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História das mulheres

História das mulheres

Origem: Wikipédia

Suffragettes lutando pelo seu direito de voto em 1912, Nova Iorque.

A História das mulheres é o estudo do papel que as mulheres têm desempenhado ao longo da história, e também dos métodos necessários para estudar o tema. Ela inclui o estudo da história do desenvolvimento dos direitos das mulheres pelo registro da história, a análise de mulheres individuais com significado histórico e o efeito que os eventos históricos tiveram nas mulheres. Inerente ao estudo da história das mulheres é a crença de que registros mais tradicionais minimizaram ou ignoraram as contribuições das mulheres e o efeito que os eventos históricos tiveram nas mulheres como um todo; assim, a história das mulheres é muitas vezes uma forma de revisionismo histórico, procurando confrontar ou expandir o consenso histórico tradicional.

Na perspectiva feminista, até a metade do século XX, as sociedades ocidentais concediam um tratamento favorável aos homens, mas que subjugava as mulheres, tanto no ponto de vista do direito quanto dos usos e costumes. De fato, a maioria das tradições atribui uma importância particular ao papel social da mulher no lar[1] , que deveria se consagrar às tarefas domésticas, à reprodução e à educação dos filhos. Contudo, notamos que a desobrigação da mulher de seguir esse papel feminino tradicional é recente, relacionada ao atual modelo dedesenvolvimento econômico, que estimula a produção para a família e também para o mercado.

Definições do Campo de Estudo

A História das mulheres é um campo de estudo da História que produz uma crítica à visão da história dominante, predominantemente masculina, que, criada nessas condições, reflete uma diferença social[2] .

Desde o início da escrita da história as relações entre seres humanos na sociedade são desiguais. A escrita da história, desde seu início, foi feita por homens, registrando grandes fatos historiográficos que são os grandes acontecimentos realizados pelos homens ou, caso englobe um fato realizado por uma mulher, ainda essa é, na maioria das vezes, contada por eles.

Assim, vê-se que não existiu uma história do ser humano no geral, mas sim, uma história focada em um dos gêneros[3] . A reviravolta feminista do século XX começou a contestar isso[4] , e as mulheres começaram não somente a adentrar na história como sujeito e como centros de questões particulares, bem como aumentaram, também, a sua participação na escrita da história, criando assim a categoria de estudo “mulher”[5] .

Entretanto, a própria categoria “mulher” sofreu críticas porque essa identidade única, diferenciada de “homem”, não seria suficiente para representar todas as diferenças entre as mulheres, expressar as necessidades e os mais diversos direitos da mulher, pois as elas estão inseridas em diferentes formas de opressão[6] .

Uma linha de trabalhos acadêmicos passou a incluir na narrativa da história universal a presença das mulheres levando em conta as vivências comuns, lutas e resistências[7] .

A palavra “gênero” foi utilizada por Robert Stoller em 1968 para designar uma identidade sexual que vai além da biológica [8] . No movimento feminista a palavra “gênero” era utilizada nos debates para discutir a subordinação das mulheres pelos homens[9] [10] . Para Joan Scott, “gênero é a organização social da diferença sexual”[11] .

Pré-História e História Antiga

A pré-história é caracterizada justamente pela inexistência de documentos escritos. Por isso, não se sabe ao certo o papel da mulher no período pré-histórico. O que sabe-se é que a figura feminina tinha um enorme peso nas sociedades de todo o mundo. Não eram sociedades matriarcais, e sim matricêntricas, pois a mulher não dominava, mas as sociedades eram centradas nela por causa da fertilidade.

A Estatueta de Vênus, Vênus de Brassempouy, encontrada em Brassempouy.

As civilizações antigas (Elam, Creta, Suméria, .Egito, Babilônia, Grécia, Roma, entre outras) foram amplas[12] em cultuar a mulher e a feminilidade nas figuras de diversas deusas (horas, erínias, moiras, musas). As mulheres também se destacaram no mundo clássicocomo sacerdotisas (Diotima de Mantinea, Temistocléia) sábias, filósofas, matemáticas (Hipátia de Alexandria, Theano, Damo), pitonisas(Pítia), ou na tradição lendária, como guerreiras (as amazonas).

A mulher e a família em Roma

A civilização romana prezava o casamento e a família como uma das instituições centrais da vida social e, em torno dela, foram estabelecidas as três virtudes romanas: a gravitas, que era o sentido de responsabilidade; a pietas, que configurava a obediência à autoridade; e a simplicitas, que impedia que os romanos fossem guiados pela emoção, mantendo sempre a razão. A religião e o culto aos deuses era o lastro desta instituição, cujo poder, “de vida e morte”, era exercido exclusivamente pelo pai sobre os filhos, os escravos e (em alguns casos) sobre a mulher. Este poder ou pater familias tem origem no patriarcado hebreu que pela primeira vez na históra denominou de pai ou Deus à Deusa Mãe e com isso centralizou o culto e a religião na figura masculina. Os valores cultivados na família romana levaram à valorização da mulher que a despeito de obedecer o (pater) marido, era vista como um alicerce fundamental e o trabalho doméstico como uma virtude.[13] Mais tarde, no século I a.C., a flexibilização das leis garantiu maior liberdade à mulher e maior participação na vida pública.[14]

Idade Média

Ícone bizantino deNossa Senhora do Perpétuo Socorro; a civilização bizantina venerava Maria.

Estátua da deusa egípcia Ísis amamentando Hórus (Museu do Louvre); a imagem inspirou as de Nossa Senhora com o menino Jesus, já presentes na cristandade medieval. [15]

Durante a Idade Média as mulheres tinham acesso a grande parte das profissões, assim como o direito à propriedade. Também era comum assumirem a chefia da família quando se tornavam viúvas. Há também registros de mulheres que estudaram nasuniversidades da época,[16] porém em número muito inferior aos homens. Mulheres como Hilda de Whitby, que no século VII fundou sete mosteiros e conventos, incluindo a Abadia de Whitby; a religiosa alemã Rosvita de Gandersheim, autora de dezenas de peças de teatro; e similarmente, também na Alemanha, a prolífica religiosa Hildegarda de Bingen (ou Hildegard von Bingen, na língua alemã); Ana Comnena fundou em 1083 uma escola de medicina onde lecionou por vários anos; a rainha Leonor, Duquesa da Aquitânia, exerceu relevante papel político na Inglaterra e fundou instituições religiosas e educadoras. No mundo Islâmico, entre os séculos VIII e IX conhecem a glória: religiosas, eruditas, teólogas, poetisas e juristas, rainhas.[17]

  1. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica, História (São Paulo), UNESP, vol. 24, n. 1, 2005, p.78.
  2. Ir para cima ibid.
  3. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. op. cit., p. 80
  4. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. op. cit., p. 79
  5. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. op. cit., p. 80
  6. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. op. cit., p. 82
  7. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. op. cit., p. 83
  8. Ir para cima PEDRO, Joana Maria. op. cit., p. 79
  9. Ir para cima ibid.
  10. Ir para cima NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero. Estudos feministas, 2008, p. 2
  11. Ir para cima SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria de análise histórica
  12. Ir para cima Mídia Independente, A Deusa e o Deus
  13. Ir para cima BBc, Roman Women, Idade Média, idade das “trevas”?, Uma análise sobre a historiografia das mulheres medievais
  14. Ir para cima Unb,
  15. Ir para cima BBC, ReligionIsis, for example, was seated in such a chair with the infant Horus on her lap in the same way. When Christianity was spreading across the Empire, it’s clear that it deliberately took images from the pagan world in which it lived and into which it spread and used those images. Old holy wells and shrines were turned into Christian shrines. In Egypt a shrine of Isis was deliberately and self-consciously re-created as a shrine of Mary.
  16. Ir para cima Revista História Viva, Edição especial Nº3, p. 13
  17. Ir para cima Unb

Política

A mulher medieval trabalhou e estudou, fundou conventos e mosteiros, lecionou e também governou.[1] Recebeu uma educação moral, prática (técnica) e intelectual, que lhe permitiu desempenhar um papel social de colaboradora do marido, seja na agricultura, no comércio ou na administração de um feudo. Um governo que se estendeu do âmbito privado ao público: quando morria o marido era ela quem assumia a administração do negócio. Como governantes, Branca de Castela, Anne de Beaujeu, Matilde II de Bolonha, que reina naToscana e na Emília durante meio século, institui-se protetora da Santa Sé e combateu Henrique IV, obrigando-o a ajoelhar-se diante de Gregório VII. Em todos os grandes feudos, num momento ou outro, as mulheres reinaram: entre 1160 e 1261 sete mulheres se sucederam no condado de Boulogne. Ícone medieval, Joana D´Arc, jovem chefe guerreira, conquista oito cidades em três meses e apesar de ferida continua a combater.[1]

Literatura

A escritora italiana Christine de Pizan (1364 – 1430), autora do livro A Cidade das Mulheres defende na obra que há igualdade por natureza entre os sexos, pode ser considerada uma das primeiras feministas por apresentar um discurso a favor da igualdade entre os sexos, defendendo, por exemplo, uma educação idêntica a meninas e meninos.

Referências

  1. Ir para:a b História Viva Arquivos, p. 13, Mulheres, responsáveis e liberadas

Bibliografia

  • DAVIS, Natalie. Women’s History in Transition: the European case. Feminist Studies, v.3, n3/4, 1976, p83-103.
  • DEL PRIORE, Mary. Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidades no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: José Olympio, Edunb, 1993.
  • DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo o século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984.
  • LAQUEUR, Thomas. La construcción Del sexo: cuerpo y género desde los griegos hasta Freud. Madrid: Cátedra, 1994.
  • LEITE, Miriam Moreira.(Org.) A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: antologia de textos de visitantes estrangeiros. São Paulo: HUCITEC, Fundação Nacional Pró-Memória, 1984.
  • MEAD, Margaret. Male and female: a study of the sexes in a changing world. New York: Morrow, 1949.
  • MICHEL, Andrée. O feminismo: uma abordagem histórica. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p.78.
  • NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero. Revista Estudos, v.8, n.2, p.9-41, 2000.
  • PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica.
  • PERROT, Michelle. As mulheres e a história. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
  • PERROT, Michelle. História das mulheres no Ocidente (O século XX), v.5. Porto: Afrontamento; São Paulo: Ebradil, 1995, p.68.
  • RAGO, Luzia Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar, Brasil 1890-1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
  • SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria de análise histórica.
  • SOUIHET, Rachel. Condição feminina e formas de violência: mulheres pobres e ordem urbana, 1890-1920. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.
  • STOLLER, Robert J. Sex and gender. New York: Science House, 1968.

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