeto, desfecho. Saúde magnífica.

• (–): Demoras.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Contentamento, repouso de todo o coração; perfeição nesse estado; também perfeição do amor e da amizade humana. Ao lado de várias cartas de figura, uma pessoa que está defendendo os interesses do consulente; também a cidade ou o país habitado pelo consulente.
(-) Falso repouso do coração, indignação, violência.

• Cidade, país, habitação, alegria, contentamento. Se estiver junto a várias figuras, representa uma pessoa que se interessará pelo consulente. Vida feliz e rodeada de afeições, família numerosa, muitos amigos e amores na mocidade, porém conservação dos primeiros amores.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 18 – Cão. Momento em que somos chamados a aprender que a fidelidade, a compreensão, a dedicação e a amizade verdadeira, aliadas à capacidade de estarmos alertas e vigilantes contra as investidas dos fatores externos desestruturantes (Cão), constitui uma base para estabelecermos relações afetivas ou comerciais harmoniosas e duradouras, sempre pautadas por um grande ideal (10 de Copas).  [G. Spacassassi – Resumos]

As 16 figuras dos arcanos menores

– ReisRainhas (ou Damas), Cavaleiros e Valetes (ou Pajens), repetidos em quatro naipes — PausOurosEspadas e Copas — constituem personagens intermediários entre a abstração dos números — cartas de 1 a 10 — e os arcanos maiores com suas representações humanas e animais claramente diferenciadas entre si. As figuras ocupam, desse modo, um posto duplo no baralho: estão encadeadas à ordenação dos naipes e, ao mesmo tempo, fazem ponte com os modelos dos arcanos maiores. Embora repetidas em cada naipe, são muitas vezes consideradas como um terceiro grupo de cartas.

Essa dualidade talvez explique o fato de encontrarmos poucos estudos de profundidade sobre as figuras dos arcanos menores. São raros os textos que trazem uma visão de conjunto das 16 cartas.

As quatro figuras da corte no Tarot de Marselha-Kris Hadar

Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete.
São quatro as figuras, no Tarô clássico, para cada naipe.

Parece coerente que as figuras dos arcanos menores do Tarô obedeçam aoprincípio do quaternário (quatro séries de quatro figuras). É assim que estão desenhados os mais antigos tarôs dos quais se tem registros históricos, a partir do final do século XIV. No entanto, o conjunto das quatro figuras dos tarôs mais antigos foi inexplicavelmente reduzido no baralho comum, utilizado hoje em dia, com a supressão do Cavaleiro, na maior parte dos casos, restando apenas o Rei, a Dama e o Valete.

No caso dos jogos destinados à recreação, os baralhos mais difundidos — o francês e o espanhol — suprimem arbitrariamente uma das figuras de cada série.

O baralho espanhol moderno suprimiu a Rainha.
Foram mantidos o Rei, o Cavaleiro e o Valete.

No que diz respeito ao baralho espanhol, é provável que esta supressão tenha sido estabelecida para aproveitar as possibilidades combinatórias da dezena (já que neste baralho as cartas númeradas vão apenas do ás ao sete). Neste caso, cada naipe fica constituído por 10 cartas: 7 numeradas, mais 3 figuras.

O baralho francês suprimiu o Cavaleiro.
Manteve o Rei, a Rainha (ou Dama) e o Valete.

A justificativa que podemos dar para a redução do número de cartas no baralho espanhol não se aplica ao francês, que soma 13 cartas para cada naipe, isto é, 10 numeradas, mais 3 figuras.

Como não dispomos de registros suficientes, não podemos afirmar categoricamente que essa redução de quatro para três figuras tenha sido uma simples mutilação dos tarôs mais antigos, como é o caso do Visconti Sforza (1450). O antecessor árabe, o baralho Mamluk, traz apenas três personagens da corte, o que pode sugerir que na adaptação européia foi adicionada uma quarta carta.

Seja como for, uma constatação simbólica pode ser feita. Com apenas três figuras, por naipe, cada uma delas poderá ser colocada em relação com a ordem do ternário (três forças: positiva, negativa e neutra) que, combinadas com os 4 naipes (ou os quatro elementos), resultaria no rico sentido do número 12, do dodecadenário, dos 12 signos do zodíaco.

“Os doze signos do zodíaco, — como lembra Patrick Paul — os doze meses, os doze apóstolos, os doze trabalhos de Hércules, os doze meridianos da acupuntura, os doze semitons da oitava, as doze horas do dia nas civilizações tradicionais, são exemplos das doze energias do homem em evolução no transcorrer do tempo pela diferenciação e manifestação do princípio ativo, o espírito, no princípio passivo, a substância”. Doze simboliza os doze lugares nos quais o Tempo circula, ou seja, a interpenetração do Espaço e do Tempo, que determina o limite do nosso mundo cósmico.

As figuras e os quatro elementos

Os significados simbólicos dos quatro elementos constitui a primeira grande chave para compreensão dos quatro naipes e de suas respectivas figuras. Embora existam diferentes pontos de vista sobre as correspondências entre os elementos e as figuras, encontramos uma relativa concordância com relação aos vínculos entre os elementos e os naipes:

Fogo: naipe de Paus, figura do Rei

Água: naipe de Copas, figura da Dama

Ar: naipe de Espadas, figura do Cavaleiro

Terra: naipe de Ouros, figura do Valete

As 16 figuras também podem ser compreendidas como combinações dos quatro elementos, ou seja: 4 x 4 = 16:

      Figura 
 Naipe
Rei
Fogo
Dama
Água
Cavaleiro 
Ar
Valete
Terra

Paus
Fogo
Rei
de Paus
Dama
de Paus Cavaleiro
de Paus Valete
de Paus

Copas
Água
Rei
de Copas Dama
de Copas
Cavaleiro
de Copas Valete
de Copas

Espadas
Ar
Rei
Espadas Dama
Espadas Cavaleiro
Espadas
Valete
Espadas

Ouros
Terra
Rei
de Ouros Dama
de Ouros Cavaleiro
de Ouros Valete
de Ouros

Essa correspondência entre os os elementos e os naipes é bastante difundida.
Já na relação com as figuras – Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete – não existe consenso.
O quadro acima reproduz o que G.O. Mebes apresenta em “Os Arcanos Menores do Tarô”

Nesse quadro de referência, as figuras dos Arcanos Menores podem ser consideradas expressões dos quatro naipes e dos quatro elementos. Cada uma das quatro figuras de cada naipe concentra em si as características de um dos elementos, além de possuir as do naipe a qual pertence. Desse modo, o Rei de Paus representará uma dupla influência de Paus e do elemento fogo. Pela mesma razão, a Dama de Copas representa a pura essência desse naipe, o mesmo acontecendo com o Cavaleiro de Espadas e o Valete de Ouros.

Fontes e detalhes sobre as figuras

Nos tópicos sobre as figuras — ReisRainhasCavaleiros e Valetes — apresentamos significados que lhes são atribuídos comumente nos manuais sobre o Tarô e a cartomancia. Constituem uma simples referencia para o estudo e não devem ser consideradas como tabelas de leitura, nem sínteses adivinhatórias.

Não podemos esquecer que o Tarô é uma linguagem simbólica que nos ajuda a desenvolver a arte combinatória. Reduzi-lo a um simples receituário é depreciar sua maior riqueza. Mesmo em sua utilização mais ampla, como orientação prática para situações de vida, cada carta pode ser lida por oposição, contraste ou analogia com todas as outras restantes que compõem uma tiragem. O significado de cada carta varia em relação ao conjunto, à questão colocada e, principalmente, com o nível de compreensão de quem faz a leitura.

  • na primeira linha há a definição do chamado “Antigo Método Simbólico“;

  • na segunda, a que corresponde ao método sintético italiano;

  • na terceira, o método francês;

  • e na quarta um extrato do famoso e arbitrário “Grande Eteilla“. Exceto no caso do método italiano, os respectivos oráculos têm sentido positivo (+) e negativo (-).

  • uma quinta linha tem como referência diferentes métodos populares de leitura (com as quatro figuras do Tarô original).

  • a última linha traz excertos do antigo livro da Editora Pensamento, Taro Adivinhatório.

  Para conhecer as demais fontes veja: Bibliografia

Os Reis

Nas tradições primordiais o rei era considerado o modelo do herói. Como imagem arquetípica é a representação do homem universal; é o Adam Kadmon dos cabalistas, o Adão terrestre, que leva o propóstito da encarnação ao seu maior potencial. Como Adão, é também metáfora transparente do pai, do fundador dos povos, do poder gerador.

Num plano iniciático é o que concluiu seu caminho, o guru ou instrutor, e pode ser relacionado ao Ermitão (IX) dos Arcanos Maiores. Por analogia simbólica tem relação com o Sol entre os planetas, com Júpiter entre os deuses, com o ouro entre os metais.

Com sua dignidade simboliza sempre o grau mais elevado de evolução ou grandeza de uma espécie (como é o caso do leão, rei da selva).

A coroa, seu elemento característico, é símbolo universal de realização, de obra concluída, de dignidade intransferível, e supõe a culminação da trajetória individual em busca da identidade.

No Tarô de Marselha, dois dos reis (de Copas e de Ouros) são mais velhos e têm barbas brancas, enquanto que os outros dois são jovens. O Rei de Ouros é o único que não tem coroa, mas sim um chapéu de grandes abas, e cujo trono se encontra ao ar livre, sobre a terra. O Rei de Espadas lembra o protagonista do Carro (VII) pelas luas crescentes que adornam os seus ombros. O Rei de Paus é o único que se encontra de frente e com as pernas separadas. Já o Rei de Ouros tem as pernas cruzadas, como o Imperador (IV) dos arcanos maiores, enquanto o Rei de Copas parece evocar relações simbolólicas com Júpiter-Peixes (ou com Netuno) pelo aspecto flutuante de sua vestimenta e pelo simbolismo aquático da série.

 

Rei de Paus

Significados gerais

Sucesso material conquistado através de um trabalho preciso, equilibrado e executado com firmeza.

Mental: certeza de julgamento, clareza nas pesquisas com as coisas que exigem energia. Decisão.

Anímico: espírito de conquista, empreendedor. Desabrochar de energia material. Procriação.

Físico: arrojado nos negócios.
Saúde execelente. Caráter mutável, mas generoso.

• (-) má aplicação da energia em assuntos materiais. Embriaguez, libertinagem por excesso de energia gasta com o prazer.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Personagem útil às necessidades e projetos do consulente.
(-) pode haver demoras.

• Amigo moreno.

• Homem casado ou viúvo. Amigo fiel. Para uma moça, casamento com quem ama. Para um homem, rival.

• Chegada de um parente. (-) Amigo rigoroso.

• O amigo. (-) magistrado venal. Processo perdido.

• Homem do campo, homem bom e severo, pessoa bem intencionada e honesta. Representa um agricultor, homem consciencioso e justo que protegerá o consulente. É o símbolo do poder adquirido pelo mérito e o trabalho, sendo o emblema da proteção de pessoas altamente colocadas. Este Arcano diz: “Procura para os teus empreendimentos um poderoso protetor. Se tiveres vontade e fé, tu o encontrarás; e ele te elevará”.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 6 – Nuvens. É um chamado para enfrentar incertezas, dúvidas e confusões de sentimentos diante dos desafios da vida (Nuvens), que podem ser solucionados na medida em que se deixar o guerreiro interior agir, encarando as questões e usando toda a sua força de vontade (Rei de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Rei de Ouros

Significados gerais

Domínio das construções e realizações materiais, através da ciência e do conhecimento prático..

Mental: inteligência forte, universal, perspicaz; capacidade de introspecção em todos os domínios.

Anímico: neutro em assuntos de afeição. Materialização das esperança, apoio na matéria.

Físico: negócios variados e muitos ativos.
Saúde: conflitos devidos aos movimentos do temperamento.

• (–) extrema desordem, falência. Ausência de escrúpulos, imaginação orientada para recursos desonestos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Inimigo, traidor. Adversário muito perigoso por sua hipocrisia.

• Homem louro com as piores intenções para com o consulente.

• Homem casado ou viúvo, estrangeiro e insolente. Difícil nos negócios, volúvel no amor.

• Homem bem-vindo. (-) viciado.

• O pai. Homem leal e poderoso. (-) com boa vontade mas inoperante.

• Ascensão, proteção de um homem muito rico. Para as mulheres: casamento rico, proteções importantes

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 34 – Peixes. Indica uma nova oportunidade para aprender que a riqueza, a abundância e a prosperidade dependem muito de nossa disposição, de nossa atenção e preparo para aproveitar as oportunidades que surgem repentinamente em nossas vidas (Peixes). Para tanto, precisamos estar alertas e definir metas claras e detalhadas, que traduzam adequadamente as nossas necessidades de status e poder (Rei de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Significados gerais

Sucesso, homem em sua inclinação para as atividades intelectuais, mentais, quando acompanhadas pela reflexão.

Mental: Julgamento equilibrado e profundo. Brilho em todos os domínios. Capacidade de esclarecer e encontrar soluções.

Anímico: Proteção e conforto.

Físico: desperta o que estava adormecido.
Saúde incerta, com risco de desagregações vindas do passado.

• (–) cólera, grosserias, prazeres baixos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Funcionário hostil ao consulente. (-) Processo perdido.

• Homem moreno mal-intencionado.

• Falso amigo. Pai ruim. Marido brutal e avarento. Para um homem: rival. Para uma mulher: amante.

• Homem de beca, acadêmico ou professor. (-) dificuldades.

• O rival. Pessoa perigosa. (-) briga com um amigo.

• Homem togado, juiz, conselheiro, advogado, médico. (-) desarranjos de negócios, homem togado, com o qual o consulente terá de tratar. Fortuna na carreira das armas ou na magistratura, inimigos poderosos entre militares.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 30 – Lírios. É o momento para buscar o equilíbrio, a paz, a harmonia, ou uma nova perspectiva para a vida (Lírios), que só poderá ser alcançada quando agirmos como um diplomata, racionalmente planejando e estabelecendo estratégias adequadas aos desafios que os acontecimentos colocam em nosso caminho (Rei de Espadas).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Rei de Copas

Significados gerais

Renúncia à personalidade voluntária a fim de se abrir confiante ao Universo.

Mental: segurança no julgamento.

Anímico: amor expandido, reconfortante. Sentimento dinâmico. Proteção psíquica.

Físico: Abundância. Negócios fortes, prosperidade, importância social.

• (–) abatimento, dificuldade para se desembaraçar, demorar para alcançar os objetivos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Homem poderoso. (-) obstáculos para proteger o consulente.

• Amigo louro.

• Homem casado ou viúvo. Amigo afetuoso. Pode-se confiar.

• Homem feliz. (-) hostilidade por parte de um homem.

• O chefe. Amigo fiel. (-) avarento.

• Homem louro, honesto, íntegro e serviçal. Um homem justo e de posição. Amizade sincera, benevolência de um homem poderoso. Para uma mulher indica casamento rico e com pessoa de alta posição.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 4 – Casa. É o chamado a dar mais atenção à segurança material, à família e à relação afetiva tão necessária para que possa atuar no mundo (Casa), mas o fundamental é desenvolver a sua autoconfiança e autoestima.Se você não se ama, torna-se difícil amar, servir e proteger aqueles que estão perto de você (Rei de Copas).   [G. Spacassassi – Resumos]

  

As Rainhas

O simbolismo da Rainha, ou da Dama, como é designada no baralho comum, tem relação com o Naipe de Copas e a tudo que se refere à ânfora, ao recipiente que contém, à capacidade feminina de concepção e ao desenvolvimento interno daquilo que é concebido.

Num primeiro nível, a Dama significa claramente a Mãe, mas a importância deste papel varia segundo seja considerada em relação a cada uma das outras três figuras, masculinas em sua totalidade. Para realizar este ternário em si mesma, é evidente que deve ser filha do rei, esposa do cavaleiro e mãe do valete, mas as variáveis interpretativas são múltiplas e não excluem situações “menos respeitáveis”, por exemplo o papel de amante.

Seja como for, é evidente que a figura da Rainha participa de todo simbolismo do feminino e que reúne – num plano geral – a significação dos arcanos maiores 2. A Papisa, 3. A Imperatriz, 8. A Justiça, 11. A Força e 18. A Lua.

No plano iniciático representa as diversas etapas da via úmida e, por analogia, associa-se à Lua, à Vênus e à prata. É a Eva paradisíaca, mas também a Lilith das tradições talmúdicas, e a Ísis dos mistérios.

Considerada na sua relação com o rei, é a imagem mais perfeita da heterogamia ou matrimônio do Céu e da Terra.

As rainhas de Copas e de Ouros têm o cetro na mão esquerda, além do distintivo do naipe que empunham na direita;  a  de  Espadas  tem  trono  com espaldar, a de Ouros com meio espaldar, e as outras duas ocultam o seu com suas vestes. Os pés das quatro figuras estão ocultos.

A Rainha de Espadas apóia a mão esquerda sobre o ventre, num gesto que a iconografia relaciona com as mulheres grávidas.

Nota importante: As interpretações apresentadas a seguir podem se mostrar contraditórias entre si. Têm, no entanto, o objetivo de registrar o painel que resulta da comparação de diferentes livros e revistas sobre as cartas.

Nos receituários que acompanham os baralhos é comum a indicação de “cartas boas” e “cartas más”, fortuna e infortúnios. Pode ser muito instrutivo estudar as fontes populares; basta apenas não tomar as coisas ao pé da letra.

Rainha de Paus

Significados gerais

Princípio feminino e maternal. Fecundidade ou virgindade. Atração e proteção. Simbolismo lunar; água, mar. Receptividade, temperança, sabedoria. Mãe, esposa, namorada.

Mental: Confiança absoluta nos empreendimentos.

Anímico: proteção contra discórdias e desunião. Faz renascer a confiança.

Físico: grande energia interna, preservação nos negócios e na saúde.

• (–) abatimento, confusão, vulgaridade; dificuldade para se livrar dos obstáculos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Mulher influente, falsa e caluniadora. Grandes danos devidos a inimiga loura.

• Loura falsa.

• Mulher estranha, insípida, ciumenta. Tem valor variável, com tendência negativa.

• Mulher apaixonada. (-) relações com uma mulher pouco virtuosa.

• A amiga. Viúva, divorciada. (-) busca de novo parceiro.

• Mulher do campo, honesta, virtuosa e serviçal. Ao lado de uma figura masculina, denota fidelidade a pessoa representada por esta figura. Junto a outra senhora, representa alguém que se interessa pela pessoa que consulta. Símbolo de um nascimento em posição elevada ou da proteção de uma senhora da alta sociedade. Este Arcano diz: “O seu futuro depende do poder de uma mulher; se você souber procurá-la, por intermédio dela, chegará ao poder.”

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 7 – Serpente. É a indicação para defender o espaço pessoal e aprender que a falsidade, a inveja e as desarmonias que negativamente projetamos ou das quais somos alvo (Serpente) resultam da falta de autoconfiança e autoestima, da insegurança ante os desafios da vida. Só crescemos quando adotamos um elevado padrão ético e moral e nos conscientizamos dos nossos valores e talentos reais (Rainha de Paus).   [G. Spacassassi – Resumos]

Rainha de Ouros

Significados gerais

O trabalho intuitivo que deve preceder qualquer construção, qualquer troca, a fim de que sejam realizadas do melhor modo possível.

Mental: Certeza de sucesso nas pesquisas, principalmente nos assuntos práticos e estruturais.

Anímico: conforto, afeição sólida, poderosa, radiante.

Físico: Físico: Saúde boa; no caso de doença, certeza de recuperação. Negócios bem equilibrados, conduzidos de modo prático e racional.

• (–) embaraços, confusão, dificuldades para se livrar de situações difíceis.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Boa mulher que ama o consulente e que está satisfeita com ele.
(-) desconfiar de uma amiga morena.

• Amiga morena.

• Mulher casada ou viúva. Amiga fiel, Amante. Para uma mulher: rival; para um homem: casamento.

• Chegada de uma mulher da família com quem não se vive.
(-) uma mulher se opõe.

• A mãe. Honrada e amorosa. (-) superprotetora e superficial

• Moça loura. Opulência, riqueza, luxo, segurança, liberdade. Significa, para um homem, casamento rico e feliz, fortuna pela proteção de senhoras influentes.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 22 – Caminhos. É o momento para usar o livre-arbítrio: fazer escolhas, tomar decisões responsáveis e ser persistente (Caminhos), para que seja possível enfrentarmos a força instintiva que nos incita à busca do prazer sem limites. Essa força, quando bem canalizada, gera a abundância e a prosperidade que merecemos (Rainha de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Rainha de Espadas

Significados gerais

Escutar a intuição antes de agir; despertar através da concentração experiências sobre as questões que devem ser enfrentadas.

Mental: julgamento baseado na intuição.

Anímico: proteção dos sentimentos pela percepção íntima de suas possíveis conseqüências.

Físico: Físico: sem muita ação no plano material; sua força está mais no planejamento que na ação. No caso da saúde, pode indicar médicos ou remédios pouco eficazes.

• (–) injustiças, calúnias.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Viúva triste e atormentada. (+) deseja um novo parceiro.

• Viúva triste, morena e invejosa.

• Mulher má, ciumenta e rancorosa. Desfavorável.

• Viuvez, divórcio, separação. (-) mulher má.

• A mulher. Caluniadora. Causa danos

• Viuvez, pobreza, privação, falta. Mulher triste e embaraçada nos seus negócios ou viúva. Se for uma moça que consulta, será traída por aquele a quem ama. Grandes lutas por causa de mulheres, ódios femininos, perigos por ciúmes de mulheres.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 9 – Buquê. Representa o convite para ampliar o relacionamento social e entender que as relações harmoniosas, a generosidade e a cooperação  entre as pessoas geram oportunidades para todos os envolvidos (Buquê). Quando essas oportunidades são racionalmente percebidas e canalizadas, muito contribuem para o aperfeiçoamento tecnológico e o avanço da sociedade do qual devemos participar (Rainha de Espadas).  [G. Spacassassi – Resumos]

 

Rainha de Copas

Significados gerais

Sentimentos de altruísmo que o ser humano tem no fundo de si, mas que só pode manifestar atráves do esforço cotidiano de dedicação e afeição.

Mental: transcendência. Relacão com forças universais, com grandes inteligências.

Anímico: amor universal, o altruísmo superior.

Físico: domínio, sucesso. Assunto sentimental que se realiza plenamente. Saúde perfeita.

• (–) obscurecimento, alucinação. Necessidade de ajuda (do Valete ou do Cavaleiro de Espadas)

Interpretações usuais na Cartomancia

• Mulher virtuosa de quem se podem esperar favores.
(-) esperanças retardadas.

• Mulher loura serviçal.

• Amiga afetuosa. Presságios em geral alegres. (-) rival das mulheres e amante dos homens.

• Mulher desejável. Amizade com uma mulher.

• A irmã. Amorosa e tranqüila. (-) renitente ao matrimônio.

• Casamento rico e feliz para um homem. Em geral indica amizade de senhoras de posição.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 17 – Cegonhas. É o momento para entender que as mudanças, as viagens e os imprevistos da vida, tais como morte, gravidez e a quebra de rotinas (Cegonhas), nos obrigam a mergulhar fundo em nosso próprio ser, na busca das causas reais da existência, para encarar nossos medos, limitações e desejos ocultos, bem como a nossa capacidade de lidar com as questões de poder, controle e sexualidade (Rainha de Copas).  [G. Spacassassi – Resumos]

Os Cavaleiros

A figura do cavaleiro talvez seja a mais rica quanto às possibilidades de relatos históricos, visto responder a um simbolismo relacionado ao ritual das ordens de cavalaria.

Neste sentido, é notável a coincidência entre o período de formação do Tarô e a histórica e lendária Ordem dos Templários, fundada sob os muros de Jerusalém, em 1118, e aniquilada pela aliança entre o papa Clemente V e o rei francês Filipe, o Belo, entre 1307 e 1314.

O caráter esotérico dos Templários, seus ritos, seus contatos comprovados com os sobreviventes orientais da gnosis alexandrina, e seu fim espetacular devem ter influído na visão que os gravuristas — Les imagiers du Moyen Age — projetaram nas cartas da corte.

A terrível conclamação de Jacques de Molay*, na fogueira do suplício foi amplamente comentada entre os iniciados medievais e não é impossível que a sombra dos cavaleiros brancos tenha dado origem a esse personagem que rompe o simbolismo trinitário e familiar das figuras do Tarô.

  Nota histórica: Jacques de Molay, Grande Mestre do Templo, foi queimado vivo em Paris, na manhã de 18 de março de 1314. No patíbulo, negou publicamente todas as acusações contra a Ordem dos Templários e convocou seus carrascos a comparecerem naquele mesmo ano ante o tribunal de Deus. Clemente V morreu em 20 de abril, apenas transcorrido um mês, e Filipe pouco mais tarde, a 29 de novembro de 1314.

Num sentido geral,  podemos afirmar que o símbolo do cavalo está relacionado ao papel de intermediário entre o mundo inferior ou terrestre e o mundo do espírito ou logos, representado pelo cavaleiro, aquele que buscou e encontrou o caminho de prevalecer sobre a matéria.

Esta figura encontrará sua explicitação nos arcanos maiores 6. Os Enamorados e 7. O Carroe, no aspecto iniciático, corresponde ao período dos trabalhos e dos esforços concretos para a realização. Psicologicamente, refere-se aos estados intermediários ou de transmutação, presentes também na fase transformadora da Grande Obra alquímica

Três dos cavalos do Tarô são mais ou menos idênticos, de cor carne e com cascos azuis, mas o de paus é branco e seu corpo está coberto por uma manta.

Somente um o Cavaleiro de Espadas traz armadura e elmo. Dois deles — o Cavaleiro de Paus e o de Ouros — estão com chapéu. O Cavaleiro de Copas é o único que se apresenta com a cabeça descoberta. Os quatro são jovens e sem barba, e levam a marca da sua série: os de copas e ouros na mão direita, e os outros dois na esquerda. Três dos cavalos andam da direita para a esquerda, mas o de ouros caminha na direção oposta.

Cavaleiro de Paus

Significados gerais

Dinamismo unificador, poder de atuar. Transmissor de vida e atividade. Os fatos imediatos e transformadores, clima e disposição dos acontecimentos. Incubação de energias materiais e de ação colocadas à disposição do ser humano.
Executivo, filho mais velho, namorado.

Mental: atividade inteligente e intuitiva para lidar com questões práticas, ação e realizações felizes.

Anímico: amizades, afetos, associações. Atividade protetora.

Físico: realização harmoniosa. Sucesso em negócios.
Saúde: restabelecimento, renovação de vida.

• (–) atrasos, resistências.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Partida. Uma viagem. Avanço para o desconhecido. Arrojo. Mudança de residência.

• Discórdia. Interrupção. Mudança inesperada. Desentendimento. Rompimento de relações pessoais. Descontinuidade.

• O protetor. A liberdade em perigo. (-): Perigo de traições.

• Partida, mudança, fuga, dissensão, separação, abandono. Indicador dos altos empregos secundários, da luta para conquistar uma posição, do poder adquirido pelas lutas. Este Arcano diz: “Age e trabalha; o futuro é um campo que é preciso cultivar. Tanto no bem como no mal, todo trabalho produz frutos.”

Cavaleiro de Ouros

Significados gerais

Condução calma das energias práticas e mentais para construir uma obra sólida e durável.

Mental: inteligência para construir na matéria; resolução de problemas geométrico e arquitetônicos.

Anímico: sentimentos afetivos, calmos, estáveis, progressivos.

Físico: orientação segura para resolver problemas nos negócios e nos empreendimentos. Saúde boa. Cura assegurada.

• (–) impedimentos na ação

Interpretações usuais na Cartomancia

• Pessoa amadurecida e responsável. Digna de confiança. Metódica, paciente. Persistente, tem capacidade de levar uma tarefa a bom termo. Organizada, capaz, digna de confiança.

• Estagnação, descuido, inércia. Falta de determinação ou de orientação. Mentalidade tacanha. Limitado por opiniões dogmáticas. Preguiça.

• O marido. Namorado. (-) embusteiro.

• Chegada inesperada, visita, vantagem, ganho, lucro, interesse, paz, tranqüilidade. Êxito, porém com grandes lutas, conquista de fortuna, apesar de todos os obstáculos. Paz e tranqüilidade final.

Cavaleiro de Espadas

Significados gerais

Comando rápido; prontidão diante de acontecimentos inesperados e dos imprevistos do destino.

Mental: clareza nos projetos, solução dos imprevistos, percepção dos múltiplos aspectos envolvidos numa situação ou projeto.

Anímico: intercâmbio, contribuições rápidas e vibrantes.

Físico: realização imprevista, que nada deixa antever.

• (–) embaraços, aborrecimentos, acontecimentos inesperados, reviravoltas nos negócios e nos empreendimentos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Bravura, perícia. Força e ímpeto de um homem jovem. Ação heróica. Investida impetuosa para o desconhecido, sem temor.

• Antagonismo, guerra.

• O inimigo. Notícia destorcida. Más notícias. Incapacidade, imprudência.

• Ataque, agressão, crítica, sátira, zombaria, calúnia, difamação, oposição, resistência. Perigo pelo fogo ou por inimigos ocultos, lutas com pessoas de posição. Aptidão para a carreira militar, porém perigo de morte nesta profissão.

Cavaleiro de Copas

Significados gerais

O elemento sensível e afetivo do ser humano, capaz de impulso generoso e de devoção.

Mental: ideias fecundas, inspiração, intuições espontâneas, acuidade, dom de pressentir.

Anímico: florescimento de dons artísticos. Ânimo para a realização dos ideais.

Físico: casamentos felizes, bem combinados.
Ótima saúde.

• (–) atrasos e embaraços

Interpretações usuais na Cartomancia

• Convite ou uma oportunidade em breve. Boa notícia. Chegada, aproximação, progresso. Atração, estímulo. Encanto, sedução.

• Armadilha, falsidade. Fraude. Pessoa hipócrita e astuta. Escândalo, ciúme e rejeição.

• O filho. Alegre e vivaz. (-) ciumento e rejeitado.

• Chegada, acolhimento, viagem, proposta, convite, aproximação. Rivalidade no amor, lutas por causa de uma mulher; casamento atrasado, adultério perigoso.

Seu simbolismo básico é o de filho, num sentido estático, e de mensageiro ou peregrino, num sentido dinâmico. É o que soluciona os conflitos emanados das outras três figuras e, por contraposição, o grau inicial da via iniciática. Nesta acepção – e também por sua riqueza potencial – pode ser relacionado aos arcanos maiores como o 1. O Mago, 12. O Pendurado e 22. O Louco.

O Valete (ou Pajem), como o próprio nome sugere, pode ser entendido como o ajudante, aquele que presta serviços pessoais. Esse nome vem do francês valet (séc. XII: vaslet, varlet), e significa “jovem proveniente de uma casa da nobreza, ainda não armado cavaleiro, que executava vários trabalhos, em geral funções de pajem ou de escudeiro a serviço de um senhor”.   [Dic. Houaiss]

Dois dos valetes do Tarô clássico (copas e paus) estão em atitude de marcha: um deles para a esquerda, e o outro para a direita. Os dois outros permanecem de pé, de frente, e com as pernas separadas. Trazem os atributos das suas séries: chapéu (espadas e ouros) e gorro (paus).

O Valete de Copas tem a cabeça descoberta, e um barrete amarelo na mão esquerda: a taça que leva na direita está meio coberta por uma dobra do manto, o que lhe dá um aspecto de cálice consagrado.

 

Valete de Paus

Significados gerais

Fruto, produto, acabamento. Mensageiro, ajudante, servidor. Ofertas e oportunidades que vêm de fora. Coisas em potencial, ainda sem força suficiente para se concretizar.

Filho mais novo, o jovem, o dependente.

Fermentação das energias materiais de que o ser humano dispõe e que sempre o incentivam a agir.

Mental: coisas levadas ao ponto de realização, prontas para serem utilizadas. Planejamento de algo que dará certo.

Anímico: união próxima que prepara sua manifestação, sua realização física.

Físico: atividade próxima. Saúde recuperada. Encaminhamento de algum

  negócio que está sendo preparado e passará do projeto à concretização.

• (-) atraso, confusão em projetos recentes.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Casamento. (-) oposição dos pais à esperada união.

• Amante.

• Filho fiel. Amigo favorável.

• Tentativa de unir. (-) intenção de desunir.

• O parente. (-) fracasso, prisão, desgraça. O mesmo, embora atenuado.

• É o enviado, o empregado; comunicação, aviso, advertência. Um namorado, um jovem que procura uma moça. Ao lado de uma senhora, anuncia êxito. Ao lado de uma figura masculina, indica que alguém falará por ele. (-): obstáculo e oposição dos pais do moço ao casamento. É o símbolo da ruína por empreendimentos infrutíferos e combinações errôneas. Profissões inferiores. Mau emprego das faculdades. Este Arcano diz: “Seus trabalhos são infrutíferos; jamais colherá os frutos e a miséria o alcançará, se não abandona os seus vãos projetos. Desconfia dos interesses egoístas e das paixões dos que orodeiam, se não quiser cair na servidão”.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 11 – Chicotes. Significa que podemos confiar em nossa força espiritual e intuição; utilizar nossa autoridade para restabelecer a harmonia, principalmente no lar, quando surgem discórdias (Chicotes); e buscar novas alternativas, quebrando rotinas com jovialidade e otimismo, de acordo com a lei (Valete de Paus).  [G. Spacassassi – Resumos]

Valete de Ouros

   Significados gerais
Anúncio de realizações dos projetos, concebidos em harmonia com o Alto e o baixo.
Avaliação dos recursos disponíveis para a execução dos projetos.

Mental: inteligência realizadora, escolha acertada dos meios necessários a um empreendimento.

Anímico: escolha dos meios para realizar os objetivos.

Físico: equilíbrio nos negócios e na saúde.

• (–) falta de conexão, ação improdutiva.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Mensageiro de más notícias. Guerreiro perigoso.

• Soldado ou civil jovem, louro, será perverso.

• Jovem estrangeiro, interesseiro e adulador.

• Homem serviçal. Nenhuma ajuda.

• O irmão. Fortuna. (-): inconseqüência.

• Moço louro, mensagem, notícia, trabalho, ocupações, generosidade, aplicação. Atividade nas ocupações profissionais e notícias favoráveis sobre assuntos monetários.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 10 – Foice. Somos chamados a fazer cortes e aprender que todo processo de transformação e mudança exige ajustes para restabelecer o equilíbrio necessário (Foice). Ao mesmo tempo, podemos enfrentar o trabalho duro e rotineiro de forma saudável, sem esmorecer ou perder a alegria de viver (Valete de Ouros).  [G. Spacassassi – Resumos]

Valete de Espadas

   Significados gerais

  Planejamento.
Elaboração mental do ser humano quando se dispõe a agir.
Reunião das informações necessárias para os planos futuros.

Mental: acontecimentos em marcha, que estão próximos.

Anímico: isenção e impessoalidade.

Físico: distanciamento das questões materiais.

• (–) obstruções, impotência, incapacidade de organizar os pensamentos.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Homem jovem e moreno; negativo. Traição da sua parte.

• Homem jovem e moreno, triste.

• Moço avarento, cruel e orgulhoso. Traidor.

• Dificuldades com um homem uniformizado. Necessidades.

• O credor. Viagem. (-) viagem fracassada.

• Espião, vigilante, observador; traição, cálculo, exame. Perigo de morte pública, grande perigo por inimigos ocultos e mesquinhos.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta 13 – Criança. O caminho é o de se livrar de todo tipo de prevenções e preconceitos, e passar a encarar a vida com alegria e otimismo, sempre aberto para o novo (Criança). Isso implica em manter a mente receptiva e flexível; desenvolver a capacidade de comunicação, através do estudo e da pesquisa (Valete de Espadas).  [G. Spacassassi – Resumos]

Valete de Copas

   Significados gerais
Recurso espiritual, feliz, que alcança o ser humano quando sua evolução psíquica é acompanhada pela oferenda da alma.

Mental: conforto nos pensamentos espirituais, nos projetos. Extinção da dúvida

Anímico: reconforto nas esperanças, reanimação. Chegada de apoio afetivo.

Físico: desligamento de casos sentimentais, libertação da tristeza. Saúde: esperança de cura de uma doença grave.

• (–) abatimento, pobreza psíquica, sensação de abandono.

Interpretações usuais na Cartomancia

• Homem jovem ou uniformizado procura ser útil. Inconvenientes para que esta ajuda se concretize.

• Homem jovem e louro é favorável ao consulente.

• Jovem de bons sentimentos. Para uma moça: seu pretendente.

• Elogios que não serão aproveitados. Traição.

• O devedor. Alegria, surpresa. (-) ligeira inquietação.

• Representa um rapaz louro e esperto. Denota estudo, trabalho, reflexão, observação; jovem serviçal ou militar que deve aparecer dentro de poucos dias e que estará muito relacionado ao consulente. (-) amores infelizes, traição por falsos amigos, grandes contrariedades nas afeições, casamento infeliz.

No Baralho Lenormand e Baralho Cigano:

Carta Coração. Oportunidade para entender que a paixão, a entrega, as atitudes loucas e impensadas, bem como o carinho e a proteção que tanto buscamos, seja em relação a uma pessoa ou uma causa (Coração), são apenas uma faceta, geralmente efêmera, do Amor Maior, altruísta e infinito, que governa o Universo. Ele exige entrega, doação e comprometimento, mas confere alegria e plenitude (Valete de Copas).  [G. Spacassassi – Resumos]

As 40 cartas numeradas dos Arcanos Menores

Dispomos de duas ordens de informações básicas para compreender as 40 cartas numeradas dos arcanos menores, as mesmas do baralho comum:

• os quatro elementos, que dão conta das qualidades de cada naipe, e

• os símbolos numéricos, que traduzem os atributos de cada uma das cartas numeradas de 1 a 10.

Os ases de cada um dos quatro naipes no Tarô de Marselha

Em princípio, bastaria combinar os significados dos quatro elementos com os dos números de 1 a 10 para obtermos um bom ponto de partida para traduzir as 40 cartas numeradas do Tarô.

Na prática, o repertório de significados para as cartas de 1 a 10 é bastante contraditório, variando de escola para escola, de autor para autor. Dificilmente o iniciante conseguirá atravessar esse cenário relativamente confuso sem ajuda de alguém com experiência. Só o tempo e o contato com os diferente estilos permitirá que cada um encontre sua praia.

Roteiro das 40 cartas numeradas dos Arcanos Menores

As 40 cartas numeradas dos Arcanos Menores são apresentadas em 5 seções.
No final de cada uma delas são indicados textos de diversos autores sobre o tema.

  • O Números: apresenta um resumo simbólico para iniciantes e oferece links para estudos de aprofundamento: Símbolos numéricos

  • Paus: As cartas numeradas do Ás ao Dez no naipe de Paus

  • Ouros: As cartas numeradas do Ás ao Dez no naipe de Ouros

  • Espadas: As cartas numeradas do Ás ao Dez no naipe de Espadas

  • Copas: As cartas numeradas do Ás ao Dez no naipe de Copas

  • Estágios evolutivos, G. O. Mebes. Uma seqüência dos naipes dos Arcanos Menores como modelo de etapas de desenvolvimento : Estágios evolutivos

Fontes consultadas para os textos de Introdução

  As interpretações que apresentamos nas sessões seguintes, sobre os símbolos numéricos – Os números – e as dez cartas de cada naipe – Paus | Ouros | Espadas | Copas – não são necessariamente coerentes entre si, mas têm o objetivo de registrar o contraditório painel que aparece nos livros e revistas sobre as cartas.

  Nesses receituários são muito comuns os critérios de “cartas boas” e “cartas más”, fortuna e infortúnios, dos quais é necessário guardar uma distância crítica. Mas é instrutivo estudar também essas fontes populares; basta apenas não tomar as coisas ao pé da letra.

  Aqui, os dados sobre as cartas de cada naipe, estão divididos em duas partes:

  • Significados gerais, de acordo com Paul Marteau, em O Tarô de Marselha, tradição e simbolismo; com indicações de significados nos planos Mental, Anímico e Físico, bem como o sentido negativo.

  • Interpretações usuais na cartomancia, com:

  – indicações de Arthur Edward Waite em The Pictorial Kay to the Tarot

  – e, na última linha, compilação de fontes populares da cartomancia.

  Para conhecer as demais fontes veja: Bibliografia

  • Para ajudar a compreender de modo mais amplo os símbolos das cartas, na seção de Simbologia  existem vários estudos que examinam as relações do Tarô com outras linguagens simbólicas, em especial nos tópicos AstrologiaNumerologia e Cabala.

Os símbolos numéricos de 1 a 10

“Tudo está disposto conforme o Número”, afirmou Pitágoras há vinte e cinco séculos. O próprio Platão não fez mais que divulgar a definição do mestre, em fragmentos que se tornariam célebres: “O número é o próprio conhecimento” e “todos os elementos receberam de Deus suas formas por ação das Idéias e dos Números”.

O pensamento pitagórico prefigurou não só a matemática dos dois milênios posteriores, mas também a teoria dos conjuntos e a axiomática. Nicômaco, no século I, relatava que a teoria dos números estava dividida em duas disciplinas, “a primeira, a Aritmologia (Mística do Número), metafísica, que se ocupa do Número Puro; a segunda, a Aritmética propriamente dita, que trata do número científico abstrato, segundo um método silogístico rigoroso”. Esta última admitia ainda uma subdivisão, visto que originava “uma terceira ciência, ou melhor, uma técnica (a que hoje chamamos aritmética) relegada a um grau inferior, o Cálculo propriamente dito com números concretos”, segundo Ghyka.

Um comentário sobre o Carmides de Platão especifica: “A logística (o cálculo) é a teoria que se ocupa dos objetos enumeráveis e não dos(verdadeiros) números”.

A secção áurea

Os gnósticos, durante a infância do cristianismo, e posteriormente os cabalistas,  os alquimistas,  os românticos alemães do século XIX, a corrente junguiana da psicologia contemporânea, retomarão ao longo dos séculos, constantemente, esta idéia qualitativa dos números. Dessas fontes e por esse processo, formou-se uma vasta simbologia do número. “Onde há dois elementos – diz Juan-Eduardo Cirlot – o terceiro aparece sob a forma da união desses dois e então como três, dá lugar ao quarto como conexão dos três, e assim sucessivamente.”

Significados simbólico-divinatórios

    Apresentamos, abaixo, resumos simbólico-divinatórios que podem ser aplicados aos dez números que encontramos nas cartas numeradas do Tarô.

Um

Princípio da fecundação. Luz. Calor. O que é. O ser antes de circunscrever-se a uma aparência.

Principio ativo que se fragmenta para originar a multiplicidade e se identifica com o centro, com o ponto irradiador e a potência suprema.

Diz respeito ao estado paradisíaco anterior ao bem e ao mal (e, em conseqüência, ao estado prévio a todo dualismo).

Guénon distingue o um e a unidade – seguindo a tradição islâmica – sendo a unidade um reino absoluto e fechado em si mesmo, que não

admite a passagem à dualidade.

Esta imagem poderia relacionar-se talvez com o Apsu caldeu (o abismo sem fundo anterior à criação) ou o deus mais antigo que Deus, condenado ao vazio eterno por negar-se às fadigas e aos riscos da criação, passagem da unidade geradora à dualidade que estabelece a presença do outro).

Dois

Binário. Androginia. Conflito original. Choque dos opostos. Casal sem descendência. Em seu aspecto negativo é o símbolo da queda e da noite.

Eco, reflexo, conflito, contraposição. Imobilidade momentânea que se produz quando as forças opostas são iguais (equilíbrio na ação). Ligação do imortal ao mortal, do invariável ao variável. Número da sexualização.

É por vezes considerado difícil, porque inaugura o dualismo (ou seja, a separação  da  unidade),  embora  só  de  modo  transitório, e representa uma etapa desafiadora do caminho iniciático.

Equilíbrio em tensão, experiência da divisão: problema, necessidade de análise, de partição, de decomposição interior ou luta contra alguém.

Atribui-se a Moderato de Cádiz, matemático espanhol, esta certeza velada: “O um a idéia de identidade, de unidade, de acordo e simpatia no Mundo; o dois a idéia do ‘outro’, a discriminação e a desigualdade.”

Três

Trindade. Ordem do ternário. Resolução harmoniosa do conflito da queda. Incorporação do espírito ao binário. No ambito do casal representa o filho.

Síntese espiritual. Fórmula de cada um dos mundos criados. Refere-se ao número de princípios e expressa o suficiente, o desenvolvimento da unidade em seu próprio interior. Número da idéia do Céu.

Síntese biológica (o indivíduo com seu pai e sua mãe; com sua mulher e seu filho; com seu pai e seu filho).

Representa a totalidade  harmoniosa  do  homem,  de acordo com a teoria esotérica da composição trinitária (espírito –> alma ou psique –> corpo).

Quatro

Quaternário. A dualidade binária levada ao mundo e ao acontecer, mas com signo invertido (agora positivo) pela passagem pelo três.

Organização racional. Realizações tangíveis. Ordem terrestre (as estações, os pontos cardeais, etc.).

A dupla partição (dois e dois) já não significa separar, como no número 2, mas ordenar o separado.

Refere-se ao Nome de Deus (Tetragrammaton) e, com ele, a toda organização diferenciada e apta a receber nome (identidade).

Cinco

Número da virilidade e do amor. Harmonia do corpo (cabeça e extremidades; sexo; os dedos da mão com o polegar oposto).

Erotismo, saúde. Número da primavera.

A quintessência atuando sobre a matéria. Os quatro pontos cardeais e seu centro. União do Céu (três) e da Terra (dois). Princípio da simetria pentagonal, freqüente na natureza orgânica. Secção áurea, proporção divina.

Os cinco sentidos, as formas sensíveis da matéria. Caracteriza a pleni-

tude orgânica da vida, em oposição à rigidez da morte.

Pêntada, ou metade exata de Década pitagórica. Emblema do Microcosmo. Amor, como princípio da fecundidade e da geração.

Seis

Símbolo dialético da conduta humana (ação impulsiva + tendência ao equilíbrio). Número da prova e do esforço (sexto dia da Criação). Pórtico, passagem.

Por seu caráter de reunião, número do hermafrodita.

Ambigüidade. Era o número sexual por excelência em certas comunidades pitagóricas (provavelmente por ser produto da dupla multiplicação que se pode fazer entre o primeiro número feminino [dois] e o primeiro masculino (três) : 2 x 3 = 6).

Sete

Soma da ordem espiritual ou mental com a terrena (ou da comunicação com o exterior).

Símbolo do céu (as notas da escala, as cores, os planetas).

Número da virgindade. Relaciona-se também à dor.

Reúne as ordens do ternário e do quaternário, por propor uma leitura simbólica quase interminável.

É talvez o que possua a maior variedade de representações (número

dos dias da semana, das notas musicais, das virtudes e dos pecados capitais, dos períodos de calamidades) e não parece casual que ocupe um lugar de exceção no baralho (Sete de Ouros).

Por ser o número primo mais elevado da dezena, é considerado símbolo de um conflito irredutível, de um complexo insolúvel. Este mesmo caráter de indivisibilidade o associa à virgindade: “Enquanto é fácil dividir um círculo em três ou quatro partes iguais – diz Ghyka –, é quase impossível dividi-lo em sete por uma construção euclidiana rigorosa. Isto foi demonstrado por Gauss somente no começo do século passado.”

Oito

Regeneração. Expectativa. Ultima etapa. Número da reflexão e do silêncio.

Octógono, ou forma intermediária entre o quadrado (ordem terrestre) e o círculo (ordem da eternidade).

Por ser símbolo da religação, foi na Idade Média o número emblemático das pias batismais.

O numeral 8, na horizontal  , é signo matemático do Infinito.

Nove

Triângulo do ternário. Imagem dinâmica dos três mundos (corporal, intelectual ou psíquico, espiritual). Princípio da harmonia. Número da verdade.

Limite da série antes de seu retomo à unidade. Multiplicado, se reproduz sempre a si mesmo (9 x 1 = 9; 9 x 2 = 18 –> 1 + 8 = 9; 9 x 3 = 27 –> 2 + 7 = 9…), tanto que os cabalistas se referem, com ele, à evidência da verdade que não se pode ignorar. Preside aos ritos medicinais.

Como  quadrado  do 3,  representa a comunhão do pensador com oseu pensamento e com a coisa pensada.

Dez

Reunião do Ser e do Não-Ser, do nada e da unidade no momento da maturidade. Força e equilíbrio. O casal na sua plenitude criadora. Superação da androginia na fusão.

A década se relaciona com a tétrade (1 + 2 + 3 + 4 = 10), e nesse sentido é a realização e o cumprimento da ordem terrena. Simboliza o fim de um ciclo e o começo de outro. Também a totalidade do universo, pois eleva todas as coisas à unidade.

Nicômaco de Gerasa o chamou “medida para o todo, como um esquadro e uma corda nas mãos do Ordenador”, e os pitagóricos em geral o consideram o mais perfeito dos números.

Por conter o um e o zero, é a resolução harmoniosa dos opostos. Em sua representação gráfica, é o signo da cópula (10 = 1, pênis + 0, vagina).

Sugestões aos iniciantes no estudo do Tarô

Para estudar os símbolos do tarô basta simplesmente ter interesse e reservar um tempo para leitura, tal como acontece em relação a qualquer outra área de conhecimento. Dispomos para isso de muitos livros publicados e de inúmeras linhas de abordagem divulgadas pela Internet.

O volume de informações é grande e uma questão inicial aparece: “por onde começar?” Se estivéssemos buscando por símbolos arquitetônicos, dependendo do grau de profundidade desejado, poderíamos recorrer às escolas de arquitetura, aos tratados técnicos e aos especialistas nessa área. Já no caso de artes informais, entre as quais se encontra o jogo de baralho, o cenário pode se mostrar disperso e contraditório.

Dificuldades iniciais

Quando se trata da astrologia e do tarô, que compreendem conhecimentos não organizados em padrões acadêmicos ou universitários, e cuja aplicação profissional não está sujeita a regulamentação oficial, a situação pode se mostrar embaralhada para quem deseja iniciar seus estudos. A vantagem da astrologia é a de se tratar de um conhecimento milenar que se mantém vivo até hoje, respaldado por incontável lista de sábios que registraram seus conhecimentos sobre essa arte-ciência. Embora a astrologia também seja utilizada de modo simplista em revistas e publicações populares, existem escolas respeitadas para transmitir o saber disponível.

Tarô e Astrologia – diferentes fundamentos simbólicos

Já o tarô está longe do respaldo existente na astrologia, pois se trata de um jogo recreativo, sem tradição milenar e que apenas nos últimos dois séculos e meio passou a ser valorizado simbolicamente. Além disso, nos deparamos com uma mistura confusa de inúmeras linhas de abordagem das cartas, sem contar os aproveitadores da crendice popular que inventam de tudo para chamar atenção e que se passam por magos ou videntes.

Os primeiros passos

O que acabo de comentar não impede de encontrarmos estratégias simples para iniciar o estudo das cartas do tarô. Vejamos quatro indicações básicas.

1º – escolher um bom manual

Se o interesse de estudo for simples e direto — conhecer os significados das cartas para aplicar em tiragens e leituras — existem bons manuais de autores estrangeiros e brasileiros, como podem ser vistos na seção Livros & Autores. Entre eles destaco o Manual do Tarô de Hajo Banzhaf.

Se o interesse for pelo o conhecimento simbólico em profundidade, tenho em alta conta dois livros: Jung e o Tarô de Sallie Nichols e Meditações sobre os Arcanos Maiores do Tarô de Valentin Tomberg. Essas obras dispõem de material suficiente para meses e meses de reflexão e de intercâmbio entre companheiros de estudo.

É bom lembrar que o Clube do Tarô tem muito material para estudo, com acesso pelo Menu: | O Tarô | Baralhos & Galerias | Arcanos Maiores | Arcanos Menores | Aplicações-Tiragens. Nesse sentido o site constitui uma verdadeira biblioteca, com diferentes níveis de textos, que partem de artigos básicos com links para estudos de aprofundamento, sob vários pontos de vista, apresentados pelos diferentes colaboradores.

2º – aprender com quem sabe

Seja estudando manuais ou destrinchando o conteúdo do Clube do Tarô, daremos conta apenas das informações e significados. Já para a prática e para desenvolver o pensamento simbólico será sempre importante o contato direto com quem tem experiência. Ou seja, estude tudo o que puder em livros ou no site e, quando tiver oportunidade ou chegar o momento, procure tarólogos com prática para dar o segundo passo.

Como acontece com todas as habilidades humanas, desde cozinhar para a família até aplicar alguma técnica terapêutica, existem qualidades que ganham vida apenas pela transmissão direta daqueles que sabem realmente. É indispensável praticar sob a orientação de quem tem conhecimento e experiência acumulada.

Educação: pesquisa-intuição e reverência-inspiração

Vitral de Louis C. Tiffany na Universidade de Yale – Estados Unidos

Para reforçar o significado da transmissão direta, podemos lembrar que no aprendizado tradicional da cartomancia, nada existe de formal ou apoiado em livros. As parteiras ou benzedeiras, as avós ou tias, ensinavam sua arte diretamente àqueles que estavam próximos e tinham assiduidade de contato. É pela convivência com as boas almas que a atitude correta de ajuda ao próximo e o cuidado na expressão ganham vida e se tornam esteios valiosos para a utilização das cartas do baralho.

3º – praticar com leveza

Uma atitude que pode ajudar muito o iniciante é praticar a utilização das cartas de modo despretensioso, como um verdadeiro aprendiz. O que mais atrapalha é ser engolido pela obrigação de virar adivinho, de surpreender as pessoas com revelações do outro mundo.

Um recurso que dá ótimos resultados e permite ganhar segurança crescente consiste em fazer leituras para amigos, colegas e conhecidos próximos. O clima se torna mais leve e estimula o estudo, permitindo-nos inclusive rever durante as jogadas o que dizem os manuais sobre o significado das cartas. “Pesquise o que desconhece e cuide para não cair na tentação de se fazer de doutor”, dizia um velho mestre.

Tudo ficará mais fácil se o iniciante substituir a pressão de adivinhar pela disposição de estudar, de validar na prática o que está sendo mostrado pela cartas. E para isso é importante ouvir o nosso interlocutor, como de fato ele vive o assunto que esta sendo tratado na tiragem. A validação do significado das cartas virá pela vida real e não pela imaginação.

4 – utilizar técnicas simples

As tiragens complexas, como “mandala astrológica”, “cruz celta”, podem aumentar os embaraços do iniciante, pois a qualidade da leitura não depende de formatos pré-estabelecidos. O rigor e o acerto são estimulados quando o próprio leitor estabelece previamente a função de cada carta na tiragem. Essa e outras questões técnicas estão detalhadas em Aplicações & Tiragens e no texto de apresentação do Índice de tiragens. Para ir direto às técnicas simples veja, por exemplo, Tiragem por três.

Um bom exercício, que combina diferentes caminhos, é o de sortear uma carta toda manhã para retratar como será o transcurso do dia. No final do período, avaliamos como se passaram as coisas na realidade e comparamos com a carta. Esse exercício poderá ser muito revelador e ganhar força com a repetição. As conclusões obtidas em cada experiência também poderão ser comparadas com o que dizem os manuais ou os textos disponíveis no Clube do Tarô. Tais exercícios combinam prática, vivência direta e leitura, ampliando assim os conhecimentos sobre os significados práticos e simbólicos do tarô.

Os passos seguintes

À medida que estudamos e entramos em contato com tarólogos e cartomantes experientes vão se tornando mais claras as nossas afinidades com determinados estilos de leitura, assuntos colocados, níveis de compreensão. Esse processo de estudo e observação é indispensável para definirmos de modo natural a nossa própria linha de utilização das cartas e as formas mais adequadas para as tiragens.

O cuidado mais importante que devemos tomar é não nos aprisionarmos nas dezenas de regras arbitrárias que existem por aí: “Isso não pode”, “Só pode ser assim”, “Tem que cortar com essa mão”, “Embaralhar assim”… Não passam de praxes discutíveis que nada acrescentam ao esforço de compreensão e de aplicação dos símbolos das cartas.

A seção Aplicações das Cartas e Tiragens oferece muito material para refletirmos sobre o problema dos formalismos que limitam a relação criativa com o tarô. Quem quiser ir direto ao tópico que sugere a atitude livre em relação às regras veja: Detalhes

É ótimo trocar experiências. O estudo das linguagens simbólicas mostra-se inesgotável e sempre nos encantam os segredos revelados pelo caminho.

Mais sugestões aos iniciantes

O que hoje denominamos “tarô” é na origem um simples jogo de cartas… Um jogo que pela complexidade e elaboração é comparável ao xadrez. O baralho, no entanto, tem um atributo incomparável: está entre os mais compactos e fáceis de transportar. É compreensível, portanto, que fosse o preferido dos guerreiros mamelucos que, muito provavelmente, foram os introdutores dos “naibes” ou cartas sarracenas na Europa do século 14.

A história

A origem do Tarô é incerta. As mais antigas referências sobre um certo “jogo de cartas” ou “naibes” (termo árabe) datam da segunda metade do século XIV, em registros encontrados na Europa, em especial na Itália, França e Alemanha. No séc. XV, uma grande variedade de baralhos apareceu na Itália, idênticos ao jogo das 78 cartas que hoje conhecemos.

Exemplos do naipe de Espadas nos baralhos mais antigos que restaram até hoje:
Quatro no Visconti Sforza, Cinco no Sola Busca, Seis no Mamluk e Valete no Charles VI

Cartas pintadas em meados dos anos 1400 (século XV)

As mais diversas e desencontradas hipóteses sobre a origem do Tarô foram levantadas nos últimos dois séculos. Alguns imaginaram que fosse oriundo do antigo Egito. Nada similar, contudo, foi encontrado até hoje nos sítios arqueológicos em solo egípcio. Não podemos esquecer que os chamados “tarôs egípcios” só começaram a ser desenhados e impressos no início do século 20.

Igualmente não existem tarôs que possam ser originalmente reconhecidos como “ciganos”, “celtas”, “wiccas”, “xamânicos”, “afros”, etc. Tratam-se, na verdade, reinvenções, mais ou menos coerentes, do Tarô clássico europeu. Centenas deles foram recriados nos dois últimos séculos, tanto por estudiosos sérios, como por “ocultistas” inconseqüentes, movidos por interesses meramente comerciais.

Cada estudante deve sentir-se inteiramente livre e à vontade para escolher, dentre as inúmeras alternativas encontradas nas livrarias, os desenhos que mais lhe agradem. Contudo, recomendamos àqueles que desejam desenvolver um estudo consistente, que iniciem pelo Tarô Clássico – seja o de Jean Noblet ou o de Marselha – que parecem estar mais próximos da fonte, pois já circulavam pela Europa desde o final do ciclo XV

Quanto mais estudamos o Tarô, melhor se revela seu fundamento simbólico, que pode ser aplicado em múltiplas direções. Trata-se de um jogo que incorporou indicações da antiga sabedoria que traduz as leis universais por imagens e símbolos gráficos.

O conjunto do baralho

O Tarô pode ser descrito como um conjunto simbólico, constituído de 78 lâminas, que costumam atualmente ser divididas em 3 grupos:

a. 22 Arcanos Maiores, com imagens variadas, que no Tarô de Marselha aparecem numerados de 1 a 21, sendo que um deles, o Louco, não tem número. Essa figura sem número pode ser vista como o personagem que caminha pelas 21 etapas representadas pelos demais Arcanos Maiores.

Os 22 arcanos maiores do Tarô de Marselha restaurado por Camoin e Jodorowsky.
No passado essas cartas eram denominadas trunfos.

Estas 21 cartas numeradas são livremente agrupáveis em pares, tríades, oitavas e outras… Na ilustração acima podemos considerar que o Louco percorrerá três oitavas (as três linhas) ou sete tríades (as sete colunas). Outros arranjos foram propostos e podem ser linkados no tópico Estudos clássicos do conjunto

b. 40 cartas numeradas de 1 a 10, em quatro séries ou naipes. Essas quatro sequências podem ser colocadas em paralelo aos quatro elementos da astrologia e de outras linguagens simbólicas.

Os ases de cada naipe no baralho clássico Lombardo de Carlo Dellarocca  (1810): Paus (Fogo), Ouros ou Moedas (Terra), Espadas (Ar) e Copas (Água).

Imagens obtidas no site alemão www.albideuter.com

c. 16 fiuras – o Rei, a Rainha, o Cavaleiro e o Valete – conhecidas também por “Figuras da Corte” e que, tal como acontece com as cartas numeradas, são repetidas em quatro séries ou naipes.

O quatro personagens são claramente definidos nos tarôs antigos, como nos exemplos acima:
Rei de Paus, Rainha de Copas, Cavaleiro de Espadas e Valete de Ouros.

Imagens do Tarô de Marselha restaurado por Camoin-Jodorowsky

O conjunto das lâminas numeradas e das figuras, reproduzidas em quatro naipes, no total de 56 cartas, denomina-se atualmente Arcanos Menores e constituem, na verdade, o baralho comum utilizado nos jogos recreativos e nos jogos de apostas em dinheiro.

As instruções para o uso

Livros sobre o tarô, ao que se sabe, apenas começaram a ser escritos a partir do final do século XVIII, ou seja, já decorridos mais de 400 anos em que seguramente o baralho já circulava pela Europa. Isso quer dizer que durante pelo menos quatro séculos o Tarô foi utilizado sem “Manual de Instrução”.

Nenhuma escola iniciática parece ter assumido a autoria dessa magnífica construção simbólica, que até hoje permanece anônima. Isso pode indicar, segundo alguns estudiosos, que o Tarô foi difundido intencionalmente sem regras ou diretrizes para ser acolhido como um desafio criativo. Mas também podemos considerar que o usual nos jogos tradicionais, como o xadrez e os jogo de dados, por exemplo, constituem expressões do saber vigente na época de sua criação. Essa condição nem sempre é muito fácil de ser admitida no mundo contemporâneo, em que a profusão comercial de jogos para adultos e crianças não correspondem a quaisquer inspirações simbólicas.

Diante desse quadro em que não cabem afirmações taxativas, algumas sugestões poderão ser fundamentais para evitar distorções no estudo das cartas.

Sugestão nº 1: aproxime-se do Tarô sem conceitos predefinidos e sem se deixar aprisionar pelas superstições ou imposições ritualísticas de muitos autores. A primeira razão para isso é que o baralho não surgiu como aparato mágico ou religioso, mas sim como um jogo recreativo. Outra razão para nos afastarmos dos dogmas tarológicos é que nenhum instrutor contemporâneo pode se arvorar em autoridade absoluta sobre o sentido e aplicação dos símbolos das cartas.

Muitos estudantes acabam por complicar seus estudos querendo saber qual é a forma “certa” de utilizar as cartas, quais são os ritos de embaralhar, de cortar, etc. Por analogia, contudo, é possível afirmar que não existem normas absolutas e que, tal como no baralho comum, tudo depende das regras do jogo acertadas entre os participantes. É assim que jogamos de modos diferentes a canastra, o buraco, o pif-paf, o bridge, o truco, paciências… De fato, devemos aprender a definir nossas próprias regras de utilização das lâminas, em função do que estamos procurando compreender ou praticar.

Sugestão nº 2: tome o Tarô como ferramenta simbólica com múltiplas e criativas utilidades: diagnósticos, prognósticos, aconselhamento, fonte de inspiração e de reflexão.

Uma incompreensão freqüente resulta de experiências que muitas pessoas tiveram com alguns cartomantes, adivinhos ou paranormais em que predominava o clima sombrio e as previsões fatídicas. As cartas vão muito além dos vaticínios da cartomancia e das tentativas de adivinhação factual.

Sugestão nº 3: se você tem estima pelos ritos ou orações prévias antes de uma sessão de estudo, recorra apenas ao que faz parte da sua familiaridade, da sua tradição religiosa. Não tem o menor sentido o praticante se converter a uma religião diferente, nem se submeter a gestos estranhos para utilizar as lâminas. O “Sábio Senhor do Tarô” tem se mostrado aberto e acolhedor dos gestos espontâneos e genuínos, dispensando os formalismos.

Sugestão nº 4: Evite seguir cegamente as receitas prontas indicadas nos sumários e “bulas” que acompanham a maior parte dos jogos. É importante consultar diferentes fontes. Procure aprender com quem tem experiência e trate de cultivar a sua capacidade inata de estabelecer analogias, de pensar de modo simbólico e de alcançar as fontes interiores de inspiração. Confie na experiência, nos estudos práticos que depuram o conhecimento e que separam o imaginário do verdadeiro.

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